João Miguel Tavares acredita no diabo

É importante que deixemos essa coisa do diabo para trás e olhemos para o nosso país como um país de futuro. João Miguel Tavares acredita no diabo, mas esperemos que a vida não lhe dê razão.

Foto
Miguel Manso

Todos nos lembramos das palavras do antigo primeiro-ministro sobre a desgraça que se iria abater sobre Portugal e das consequências catastróficas a que iríamos estar sujeitos aquando da chegada do diabo. Poucos anos depois, aqui estamos firmes e hirtos como país e como povo. Ainda assim, há quem não consiga largar essa tendência fatalista característica do eterno medo do não conseguimento.

João Miguel Tavares escreve na sua crónica do PÚBLICO que Costa acredita no diabo, como quem diz "Afinal isto não anda bem", e mais acrescenta dizendo que o país está nas lonas e que, como ele, Costa e Centeno acreditam no inevitável regresso à estagnação económica. O cronista que muito respeito e admiro insiste no hastear da bandeira da desgraça e afirma a insustentabilidade do nosso estado social como uma inevitabilidade, bem como a possibilidade de o país voltar ao charco aquando de um abanão internacional.

Ora, quando João Miguel Tavares fala na falta de dinheiro, para fazer valer a todas as pretensões dos mais variados sectores da sociedade, esquece-se de referir os valores pornográficos que têm sido enterrados na banca ao longo desta legislatura, bem como das gigantes borlas fiscais que são concedidas aos maiores grupos multinacionais a actuar em Portugal. Podemos também falar dos recursos que o serviço da dívida absorve sem causar qualquer tipo de impacto na amortização da mesma, recursos esses que poderiam ser postos ao serviço do povo e do país, tendo em conta que um ano de juros daria para pagar o descongelamento das carreiras de vários sectores e na sua totalidade.

Quando tomamos as 35 horas na função pública como absurdas estamos a escamotear o facto destes trabalhadores desempenharem um papel importantíssimo e indispensável na viabilização de um Estado que consiga levar a cabo todas as suas atribuições. Estamos a esquecer que durante a legislatura anterior a função pública foi a mais prejudicada, ora com congelamentos ora com cortes nos salários. Se no privado se trabalha de mais, o problema está lá e deve igualmente ser resolvido.

É importante que deixemos essa coisa do diabo para trás e olhemos para o nosso país como um país de futuro. João Miguel Tavares acredita no diabo, mas esperemos que a vida não lhe dê razão.

Sugerir correcção
Ler 50 comentários