Onde está o Aioli?

Os preços voltaram a subir. Os pratos são construídos em função de um politicamente correcto transnacional, sem autonomia, sem autenticidade e sem ambições. O serviço continua bastante mau. E esse conjunto é dramático.

Sou só eu a achar isso ou há um processo acelerado em curso de vulgarização e descaracterização da boa cozinha portuguesa, pelo menos em Lisboa? Associado, claro, ao aumento da procura turística e à proliferação de espaços de restauração sem maior ambição do que ficar rapidamente na moda e fazer dinheiro.

Não sou daqueles que acha que o aumento do turismo tenha trazido de facto mais qualidade à restauração. E não estou com saudades dos tempos das falências, dos encerramentos e dos hambúrgueres da troika. O aumento do turismo trouxe recuperação da cidade degradada, novos serviços, mais emprego. Mas, no caso da restauração, trouxe na generalidade (há excepções!) uma uniformização relativamente medíocre da oferta no centro da cidade, confortada pela ideia de que agora haverá sempre clientes, mesmo perante o desinteresse das propostas.

Os preços voltaram a subir, mesmo com a redução em 10 pontos percentuais do IVA (alguém ainda se lembra dela?). Os pratos são construídos em função de um politicamente correcto transnacional, sem autonomia, sem autenticidade e sem ambições, à mistura com uma vulgata nacional. O serviço continua bastante mau, o que se procura desculpar com a “autenticidade” dos portugueses. E esse conjunto é dramático, porque se Lisboa e Portugal têm algo de bom, a gastronomia faz parte desse bom. Mas insiste-se em servir alheiras de pacote a 15 euros, sushi deslavado e saladinhas com molho aioli como se fosse perdiz. Se o cliente não é exigente, não quer dizer que a oferta não o seja.

Talvez valesse a pena pensar numa certificação genuína, diferente dos rankings e das críticas mais ou menos compradas, dos espaços de restauração. Não se trata apenas da manutenção da cozinha portuguesa. Trata-se também de favorecer uma boa oferta de cozinha internacional. No outro dia, num espaço da moda, serviram-me uma sopa tailandesa a saber a Bulhão Pato... E quase juraram que era mesmo assim que se fazia. Se há hoje “lojas com história”, poderá haver também “restaurantes com qualidade”? Isso não reverteria a favor da cidade, do nível geral da oferta e da satisfação dos clientes, nacionais e estrangeiros?

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