Boeing e Embraer criam parceria para aviação comercial

Nova empresa será detida em 80% pelos norte-americanos, mas gestão terá sede no Brasil. Projecto militar KC-390, parcialmente construído em Portugal, será incluído em outra parceria a desenvolver no futuro

OGMA, Alverca do Ribatejo
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Na fábrica OGMA, detida em 65% pela Embraer, em Alverca Enric Vives-Rubio
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Reuters/LUCY NICHOLSON

O negócio entre a fabricante brasileira de aviação civil e militar Embraer e a gigante norte-americana de aeronáutica Boeing vai mesmo avançar. Depois de meses de negociação, a Boeing desistiu de tentar comprar a totalidade da Embraer e ambas fecharam o acordo, nesta quinta-feira, com vista à criação de uma parceria "que contempla os negócios e serviços de aviação comercial da Embraer", conforme foi comunicado. A nova empresa será detida a 80% pela Boeing e 20% pela Embraer.

A Boeing compromete-se a desembolsar 3,8 mil milhões de dólares (3,25 mil milhões de euros ao câmbio actual) por 80% da nova joint-venture, revelaram as empresas em comunicado. O preço que a norte-americana acedeu pagar pela actividade de aviação comercial da Embraer incluída no negócio, hoje conhecido, avalia assim em 4,75 mil milhões de dólares a nova empresa.

O acordo, que os grupos afirmam ser "não vinculativo", propõe a formação de uma joint-venture que "contempla os negócios e serviços de aviação comercial da Embraer, estrategicamente alinhada com as operações de desenvolvimento comercial, produção, marketing e serviços de apoio da Boeing”, explicam as empresas no comunicado.

A nova aliança americana torna-se “um dos centros de excelência da Boeing para o desenvolvimento de projectos, a fabricação e manutenção de aeronaves comerciais de passageiros e será totalmente integrada à cadeia geral de produção e fornecimento da Boeing”.

A gestão da nova empresa ficará a cargo de uma equipa sediada no Brasil, mas o controlo operacional ficará a cargo da Boeing: “A Boeing terá o controlo operacional e de gestão da nova empresa, que responderá directamente a [Dennis] Muilenburg [director executivo da Boeing]”, lê-se no comunicado.

"A finalização dos detalhes financeiros e operacionais da parceria estratégica e a negociação dos acordos definitivos da transacção devem continuar nos próximos meses", asseguram compradora e vendedora. E "uma vez executados estes acordos definitivos de transacção", a parceria será, então "sujeita a aprovações regulatórias e de accionistas, incluindo a aprovação do governo brasileiro, bem como outras condições habituais pertinentes à conclusão de uma transacção deste tipo", é acrescentado.

"Caso as aprovações ocorram no tempo previsto", é acrescentado no comunicado, "a expectativa é que a transacção seja fechada até o final de 2019, ou seja, entre 12 a 18 meses após a execução dos acordos definitivos".

No comunicado, a Boeing prevê que este negócio se reflicta nos resultados de 2020 e que gere uma "sinergia anual de custos estimada de cerca de 150 milhões de dólares – antes de impostos – até o terceiro ano”.

KC-390 incluído em nova parceria

O memorando de entendimento prevê ainda a criação de outra empresa, para a promoção e desenvolvimento de “novos mercados e aplicações para produtos e serviços de defesa”, com enfoque especial no KC-390, avião militar. É precisamente este o modelo que associa mais directamente a Embraer a Portugal. O grupo brasileiro tem uma fábrica em Évora e é dono de 65% da OGMA, em Alverca, onde participa no projecto do avião militar KC-390.

É ainda desconhecido o grau da aliança que Boeing e Embraer querem realizar envolvendo o KC-390. No comunicado de hoje é dito que, além da parceria para a aviação comercial, "as empresas também irão criar outra joint-venture para promoção e desenvolvimento de novos mercados e aplicações para produtos e serviços de defesa, em especial o avião multimissão KC-390, a partir de oportunidades identificadas em conjunto".

“Os investimentos conjuntos na comercialização global do KC-390, assim como uma série de acordos específicos nas áreas de engenharia, pesquisa e desenvolvimento e cadeia de suprimentos, ampliarão os benefícios mútuos e aumentarão ainda mais a competitividade da Boeing e da Embraer”, afirma Nelson Salgado, vice-presidente executivo financeiro e de relações com investidores da Embraer, citado no comunicado.

Qualquer que seja o futuro e o grau de profundidade da aliança entre Embraer e Boeing na área da defesa e nomeadamente do KC-390, o que no limite pode - caso as várias autoridades o permitam - incluir a divisão da propriedade deste negócio, o mesmo terá sempre que ser aprovado pelo Estado português no território nacional, até porque é com ele que a construtora brasileira tem um acordo de investimento que inclui contrapartidas nacionais. E, além disso, o Estado português manteve-se dono de 35% da OGMA (antigas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico).

Em Dezembro de 2017, a Boeing avançou com uma proposta para comprar a totalidade da Embraer, que não foi aceite pelo governo brasileiro. De acordo com Wall Street Journal, a gigante da aeronáutica apresentou uma proposta acima do valor de mercado pela fabricante brasileira (à época, a Embraer estava avaliada em 3,7 mil milhões de dólares).

Em Janeiro, uma nova oferta: desta vez a Boeing pretendia deixar nas mãos da empresa brasileira apenas o segmento de defesa, o que também não foi aceite pelo governo brasileiro. O executivo salientou a falta de sustentabilidade desse segmento, que sobrevive graças ao orçamento público, lembra o jornal Globo.

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