CEO da Feminist Apparel despede equipa, depois de esta descobrir historial de abuso sexual

Numa publicação de Facebook em 2013, mostrava-se arrependido pelo seu contributo para a cultura da violação.

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Conhecida por t-shirts com slogans como "Cats Against Catcalls", a marca de roupa Feminist Apparel tornou-se popular entre os movimentos como a Marcha das Mulheres, #MeToo e Time's Up. Nas últimas semanas, a empresa tem estado em conflito interno, depois de descoberto um post de 2013 do CEO Alan Martofel, em que o próprio admitia ter um historial de abuso sexual. A equipa confrontou o CEO, exigindo a sua demissão, e há cerca de uma semana e meia nove dos dez funcionários foram despedidos pelo próprio.

Tudo terá começado a 21 de Junho, uma quinta-feira: de acordo com um comunicado do grupo dos agora ex-trabalhadores, a empresa foi mencionada numa publicação do Facebook que acusava Martofel de violação. Decidiram investigar e encontraram um longo post na mesma rede social do CEO, em que este partilhava estatísticas e histórias acerca da "cultura da violação", numa tentativa de alertar as pessoas para o problema, e mostrava-se arrependido pelas atitudes que o próprio havia tido. "Rocei-me em mulheres em autocarros e concertos sem o seu consentimento. Curti com a rapariga bêbada numa festa porque era mais fácil. Coloquei a mão de uma mulher no meu pénis enquanto ela estava a dormir", escreveu então.

Na publicação, anunciava ainda o lançamento da Feminist Apparel: uma marca com "produtos que mostram e estabelecem solidariedade contra os traços da sociedade que normalizam a violação e promovem a misoginia, sexismo, racismo, transfobia e outras formas de preconceito e desigualdade".

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Os ex-funcionários terão confrontado imediatamente o CEO — que não negou os comportamentos passados —, exigindo que este se demitisse. De acordo com a equipa, que criou uma página de Tumblr para contar a sua versão dos eventos, Martofel acedeu de imediato ao pedido, prometendo afastar-se da empresa, por se considerar um "perigo" para a mesma.

Segundo um comunicado dos ex-funcionários, Martofel omitiu a verdadeira razão pela qual fundou a empresa, contando-lhes histórias alternativas. Condenam-no por ter começado a Feminist Apparel a partir do seu próprio "sentimento de culpa" e de não ter feito uma empresa sem fins lucrativos, embora esta contribua com uma parte dos lucros para diferentes organizações. A equipa acusa ainda Martofel de explorar as experiências de sobreviventes de assédio sexual e de se apresentar como feminista e aliado da causa exclusivamente para o seu próprio proveito. 

A equipa manteve a sua actividade, já sem a presença do CEO, mas encontrou um obstáculo quando o cartão de crédito da empresa foi negado na compra de matéria-prima. Assim, viram-se obrigados a tomar a decisão de suspender novas encomendas temporariamente. De acordo com o CEO, que mais tarde comentou a situação no blogue da marca, este apercebeu-se, numa reunião que teve com os seus funcionários no final da semana em questão, de que estes não partilhavam o seu ponto de vista em relação aos "negócios ou ao feminismo". Nesse domingo, todos receberam um e-mail do CEO a informar que não seria necessário trabalharem na semana seguinte, já que as encomendas estavam congeladas. Uma semana depois foram despedidos sem aviso prévio ou compensação.

"O nosso desejo por fazer a coisa certa resultou na perda dos nossos empregos, mas não nos vai impedir de falar sobre Alan e a sua empresa", lê-se ainda no comunicado publicado no Tumblr. "Ele deu um tiro no pé ao rodear-se de verdadeiras feministas e activistas, porque não demorou tempo nenhum para nós tomarmos a decisão que a coisa mais importante era a verdade", diz a ex-directora de recursos humanos, Ryker Fry, à Refinery29.

No Facebook da Feminist Apparel, Martofel anunciou que a empresa estava à procura de nova gerência, inclusive de um novo CEO. "Para aqueles que acreditam que a nota que escrevi há cinco anos, bem como os seus conteúdos, me desqualificam para ter um lugar neste movimento, digo-vos que discordo totalmente, apesar de agradecer a vossa perspectiva", defende ainda no post no blogue da marca, em resposta à sua comunidade. 

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