Comunistas endurecem posição e comparam Costa a Cristas

Conclusões do Comité Central dramatizam situação política: já não é só o Bloco Central, PS está cada vez mais encostado à direita. As posições extremam-se nas últimas reuniões. A campanha eleitoral está à porta.

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O PCP subiu um degrau (e bem alto) na escalada de críticas ao PS e a António Costa. As conclusões da reunião de dois dias do Comité Central, que ficaram ontem disponíveis no site do partido, repetem à exaustão (mais propriamente 21 vezes) como o PS se tem colocado ao lado do CDS de Assunção Cristas. Os comunistas não se limitam a apontar o dedo a aproximações de Costa ao PSD de Rui Rio (o Bloco Central, de que Jerónimo tanto tem falado nas últimas semanas), mas vão mais longe e denunciam também convergências reiteradas com o partido mais à direita com assento parlamentar.

Exemplos? O “apoio” do PS, PSD e CDS ao novo quadro financeiro da União Europeia. O “favorecimento”, por parte do PS, PSD e CDS, “da actividade de um grupo económico multinacional, a Uber”, A “união” entre confederações patronais, PS, PSD e CDS, a propósito das leis laborais. “O desvio de elevadas verbas para serem consumidas em juros de uma dívida pública insustentável como defendem PS, PSD e CDS”. “O cumprimento integral de direitos constitucionais na saúde, na educação, na segurança social, na habitação ou na cultura não é compatível com a sujeição às imposições do Euro e da UE com que PS, PSD e CDS estão de acordo”.

Na sequência da assinatura da declaração conjunta com o PS em Novembro de 2015, que levou ao derrube do Governo de Passos Coelho no Parlamento e a um novo Governo liderado por António Costa, o PCP amaciou o discurso em relação aos socialistas que sempre foi considerado um partido com “políticas de direita”. Eis que em vésperas de negociação do último Orçamento do Estado antes de legislativas, o tom do PCP tem-se agudizado em relação a Costa. O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, já classificou como “toldado” o ambiente e tem carregado nas tintas.

O Comité Central, que se reúne habitualmente de seis em seis meses, endurece também essa análise da situação política. Em Janeiro, data da última reunião, o PCP começou a falar nos perigos do Bloco Central. Antes disso, o alvo era o Governo PSD/CDS de Passos Coelho e Paulo Portas, que tinha ajudado a derrubar.

Silenciamento e discriminação

Mais: comparativamente a outros documentos de reuniões anteriores, nota-se também como o PCP tem necessidade de vincar mais vezes que este é “um Governo minoritário”. E, pela primeira desde que de forma inédita ajudou a construir a “geringonça”, queixa-se de “uma poderosa ofensiva ideológica” contra o PCP, “apostando no silenciamento, na discriminação e na manipulação, dirigida pelos grupos económicos e financeiros hoje detentores dos principais órgãos de comunicação social (cada vez mais centralizados, concentrados e controlados), pelos seus centros de produção ideológica e pelas forças políticas que assumem a defesa dos seus interesses”.

Numa passagem muito semelhante ao discurso pré-"geringonça", o partido de Jerónimo de Sousa denuncia mesmo aquilo a que chama “estímulo ao preconceito anticomunista”. O destinatário não é só a direita, mas também o BE e o mais pequeno partido com assento parlamentar o PAN. Senão, vejamos, os exemplos dados: “as campanhas em torno de temas trazidos à discussão como, entre outros, a lei do financiamento dos partidos, as barrigas de aluguer, a liberalização do cultivo, comercialização e consumo de cannabis, a pretexto do seu uso para fins terapêuticos, a provocação da morte antecipada (eutanásia), a instrumentalização das preocupações com os animais, bem como o sistemático recurso à tentativa de intimidar e criminalizar a posição de solidariedade internacionalista”. É uma espécie de regresso do PCP ao sítio de onde nunca saiu.

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