Espanha autoriza novo desembarque de navio com migrantes

Ada Colau, presidente da Câmara de Barcelona, ofereceu a sua cidade como porto seguro: "Não queremos ser cúmplices das políticas de morte de Matteo Salvini”.

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Navio Open Arms Reuters/ALKIS KONSTANTINIDIS

O navio Open Arms, operado por uma organização não-governamental espanhola, resgatou na manhã deste sábado 59 pessoas ao largo da Líbia. Depois de ter visto pedidos de desembarque serem rejeitados por Itália e por Malta, a embarcação recebeu durante a tarde autorização para aportar em Espanha. 

Durante o dia, a presidente da câmara de Barcelona, Ada Colau tinha oferecido a capital catalã como porto seguro: “Barcelona está preparada para receber Open Arms e todas as pessoas resgatadas. Pedimos a Pedro Sanchez que nos permita ajudar e salvar vidas, não queremos ser cúmplices das políticas de morte de Matteo Salvini”, escreveu num tweet. Mais tarde chegou a luz verde de Madrid.

Entre os 59 migrantes salvos este sábado, há quatro menores (sendo que dois deles seguem desacompanhados) e cinco mulheres. Vêm da Palestina, Sudão do Sul, Mali, Síria, Burkina Faso, Costa do Marfim, Eritreia, Egipto, República Centro Africana, Camarões, Etiópia, Líbia, Bangladesh e Guiné, informa Riccardo Gati, responsável pela ONG em declarações à agência espanhola Efe.

“Apesar dos obstáculos continuamos a proteger o direito à vida dos invisíveis. As suas histórias, sobre o que viveram na Líbia são aterradoras”, escreveu a associação no Twitter.

Esta manhã, o vice-primeiro-ministro italiano e ministro do Interior Matteo Salvini acusou a associação de ter salvado os migrantes antes de uma intervenção prevista por parte da guarda costeira líbia e informou que o navio não teria autorização para aportar em Itália. “O navio Open Arms, de uma associação espanhola e com bandeira espanhola, precipitou-se sobre uma balsa e, antes que um barco líbio que estava na zona interviesse, apressou-se a embarcar cerca de 50 migrantes”, escreveu o político de extrema-direita no Facebook.

Acrescentando que não haveria excepções à recusa de Roma em aceitar navios de organizações não-governamentais internacionais, o ministro informou que Malta era o porto mais próximo.

Mas de Malta também chegou um sinal vermelho, acompanhado de críticas a Roma. No Twitter, o ministro do Interior maltês, Michael Farrugia, argumentou que o salvamento decorreu ao largo da ilha italiana de Lampedusa, pelo que a responsabilidade pelos náufragos recaía sobre o vizinho transalpino. Pediu, também, que Salvini deixasse de “veicular informação falsa envolvendo Malta sem qualquer razão”.

Na quarta-feira, Malta aceitou que o navio Lifeline, com 230 pessoas a bordo, atracasse em La Valeta, depois de ter estado em mar alto durante quase uma semana, impedido de atracar em Itália. O primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat, disse na altura que aquela seria uma excepção e que Malta não aceitaria mais barcos. Portugal comprometeu-se a receber uma parte dos passageiros do Lifeline.

Os líderes europeus reuniram-se na sexta-feira para tentarem chegar a uma “solução europeia” sobre a questão dos refugiados e migrantes. No documento final da cimeira, que deixa questões importantes por resolver, ficou prevista a criação de plataformas de desembarque de migrantes fora da UE, o aumento dos apoios económicos a países do Norte de África e à Turquia e a criação voluntária de centros em território europeu que servirão para identificar as pessoas salvas no Mediterrâneo, e onde os imigrantes económicos serão separados dos requerentes de asilo.

"No território da União Europeia, aqueles que são resgatados (no mar), de acordo com o Direito Internacional, devem ser acolhidos, com base num esforço conjunto, mediante a passagem por centros controlados e instalados nos Estados-membros, de forma voluntária, onde um processamento rápido e seguro permitiria, com total apoio da UE, distinguir entre pessoas em situação irregular e refugiados", refere o documento final do encontro.

Para Itália, e nas palavras de Salvini, o problema está a montante: “Quanto menos pessoas saírem, menos morrem”.

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