Da importância das redes ou do não estar só

Não menosprezem, não menosprezemos as nossas capacidades de fazermos a diferença nas vidas enquanto pensadoras e fazedoras de cidades, enquanto materializadoras de quotidianos.

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Em Junho, durante quatro dias, o Politécnico de Turim recebeu o último encontro organizado pelo projecto MoMoWo – Women’s Creativity Since the Modern Movement, que juntou mais de cem apresentações num intenso e desafiante programa com presenças geográfica e culturalmente alargadas. O objectivo principal do MoMoWo tem sido sublinhar as diversas contribuições das mulheres arquitectas e designers, procurando deste modo a promoção da igualdade cultural e profissional, lutando, como ainda é afirmado pelo próprio projecto, por uma sociedade mais equilibrada em termos de género nestes contextos de produção.

Este projecto de larga escala, com coordenação italiana e incluindo mais cinco equipas europeias (Portugal, Espanha, Eslováquia, Eslovénia e Holanda), construiu e alimentou durante quatro anos uma rede de pessoas e instituições cujo impacto conseguiu ultrapassar em muito os países organizadores. Também estou certa que trará resultados que irão além do seu tempo de existência oficial, que termina este ano, tanto pelas redes que permitiu construir, como pela visibilidade alargada que deu às mulheres e ao seu papel na construção do que é o último século da arquitectura e do design.

Na verdade, sob o ponto de vista da importância e da amplitude crescente, eu colocaria este encontro de Turim numa genealogia pessoal que se iniciou, em Sevilha, em 2014, com o ArquitectAs: 1st Symposium on Architecture and Gender. A seguinte edição aconteceu em Lisboa, em 2015, com Matrices: 2nd International Conference on Architecture and Gender, tendo continuado em Florença, no ano passado, com o título de MORE: Expanding architecture from a gender-based perspective. Aguardamos novidades e, para lá da publicação do volume relativo a Florença, esperamos que 2019 confirme as notícias sul-americanas que deslocam para este continente a quarta edição deste congresso.

O crescente número de pessoas e equipas a trabalhar os temas vários que se encontram no cruzamento das arquitecturas, das cidades e das mulheres é relevante. Parte da força que ganham, ano após ano, resulta também da sua capacidade de se constituírem como redes. Em áreas de trabalho e luta nem sempre valorizadas pelos pares contrariar a ideia de que nos encontramos sós é fundamental. Todos estes trabalhos, ainda que tendo objectivos, processos, metodologias e geografias diversas, são de igual modo importantes e têm-se vindo a construir como reflexões e acções que, como o MoMoWo reforçou, procuram cumprir a luta das mulheres nas e pelas cidades, nas e pelas arquitecturas, através do questionamento de uma visão do mundo supostamente neutra, mas que é efectivamente lugar dos e para os homens.

Sejam historiadoras, activistas, arquitectas, investigadoras, urbanistas ou professoras; seja através da prática profissional, da investigação, do associativismo ou da docência, fazem e conquistam persistentemente a diferença conferindo visibilidade às muitas mulheres produtoras de quotidianos: da escala da colher à escala do território. Estamos e somos. Não menosprezem, não menosprezemos as nossas capacidades de fazermos a diferença nas vidas enquanto pensadoras e fazedoras de cidades, enquanto materializadoras de quotidianos.

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