O professor que junta ioga e meditação à natureza

Tomás de Mello Breyner, 29 anos, dá aulas de ioga e faz meditação no Comporta Yoga Shala, a uma hora de Lisboa. No currículo, conta também com retiros de silêncio e meditações na Índia e no México.

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Para chegar ao Comporta Yoga Shala, o “templo” de madeira de Tomás de Mello Breyner, na Herdade da Comporta, onde dá aulas de ioga e faz meditação, só mesmo a pé por um trilho de terra misturada com areia com vista para um terreno, rodeado por cercas de madeira, com cavalos a relinchar. Há quatro Verões que Tomás, 29 anos, dá estas aulas no meio da natureza, depois de já ter subido os Himalaias e ter feito meditação e retiros de silêncio na Índia e no México.

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Para chegar ao Comporta Yoga Shala, o “templo” de madeira de Tomás de Mello Breyner, na Herdade da Comporta, onde dá aulas de ioga e faz meditação, só mesmo a pé por um trilho de terra misturada com areia com vista para um terreno, rodeado por cercas de madeira, com cavalos a relinchar. Há quatro Verões que Tomás, 29 anos, dá estas aulas no meio da natureza, depois de já ter subido os Himalaias e ter feito meditação e retiros de silêncio na Índia e no México.

O carro ficou para trás, a uns bons metros de distância, junto aos estábulos da Cavalos na Areia, na Herdade da Comporta, freguesia da Torre. Seguimos, então, a pé até ao Comporta Yoga Shala. Primeiro por entre as vedações dos cavalos, depois as setas conduzem por um carreirinho demarcado até se encontrar uma porta “plantada” no meio da natureza. Por essa altura, já se avista Tomás de Mello Breyner a acenar ao longe, ao cimo das escadas, no alpendre da casa que fica de frente para os arrozais e tem as dunas que escondem a praia deserta.

O “templo sagrado”, como Tomás chama ao espaço, está rodeado por mata com densa vegetação e enormes cactos. No cimo da cabana há uma bandeira hasteada com a imagem de um sol “que significa vida”, elucida o professor de ioga com um sorriso, depois de ter recebido a Fugas com um “sejam bem-vindos”, voz serena e um caloroso abraço, o mesmo com que se despedirá ao pôr do sol, com o vento a assobiar como música de fundo. Por ali há silêncio, por vezes suspenso pelo chilrear dos pássaros. Noite dentro, diz Tomás, há outra vida, com “uma orquestra de rãs e grilos” em plena escuridão. Um ambiente que não o assusta de todo: Tomás mora aqui sozinho de Junho a Setembro.

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A cozinha fica lá fora, atrás do balcão, no alpendre, onde se pode beber sumo e chá depois de as aulas terminarem. Por aqui há uma fileira de calçado, pois só descalço se entra naquele “templo”, onde salta logo à vista o altar com “a muito importante” Shiva, “a consciência mãe”, elucida. É a deusa que lhe recorda a intensa experiência que teve em Varanasi, “a cidade dos deuses na Índia”. “Foi uma surpresa. As estradas são muito estreitas, com vacas por todo o lado, as pessoas levam os corpos para o rio e cremam-nos ali mesmo”, descreve. “Esta cidade marcou-me muito, havia um intenso cheiro”, continua, recordando que depois disso partiu para Goa de comboio “numa das viagens mais marcantes da vida”.

Tomás viajou, durante dois dias, numa carruagem de classe mais barata, “porque já não tinha dinheiro”, com pessoas “ao monte” a conviver com vacas, galinhas e mercadoria, com imenso calor, “sem ar condicionado e sem as ventoinhas a funcionar”. Quando chegou a Goa, nem queria acreditar. “Já estava muito magro, porque não conseguia comer a comida picante da Índia”, conta. Em Goa encontrou um grupo de amigos e ficou a viver numa comunidade de um português, onde trocou trabalho por alojamento numa cabana e comida. “Colocávamos óleo de caju nas estruturas de madeira das cabanas”, recorda, rodeado de objectos que lhe dizem muito, como o pau-santo de incenso ou uma guitarra que, há um ano, foi tocada por Madonna. A cantora já por ali passou e “tem uma fotografia no Instagram dela” a comprovar. As taças tibetanas, os tapetes de ioga, os búzios nos troncos da cabana são mais alguns elementos decorativos deste espaço.

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Paulo Pimenta

Voltando à viagem. Tomás e um primo, que o acompanhou numa parte da jornada, foram depois para Deli, onde ficaram “na casa de um embaixador amigo do tio”. Quando regressaram a Portugal, o professor de ioga começou a dar aulas em casa das pessoas, na Comporta, onde conhece toda a gente. “Já venho para aqui desde que nasci.” Por essa altura, vivia numa caravana. Só no ano seguinte, em 2014, viria a construir a cabana onde hoje dá as suas aulas e faz terapia. Este é um espaço mais frequentado por estrangeiros, sobretudo americanos e espanhóis. “Há muita gente que passa por um processo intenso durante uma aula de ioga que é mais um trabalho espiritual do que físico”, diz, enquanto explica que a meditação e o ioga fazem parte da sua vida. Também já deu aulas em casa, em Lisboa, e, entretanto, criou o Projecto Pequeno Buda, através do qual leva a meditação a dez mil crianças, em várias escolas do país. “Contamos histórias e induzimos na imaginação”, elucida. 

Mas “o chamamento” para este modo de vida aconteceu em 2012, quando estava a estagiar em Nova Iorque, nos EUA, numa empresa portuguesa de vinhos, e ficou doente. “Foi aí que a minha vida mudou. Foi a doença que me fez despertar para o meu interior; tive necessidade de parar e comecei a meditar”, lembra, enquanto fixa o olhar nos arrozais em frente. Começaria, entretanto, a trabalhar num estúdio de ioga, onde trocaria as horas de trabalho por aulas.

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Paulo Pimenta

No final do estágio, aconselharam-no a fazer meditação numa comunidade no México, onde ficou durante três meses e fez o seu primeiro retiro de silêncio, durante cinco dias, entre meditação, ioga e palestras. “É uma viagem muito profunda ao nosso interior e foi aí que despertei, que percebi que era isto que queria fazer”, sublinha. “Tínhamos um mestre que nos guiava e não podíamos falar. Se fosse mesmo muito importante, escrevíamos num papel”, recorda. Regressaria depois a Portugal para passar o Natal com a família, que o apoiou na próxima jornada: fazer o primeiro curso de ioga intensivo na Índia, onde ficou largos meses. Foi por essa altura que subiu sozinho aos Himalaias. “Fui até ao topo, a seis mil metros de altitude, mas depois, no regresso, fiquei sem dinheiro e tive de trocar a pulseira de prata que tinha pela viagem numa camioneta.”

Por estes dias, é encontrá-lo com um enorme sorriso e uma invejável calma, no Comporta Yoga Shala, onde termina as aulas com um namasté.