Como será resgatado o grupo de rapazes presos na gruta da Tailândia?

O grupo de rapazes foi encontrado com vida numa gruta tailandesa na segunda-feira. Agora, o desafio é tirá-los de lá: há a hipótese de mergulho, difícil pelos caminhos estreitos sem visibilidade e experiência zero do grupo, e a hipótese de esperar que a água vaze, algo que pode demorar meses.

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Não vai ser fácil nem rápido resgatar os 12 adolescentes, membros de uma equipa de futebol, e o seu treinador de 25 anos, localizados, todos com vida, a cerca de quatro quilómetros da entrada das grutas Tham Luang, que ficam perto da cidade de Chiang Rai, no norte da Tailândia.

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Não vai ser fácil nem rápido resgatar os 12 adolescentes, membros de uma equipa de futebol, e o seu treinador de 25 anos, localizados, todos com vida, a cerca de quatro quilómetros da entrada das grutas Tham Luang, que ficam perto da cidade de Chiang Rai, no norte da Tailândia.

A equipa de resgate internacional, de que fazem parte mergulhadores militares estrangeiros e se mobilizou para socorrer o grupo que foi surpreendido pela chuva que inundou as grutas, montou a sua base de operações no interior da gruta. Desde essa zona até ao sítio onde os adolescentes e o treinador estão são cerca de três horas de mergulho para cada lado – por zonas estreitas e sem visibilidade. 

Antes de mergulhar, os socorristas acreditavam que a equipa estava numa zona dentro da gruta chamada “Pattaya Beach”, que tem uma elevação rochosa que poderia estar a seco. Quando foi iniciada a operação, porém, perceberam que essa região já estava inundada. Mas prosseguiram a busca e encontraram a equipa cerca de 400 metros depois.

Como se poderá fazer o resgate?
Existem três possibilidades. Uma delas passa por usar uma equipa de mergulhadores que retiraria os rapazes um a um; outra consiste em bombear a água – o que já está a ser feito, mas a operação pode ser dificultada pela chuva prevista para os próximos dias –, permitindo-lhes fazer o percurso a pé. A Reuters diz que, em 75 horas, foram bombeados 120 milhões de litros de água. A terceira opção é esperar que as águas vazem de forma natural, o que pode demorar meses. Por norma, esta gruta tailandesa fica inundada durante o período das monções, que podem durar até Setembro ou Outubro. Os socorristas estão também a estudar o exterior da gruta para tentarem encontrar outras formas de entrar.

A equipa internacional de resgate refere que todas as possibilidades estão a ser tidas em conta, mas o salvamento tem sido dificultado pelo mau tempo e pela subida das águas nas galerias da gruta.

O espeleólogo (cientista que estuda grutas e cavernas) da Universidade de Aveiro, Manuel Freire, explica ao PÚBLICO que as grutas activas, que têm cursos de água e ainda estão em formação, estão muito dependentes das condições climatéricas exteriores. “Começando a chover cá fora, rapidamente as grutas podem inundar – mesmo em poucas horas. O nível de água começa a subir, as passagens mais baixas ficam bloqueadas e são intransponíveis a não ser com mergulho”.

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Quais as dificuldades de mergulhar numa gruta?
Mergulhar em grutas “é uma operação sempre complexa, já que é um mergulho muito técnico em espaços confinados, só com uma saída possível e com visibilidade praticamente nula”, explica ao PÚBLICO o comandante do destacamento de mergulhadores da Marinha, Alexandre Oliveira. Se mergulhar numa gruta já é difícil, tentar socorrer os menores ainda o é mais, até porque os rapazes retidos não sabem nadar e não têm experiência de mergulho.

A opção do mergulho pode também estar condicionada pelo estado fragilizado dos adolescentes, que passaram dez dias sem comer e com pouca água. Já foram alimentados com um gel altamente calórico, diz a Reuters. Mesmo que estejam em condições para mergulhar, “as crianças nunca poderão ir sozinhas, terão de ser sempre acompanhadas pelo menos por um mergulhador experiente e que saiba o caminho”, diz Alexandre Oliveira. Caso seja esta a opção de salvamento, os mergulhadores têm de gerir o stress e “transmitir-lhes segurança para poderem fazer a operação”. É preciso evitar o pânico durante o salvamento. Em preparação para este cenário, os socorristas estão a dar aulas rápidas de natação e de mergulho aos adolescentes.

Segundo o comandante Alexandre Oliveira, o uso de um capacete de mergulho integral é a melhor solução para os rapazes, já que o rosto fica seco e “permite que haja um acompanhamento permanente com uma equipa em terra durante o resgate”. O equipamento normalmente usado pelos mergulhadores, um regulador, não permite respirar pelo nariz e seria difícil de usar por alguém com pouca experiência – ou nenhuma, neste caso.

O mergulho em grutas “tem uma logística maior, é muito específico”, diz o espeleólogo Manuel Freire. "A visibilidade já é pouca e, tratando-se de um país tropical com regime de monções, as águas muito fortes e rápidas arrastam detritos que fazem com que a água fique turva”.

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O tipo de máscara integral que poderia ser utilizado pelas crianças no mergulho PONGMANAT TASIRI/LUSA

O mergulhador britânico Ben Raymenants diz que o resgate através do mergulho “não é a solução mais fácil”. “Penso que a meteorologia será o factor determinante”, concluiu.

Quanto tempo pode demorar o salvamento?
“Ajudar os miúdos vai levar tempo”, assumiu o chefe da Marinha tailandesa, Naris Pratoomsuwan. A previsão é que o resgate demore entre semanas e dois ou três meses, dependendo das condições meteorológicas e do método escolhido. 

O vice-governador de Chiang Rai, Passakorn Bunyalak, disse que a segurança dos rapazes é o mais importante, não havendo razões para “pressas”. Ainda assim, desmentiu informações de que todo o processo demorará quatro meses. 

Quem são os rapazes e como ficaram presos na gruta?
A equipa de futebol formada por 12 rapazes (com idades entre os 11 e os 16 anos) e o seu treinador (de 25 anos) entrou na gruta Tham Luang a 23 de Junho. Lá dentro, foram surpreendidos pelas chuvas abundantes da monção que, muito rapidamente, inundaram a gruta e as suas galerias, bloqueando-lhes a saída.

O mergulhador britânico Ben Raymenants, que está a participar nas operações de resgate, disse à Sky News que o grupo entrou na gruta para um “ritual de iniciação” — uma praxe. O objectivo seria irem até ao fundo da gruta e gravarem os seus nomes na rocha. O grupo, que levou uma única lanterna, deixou os sapatos e mochilas à entrada do complexo de túneis e galerias. Até serem encontrados pelos mergulhadores, não comeram, mas beberam alguma água das estalactites, numa escuridão total.

Como foram encontrados?
Quase dez dias depois de terem desaparecido, foram todos encontrados com vida por uma equipa de mergulhadores. Os primeiros a contactá-los foram os mergulhadores britânicos John Volanthen e Rick Stanton, ambos experientes em mergulho em grutas e cavernas. O momento foi filmado por um deles e nas imagens vê-se o grupo, sentado numa rocha seca, a ser iluminado pelas lanternas dos socorristas. Agradecem, dizem que estão todos vivos, perguntam que dia é. Um médico e um enfermeiro já foram ao local onde os rapazes se encontram e disseram que estão fracos mas sem lesões graves.

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Parte da equipa internacional de resgate PONGMANAT TASIRI/LUSA

Quando a equipa foi encontrada com vida, famílias e socorristas emocionaram-se debaixo da chuva, à entrada da gruta onde tinham passado nove dias sem respostas.

“Obrigado a todos os tailandeses, obrigado a todos os estrangeiros, todos são uns heróis e ajudámo-nos todos uns aos outros”, disse aos jornalistas o primeiro-ministro tailandês, Prayuth Chan-ocha.