UNESCO classifica lugares clandestinos do cristianismo no Japão

O cemitério militar português de Richebourg, em França, está na lista das 30 candidaturas que estão a ser analisadas no Bahrein pelo comité do Património Mundial.

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Catedral de Oura, um dos sítios cristãos clandestinos da região de Nagasaki, agora classificados pela UNESCO como Património Mundial EPA

Os sítios cristãos clandestinos da região de Nagasaki, no Japão, onde comunidades missionárias ibéricas tiveram um papel determinante, no século XVI, foram classificados este sábado como Património Mundial da UNESCO.

A reunião do Comité do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em Manama, no Bahrein, vai no segundo dia de análise de uma lista de 30 candidaturas à classificação, que também inclui o cemitério militar português de Richebourg, em França, onde estão enterrados cerca de 1800 soldados, mortos na Grande Guerra de 1914-18.

A candidatura japonesa foi aprovada a par do edificado vitoriano de Mumbai, na Índia, do sítio arqueológico de Fars, no Irão, e dos mosteiros budistas da Coreia do Sul.

A classificação dos sítios cristãos clandestinos da região de Nagasaki tivera já indicação positiva do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS, sigla da designação inglesa), organismo consultivo do processo.

O processo de classificação envolve 12 elementos: dez localidades da região de Nagasaki, o castelo de Hara, na península de Shimara, e a catedral de Oura, construída no século XIX.

No conjunto, estes locais envolvem toda a história do cristianismo no Japão, dos mais antigos testemunhos, que vão da chegada dos missionários, no século XVI (1548-1550), passando pela interdição, no início do século XVII, que veio culminar um clima de perseguição já instalado, até à reabilitação, com o levantamento da interdição, em 1873.

Inicialmente, a instalação da Companhia de Jesus no Japão foi uma história de sucesso –? Nagasaki chegou a ser administrada pela ordem –, mas, em 1590, o clima era já de confronto com poderes feudais. E a interdição do cristianismo viria a ser decretada em 1614, as relações com Portugal seriam suspensas e os europeus seriam expulsos. Durante a primeira metade do século XVII, 75 missionários foram executados e estima-se que mais de mil cristãos foram mortos.

Entre os locais agora classificados estão Arima e Amakusa, locais da revolta cristã de 1637. Na ilha de Kuroshima, outro dos locais classificados, o templo budista ocupa hoje o lugar da antiga igreja Shuntokuji (Dos Santos), fundada por portugueses, exemplo actual de tolerância religiosa, onde uma imagem de Maria está ao lado de um Buda.

O escritor Shusako Endo escreveu sobre a perseguição aos cristãos japoneses no romance Silêncio, que o realizador norte-americano Martin Scorsese, levou ao cinema, centrado na história dominante do missionário Cristóvão Ferreira, de Torres Vedras, que foi morto no Japão, no século XVII.

João Mário Grilo dirigiu Os Olhos da Ásia, filme que combina reconstrução de época com a actualidade, num tom documental, que visita os locais agora sujeitos a classificação.

O Comité de Património Mundial da UNESCO iniciou na sexta-feira a análise de novas candidaturas a património mundial, entre as quais se encontra a franco-belga Lugares funerários e memoriais da I Guerra Mundial na Frente Ocidental, que envolve mais de meio milhão de sepulturas, de mais de uma centena de cemitérios, necrópoles e monumentos.

O cemitério militar português de Richebourg pode, assim, vir a fazer parte da lista de lugares classificados como Património Mundial, no ano em que se assinala o centenário da Batalha de La Lys, a maior derrota militar portuguesa.

Entre as candidaturas em análise encontram-se também a Catedral de Naumburgo, na Alemanha, as Colónias de Beneficência da Bélgica e da Holanda, a Medina de Azahara, em Espanha, o conjunto urbano histórico de Nimes, em França, as minas de Rosia Montana, na Roménia, e o sítio megalítico de Göbekli Tepe, na Turquia.

As classificações entretanto já feitas contemplam as construções tradicionais de Thimlich Ohinga, no Quénia, a antiga cidade muralhada de Qalhât, em Omã, e o oásis de Al Ahsa, na Arábia Saudita, o maior do mundo.

O Comité da UNESCO reúne-se até 4 de Julho no Bahrein.

 

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