Luc Besson acusado por mais mulheres de “agressão sexual” e “assédio permanente”

Depois de a actriz Sand Van Roy ter feito queixa junto das autoridades, outras mulheres detalham alegada conduta abusiva, entre propostas, beijos e apalpões indesejados, do realizador de Lucy e O Quinto Elemento.

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Samuel Golay

O realizador francês Luc Besson foi esta terça-feira alvo de novas acusações de assédio e violência sexual depois de, em Maio, ter sido acusado formalmente pela actriz Sand Van Roy de violação. A polícia está a investigar o autor de Lucy O Quinto Elemento, e agora o jornal digital Mediapart avança que há dias uma antiga directora de casting escreveu ao procurador de Paris queixando-se de agressão sexual e que ouviu três mulheres que acusam Besson de assédio, toques e propostas sexuais indesejados.

Como se tem repetido desde as primeiras investigações em torno de Harvey Weinstein, que originaram o momento de denúncia #MeToo e desbloquearam o receio de alegadas vítimas de ver questionada a sua credibilidade, a primeira queixa de Van Roy terá feito com que os novos relatos viessem a público. “Quando vi a queixa de Sand Van Roy, as minhas pernas tremeram. Disse a mim mesma: ‘Finalmente alguém está a falar disto. Certo, vou fazê-lo também’”, cita o Mediapart, um jornal digital por assinatura que identifica com o pseudónimo “Amandine”a ex-directora de casting que escreveria depois ao procurador do Ministério Público parisiense .

“Amandine” trabalhou no casting dos filmes do realizador entre 2000 e 2005 e diz ter sido vítima de “agressão sexual” e “assédio sexual e moral permanente”. Hoje com 49 anos – Besson tem 59 anos – descreve: “Frequentemente, Besson pedia-me, na presença de outras pessoas, para lhe fazer um broche, o que eu recusava sistematicamente”. Noutros momentos, Besson passaria das palavras aos actos. “Sempre que apanhávamos o elevador juntos, ele beijava-me à força, pondo a língua na minha boca, e embora eu o empurrasse e afastasse, ele agarrava-me e tocava-me nas mamas e nas nádegas.”

Besson negou em Maio ter cometido o crime de violação de Sand Van Roy, chamando-lhes “acusações fantasiosas”, e o seu representante, confrontado com estas novas acusações, disse à Mediapart que o realizador só responderia a perguntas das autoridades policiais.

O Mediapart, que detalha ter chegado a estes relatos após “meses de investigação”, dá ainda voz a outra mulher que, sob anonimato, explica que enquanto trabalhou para a produtora de Besson, a EuropaCorp, foi alvo de assédio sexual. “Ele ouvia quando dizíamos ‘não’, mas nunca podíamos baixar a guarda porque ele tentava novamente. De cada vez, ele tentava avançar mais ainda.” Diz ter sido tocada e beijada sem a sua autorização.

Uma actriz que também não revela a sua identidade diz que numa ocasião Besson marcou um encontro com ela num quarto de hotel, o que achou invulgar, mas nada aconteceu. Num segundo encontro, e quando tentava obter um papel num dos seus filmes, ele tentou agarrá-la à força. “Fechou a porta e precipitou-se sobre mim para me tocar e beijar. Para poder fugir, não tive alternativa senão mandar-me para o chão e tentar alcançar a porta de gatas e depois desatar a correr.”

Quando Sand Van Roy, actriz belga-holandesa, veio a público com a sua acusação de violação após ter alegadamente sido drogada por várias vezes entre 2016 e 2018, referiu ter conhecimento de outros casos e desejar “fazer como no caso Weinstein, encorajar outras a vir a público”. Em Outubro de 2017, foi esse o desencadeador, após duas investigações do New York Times e da New Yorker, de mais denúncias sobre o outrora poderoso produtor americano, mas também de muitas outras queixas e investigações jornalísticas e policiais sobre homens em posições de poder no entretenimento, nos media ou na política. A partilha e reacção online cristalizou-se no momento e hashtag #MeToo e gerou em Hollywood a plataforma de campanha de combate ao assédio Time's Up.

Weinstein, entretanto, refugiara-se num centro de tratamento e reemergiu publicamente a 25 de Maio quando se apresentou à polícia para ser formalmente acusado por crimes alegadamente cometidos sobre duas mulheres. Saiu sob fiança e com pulseira electrónica, tendo depois sido acusado formalmente por outra mulher e segunda-feira enfrentou em tribunal novas acusações de outras três mulheres de agressão predatória e violação em primeiro e terceiro graus. Voltou a declarar-se inocente e foi libertado sob fiança.

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