Rússia espera por um segundo milagre contra a Espanha

O terceiro jogo dos oitavos-de-final realiza-se neste domingo, em Moscovo. Os espanhóis são favoritos, mas o factor casa é um importante trunfo para os russos.

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O seleccionador russo, Stanislav Cherchesov LUSA/ABEDIN TERKENAREH

Viktor Chernomyrdin foi primeiro-ministro russo na década de 90. Era o braço-direito de Boris Ieltsin, o antecessor de Vladimir Putin, e ficará para a história por ter fundado a Grazprom, a maior exportadora de gás natural do mundo que nos dias de hoje vai servindo de trunfo para a política externa do Kremlin, devido à dependência que países como a Áustria, a Alemanha ou a França têm deste gigante energético. Mas que ligação tem este antigo político ao Mundial 2018? Em 1993, durante uma grave crise económica que o país atravessava, Chernomyrdin disse uma frase que ficou célebre e que nos últimos anos os russos associam à sua selecção de futebol: “Queremos sempre o melhor, mas o resultado final é sempre o mesmo.” Hoje, em Moscovo, no terceiro jogo dos oitavos-de-final do Mundial 2018 (15h, SIC), a Rússia, que superou as expectativas na fase de grupos, espera por um segundo milagre para eliminar a Espanha e prosseguir em prova.

A 13 de Junho, véspera de Rússia e Arábia Saudita darem o pontapé de saída para o Mundial 2018, um comentador da Match TV, canal televisivo controlado pelo governo russo, expressou um sentimento generalizado por todo o país: “Só podemos esperar por um milagre.” Após falhar o apuramento para o Euro 2016, a Rússia entrou num ciclo de maus resultados inédito. Com Stanislav Cherchesov no comando, os organizadores do Mundial tinham somando cinco triunfos em 19 jogos. Com a pior percentagem de vitórias (26,3%) da história da selecção russa, a pressão sobre Cherchesov antes da partida inaugural era quase insuportável.

Porém, o futebol russo, à imagem do país liderado por Putin, voltou a revelar-se imprevisível. Com duas vitórias claras nos dois primeiros jogos, a Rússia ultrapassou pela primeira vez desde o colapso da União Soviética em 1991 a fase de grupos de um Mundial. Mais: os oito golos marcados eram o melhor registo de um país anfitrião desde o Itália 34.

O efeito desta proeza no orgulho dos russos foi visível de imediato. “Jovens a correr pelas ruas com bandeiras e a gritar ‘Rússia’! Lembrar-me-ei disto durante os próximos 50 anos. O que se passar a seguir neste Mundial não apagará estas emoções”, escreveu Igor Rabiner, um dos mais conhecidos jornalistas desportivos russos após o triunfo contra o Egipto.

E o que se passou a seguir foi um golpe duro no orgulho da “Pátria Mãe” – derrota por 3-0 frente ao Uruguai -, que pode ter resultado na tempestade perfeita para Cherchesov. Com a queda para o 2.º lugar no Grupo A, a Rússia não precisou de fazer qualquer viagem – tem como base Moscovo -, terá no regresso ao Estádio Luzhniki, onde já goleou a Arábia Saudita (5-0), o apoio de mais de 70 mil adeptos e, se derrotar a Espanha, terá a certeza que só pode defrontar mais um campeão do mundo até à final: a Inglaterra.

Na antevisão do duelo com a Espanha, Cherchesov recordou um duelo anterior com o treinador que hoje terá como adversário. Em 1991, Fernando Hierro comandou a defesa do Real Madrid numa eliminatória da Taça dos Campeões Europeus frente ao Spartak. Cherchesov era o guarda-redes da equipa de Moscovo e os russos apuraram-se com um total nas duas mãos de 3-1. “Naquela altura, os espanhóis também eram favoritos, mas usando uma expressão russa: Todos podemos ser Deus se tentarmos.”

Se os problemas para Cherchesov são menores agora do que eram antes do início do Mundial, para Hierro a inesperada experiência como técnico na Rússia tem-se complicado com o decorrer dos jogos. Após o inusitado adeus de Julen Lupetegui na véspera da partida de estreia, Hierro saiu praticamente incólume do empate com Portugal (3-3), mas a sofrida vitória frente ao Irão (1-0) e o empate arrancado a ferros contra Marrocos (2-2) deram origem a uma torrente de críticas.

Um dos principais alvos da contestação da imprensa espanhola tem sido David de Gea, mas Hierro garantiu que neste domingo, no palco da final do Mundial 2018, será o guarda-redes do Manchester United mais dez: "Sim, [de Gea] jogará. Respeito as opiniões, mas quem toma as decisões somos nós [equipa técnica].”

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