Peseiro não quer fazer nada à pressa, mas não lhe têm dado tempo

Técnico ribatejano regressa ao Sporting 13 anos depois, com contrato por uma temporada, mas tem ficado menos que isso nos seus últimos empregos.

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José Peseiro e Sousa Cintra LUSA/LUSA

Nos últimos tempos, José Peseiro tem sido uma espécie de treinador para todas as emergências. Foi assim com o FC Porto em 2015, com o Sp. Braga em 2016 e com o Vitória de Guimarães há não muitos meses. Vai voltar a sê-lo num Sporting de transição e com muitas indefinições. O técnico ribatejano de 58 anos foi o escolhido por José Sousa Cintra para liderar o futebol “leonino” em 2018-19, naquele que é um regresso de Peseiro a Alvalade, onde esteve entre 2004 e 2005. Assinou um contrato por uma temporada, com mais uma de opção, mas haverá sempre a possibilidade não ser ele o treinador de quem quer que vença as eleições de 8 de Setembro.

Não há nenhuma cláusula, garantiu Peseiro, a salvaguardar essa situação, mas as eleições daqui a pouco mais de dois meses foram a razão pela qual não assinou um contrato de longa duração. “Não fazia sentido ter, com eleições, essa noção temporal, da possibilidade de que quem venha tenha de carregar com um contrato de dois ou três anos, como se passou aqui há um mês”, frisou o técnico referindo-se ao contrato válido por três épocas que Sinisa Mihajlovic tinha assinado nos últimos dias de Bruno de Carvalho antes da sua destituição.

A carreira de Peseiro tem sido bastante errática, sobretudo nos últimos tempos. No final da última época, esteve dez jornadas no banco do Vitória de Guimarães (quatro vitórias, quatro derrotas e dois empates). Em 2016-17, iniciou a época no Sp. Braga, naquela que já era a sua terceira passagem pelo clube minhoto, mas sairia à 13.ª jornada. Em 2015-16, foi chamado por Pinto da Costa para substituir Julen Lopetegui, mas também não ficou no Dragão para a temporada seguinte.

O ribatejano também teve várias experiências no estrangeiro, com passagens pela Arábia Saudita (Al-Hilal, que é o novo clube de Jorge Jesus, e selecção), Roménia (Rapid Bucareste), Grécia (Panathinaikos), Emirados (Al Wahda e Al Sharjah) e Egipto (Al-Ahly). Com toda a experiência acumulada numa carreira já longa, Peseiro tem um currículo pouco recheado no que diz respeito a títulos, apenas um título de campeão da II Divisão com o Nacional da Madeira, um título de campeão egípcio com o Al-Ahly e uma Taça da Liga com o Sp. Braga.

Na mesma sala em que foi apresentado há 14 anos ao lado de José Eduardo Bettencourt e Dias da Cunha, Peseiro garantiu que regressa com a mesma “ilusão” de 2004, então contratado depois de uma época como adjunto de Carlos Queiroz no Real Madrid. “Tenho enfrentado cenários e contextos difíceis. Tão difíceis que os meus amigos me perguntam por que é que aceito. Aceito porque gosto de desafios e porque não tenho medo”, garantiu Peseiro na apresentação.

Nessa época, o Sporting de Peseiro, que tinha jogadores como Liedson, Polga, Rochemback ou João Moutinho, esteve a lutar pelo título até ao fim e foi à final da Taça UEFA, que se realizou em Alvalade. Os “leões” acabariam por falhar ambos os objectivos, com uma derrota frente ao Benfica que comprometeu o título, perdendo depois a final europeia com o CSKA Moscovo. Peseiro ainda iniciaria a época seguinte nos “leões”, mas acabaria por ser substituído por Paulo Bento à sétima jornada devido aos maus resultados e à pressão dos adeptos. Dias da Cunha também se demitiria da presidência dos “leões” em solidariedade com Peseiro.

Para Sousa Cintra, que lidera o futebol profissional do Sporting como presidente da SAD, Peseiro é um “grande treinador” e um “grande ser humano” e que vai ter “reforços de qualidade”. “A primeira coisa que lhe perguntei foi se estava disponível para fazer do Sporting campeão. A ambição do treinador é exactamente igual à minha”, referiu o antigo presidente do Sporting, que aproveitou a apresentação do novo treinador para anunciar outro regresso dos “leões” ao passado, a nomeação de Fernando Ferreira como novo director-clínico – depois de uma ligação ao clube de 16 anos, entre 1985 e 2001, regressa para ocupar o cargo que foi por pouco tempo de Jorge Pimenta, o escolhido por Bruno de Carvalho para substituir Frederico Varandas, candidato assumido nas próximas eleições.

Este é um regresso ao Sporting em circunstâncias difíceis para o treinador ribatejano, a pouco mais de um mês do início da temporada e Peseiro reconhece que os “leões” partem “um pouco atrás” em relação aos adversários. “Estamos atrasados, mas não desesperados. Não vamos fazer nada à pressa”, garantiu, sem se alongar muito sobre a composição do plantel. Mas sempre foi dizendo que uma das prioridades é “fazer com que seja possível o regresso” de alguns dos nove jogadores que rescindiram contrato alegando justa causa. “Eu não sei o plantel que vou ter quando começar a época, mas isto não pode servir de desculpa.”

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