Fotografia
Os retratos da solidão de Doughnut City
Doughnut City é uma série de fotografias do jovem fotógrafo britânico George Muncey e apresenta a natureza cíclica da vida na sua terra natal, através de paisagens e retratos dos habitantes. “É sobre Basingstoke, onde cresci, e ao mesmo tempo sobre todas as pessoas que vivem numa cidade pequena mas que aspiram a algo maior”, explicou George, numa conversa telefóncia com o P3.
Localizada a cerca de 70 quilómetros a sudoeste de Londres, Basingstoke é conhecida pelo número exagerado de rotundas — daí o nome Doughnut City. O que para George Muncey também acaba por funcionar como uma metáfora para a vida naquela cidade, sobretudo para quem está no meio artístico. “A vida lá passa por te contentares com pouco: ter um emprego de que não gostas porque a cena criativa é inexistente e não há muita gente que pense da mesma forma que tu”, explica o jovem. “No entanto", desabafa, "ir embora é demasiado caro, por isso trabalhas durante a semana, sais ao fim-de-semana e depois começa novamente o ciclo, como se andasses à volta numa rotunda e nunca conseguisses seguir o caminho que desejas”.
Os poucos retratos humanos de Doughnut City são essencialmente de pessoas com quem George se identifica e todos transmitem um sentimento de solidão. Há um rapaz que usa óculos de realidade virtual para “tentar escapar de onde está”; um homem que dá o biberão a um bebé e que simboliza o tipo de pessoa que George não quer ser; e até a própria mãe do fotógrafo, em representação de alguém que ficou “preso” naquela cidade. Por outro lado, os parques de estacionamento vazios, as raspadinhas abandonadas no chão e as drogas compõem a imagem da cidade inglesa, do ponto de vista do fotógrafo de 22 anos.
Doughnut City esteve em exibição em Londres durante o mês de Junho e George não podia estar mais satisfeito com a aceitação daquela que foi a sua primeira apresentação pública. Agora, até domingo, 8 de Julho, está com o nova iorquino Devin Blaskovich em Abrantes no 180 Creative Camp, promovido pelo Canal 180, para mostrar e falar de processos alternativos de fotografia instantânea. "Todos os dias vamos para uma localização específica e fazemos uma sequência de fotografias com os participantes, utilizando uma máquina maior que equivale a dez polaroids juntas e no fim vamos contruir uma exposição com todas as películas 8x10", anuncia George. Um projecto que a dupla criativa já desenvolveu no ano passado, em Nova Iorque.
O jovem artista esteve recentemente a viajar pelos EUA, país pelo qual sempre sentiu um grande fascínio e que vai inspirar o seu próximo projecto, mais longo e elaborado, em que explora a sua própria identidade como cidadão britânico, colocando em perspectiva o modo de fotografar em Inglaterra e nos Estados Unidos. Doughnut City é assim uma espécie de EP, mas “o álbum está a caminho”. George Muncey divulga o seu trabalho num canal de YouTube e tem a sua própria zine, Negative Feedback, com milhares de seguidores. “Quando comecei tinha a certeza que havia mais pessoas à procura das mesmas respostas que eu e agora tenho a oportunidade de ir partilhando aquilo que vou aprendendo”, diz o jovem, que gosta de pensar em quem o apoia como “pessoas a sério e não apenas números num ecrã”.