Como é que um AVC altera o GPS cerebral?

Prémio João Lobo Antunes – no valor de 40 mil euros – foi atribuído ao médico Pedro Nascimento Alves, do Serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

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Mais de 25 milhões de pessoas no mundo já sofreram um AVC Wikicommons

Pedro Nascimento Alves quer saber quais são os doentes que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC) e ficaram incapacitados ao nível da orientação e da navegação espacial. Também quer perceber quais são os mecanismos cerebrais que levam ao aparecimento dessas incapacidades. Para isso, o médico interno do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, vai receber 40 mil euros. É o vencedor da segunda edição do Prémio João Lobo Antunes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (criado em homenagem ao neurocirurgião, que morreu em 2016, e destinado a médicos a fazer o internato em neurociências), e que foi entregue esta manhã em Lisboa.

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Pedro Nascimento Alves quer saber quais são os doentes que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC) e ficaram incapacitados ao nível da orientação e da navegação espacial. Também quer perceber quais são os mecanismos cerebrais que levam ao aparecimento dessas incapacidades. Para isso, o médico interno do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, vai receber 40 mil euros. É o vencedor da segunda edição do Prémio João Lobo Antunes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (criado em homenagem ao neurocirurgião, que morreu em 2016, e destinado a médicos a fazer o internato em neurociências), e que foi entregue esta manhã em Lisboa.

Neste momento, Pedro Alves, além de médico interno do Serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria, é estudante de doutoramento na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. O médico de 29 anos já andava a planear há algum tempo um trabalho sobre a orientação (consiste em saber em que local estamos) e a navegação (saber como nos podemos deslocar de um sítio para o outro) no espaço em doentes que tiveram um AVC.

Pedro Alves pretende estudar essas duas capacidades porque são essenciais no dia-a-dia. E escolheu analisar doentes que sofreram um AVC porque é das doenças que provoca mais incapacidades e há mais de 25 milhões de pessoas no mundo que já sofreram um acidente vascular cerebral. Além de um AVC poder causar alterações na fala ou na força muscular, alguns doentes podem ter dificuldades em perceber onde estão ou deixar de saber que direcções devem escolher para ir para um determinado sítio.

“Senti a necessidade de fazer este trabalho porque é uma pergunta que ainda não está respondida na literatura científica, nomeadamente qual é a percentagem de doentes com AVC que têm uma disfunção de orientação e navegação espacial, que zonas ou estruturas do cérebro é que dão origem a esta disfunção ou que tipos de AVC é que podem dar origem a estes sintomas”, enumera Pedro Alves. Numa nota enviada pela Santa Casa da Misericórdia sobre o prémio ainda se acrescenta que o objectivo deste trabalho é perceber se essas dificuldades de navegação no espaço são frequentes após o AVC e investigar quais os mecanismos cerebrais que levam ao seu aparecimento.

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O médico Pedro Nascimento Alves João Ferrão/Esfera das Ideias

“É como se estivéssemos a estudar o GPS cerebral e como que é que os AVC alteram esse GPS”, explica o médico. “Ao percebermos isto, podemos identificar melhor os doentes que sofrem esta incapacidades e, no futuro, tentar desenvolver tratamentos e estratégias de reabilitação. O objectivo final será melhorar a qualidade de vida das pessoas com AVC.”

Pedro Alves iniciará este trabalho no último trimestre deste ano e conta com uma equipa com membros da Unidade de AVC do Hospital de Santa Maria e do Laboratório de Estudos de Linguagem, que pertence ao Serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria e da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Serão estudados cerca de 150 doentes da Unidade de AVC durante dois anos.

Como será feito esse estudo? Serão usados vários métodos: a avaliação dos doentes através de questionários sobre sintomas de orientação e navegação no espaço; provas de orientação espacial num ambiente virtual criado por um computador; e métodos de imagem cerebral, nomeadamente de ressonância magnética cerebral, tanto para perceber onde se localizam as estruturas cerebrais directamente afectadas como para observar que ligações cerebrais são quebradas nos doentes com problemas de orientação espacial.

“O financiamento deste prémio permite-me melhorar bastante o projecto [que já vinha a ser pensado há algum tempo], nomeadamente com técnicas de imagem cerebral e de avaliação dos doentes, técnicas mais dispendiosas e que seriam impossíveis de realizar se não tivesse este apoio financeiro”, considera Pedro Alves. Além disso, destaca o prestígio deste prémio, pois tem o nome de João Lobo Antunes. O médico interno ainda chegou a conhecer o neurocirurgião. Pedro Alves já trabalhava no Serviço de Neurologia quando João Lobo Antunes era director do Serviço de Neurocirurgia do Hospital de Santa Maria e havia reuniões conjuntas entre os dois serviços. “Tive o privilégio de o conhecer. Foi um médico de referência quer para medicina portuguesa quer para a sociedade portuguesa.”