Investimento em ciência continua a aumentar em Portugal

Despesas com investigação e desenvolvimento foram 1,33% do valor do PIB em 2017. Empresas já valem mais de metade do dinheiro investido no sector, superando o esforço público pela primeira vez desde 2012.

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Em 2017 existiam em Portugal um total de 44.322 investigadores Maria João Gala/Arquivo

Todos os indicadores do mais recente Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional (IPCTN) mostram um reforço da tendência de crescimento que começou em 2016 quando, após seis anos de quebra, o país conseguiu aumentar as despesas com investigação e desenvolvimento (I&D). Agora, os dados provisórios de 2017 mostram que Portugal investiu 2563 milhões de euros em I&D (mais 175 milhões do que em 2016), o que representa 1,33% do produto interno bruto (PIB), quando em 2016 era de 1,29%.

Os números publicados este sábado pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) revelam ainda que, pela primeira vez desde 2012, a despesa privada ultrapassou a despesa pública, aumentando 12% em 2017 e representando mais de metade da despesa nacional em I&D.

A melhoria dos indicadores do IPCTN não é estridente mas é geral. Em todos os parâmetros há subidas a registar, algumas mais subtis do que outras. Uma das principais novidades será a ultrapassagem que a despesa privada faz, pela primeira vez desde 2012, à despesa pública.

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Aumentar

“O crescimento da despesa em I&D é particularmente expressivo no sector das empresas, já que a despesa nesse sector cresce 138 milhões de euros, ou seja, cerca de 12% entre 2016 e 2017, atingindo 1295 milhões de euros em 2017 (era 1157 milhões em 2016 e de 1037 milhões em 2015)”, destaca o comunicado de imprensa sobre o relatório, adiantando ainda que “este crescimento supera, assim, em cerca de 16% o crescimento relativo que já tinha sido registado entre 2016 e 2015”.

A despesa em I&D das empresas atingiu em 2017 cerca de 0,67% do PIB (era 0,61% em 2016 e 0,58% em 2015) e a despesa em instituições privadas sem fins lucrativos foi cerca de 0,02% do PIB. Feitas as contas, o esforço privado representa cerca de 52% da despesa nacional total em I&D.

Relativamente à despesa total em I&D, Portugal parece reforçar a tendência de crescimento verificada desde 2016, registando um aumento de 7,2%, que, nota o comunicado, é “superior ao aumento relativo do PIB que está estimado em cerca de 4%”. Degrau a degrau, a despesa foi passando de 1,24% do PIB em 2015, para 1,29% em 2016 para chegar aos 1,33% em 2017. A recuperação existe mas anda nos deixa longe de 2009, ano em que Portugal investiu em I&D mais de 2770 milhões de euros que representavam 1,64% do PIB. Um valor ainda assim baixo para muitos dos que esperam um maior investimento neste sector mas, ao mesmo tempo, o mais alto registado nos últimos 35 anos.

A partir de 2010 o país iniciou um ciclo de queda. Os sinais de recuperação já eram evidentes nos dados da DGEEC referentes a 2016. Agora, de acordo com os dados do IPCTN, mantém-se essa tendência.

Além dos indicadores já referidos, a despesa em I&D do sector de ensino superior também cresceu cerca de 2,2% (ou seja, 24 milhões de euros), para 1092 milhões de euros (era de 1068 milhões em 2016), continuando a representar cerca de 0,57% do PIB. Resta esperar que a tendência se mantenha.

Meta de 3% do PIB para 2030

Para quem já não se lembra, convém recordar que Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, se colocou ao lado do primeiro-ministro António Costa quando este anunciou, em Maio de 2017, o ambicioso plano para reforçar o investimento em I&D que tinha como meta alcançar entre 2,7 e 3,3% do PIB em 2022, o que nos colocaria finalmente ao nível da média europeia. Na altura, Manuel Heitor sublinhou que esta era “uma visão”, uma “ambição”, “um compromisso” que Portugal tinha de assumir. No entanto, cumprir esse compromisso seria dificílimo e complexo, avisou o ministro. Passados alguns meses, será que as metas se mantêm? Sim e não. “Claro que as metas para 2030 se mantêm em atingir 3% do PIB para o investimento total em I&D”, responde Manuel Heitor esta sexta-feira ao PÚBLICO, alterando ligeiramente o calendário. “Estes novos resultados de 2017 mostram que os desafios se mantêm e que temos de alavancar os resultados de 2016 (aumento de 138 milhões de euros) e de 2017 (aumento de 175 milhões de euros), para continuar a aumentar o investimento publico e privado”, acrescenta o ministro da Ciência numa resposta ao PÚBLICO.

O comunicado sobre o IPCTN sublinha o esforço privado e o contributo das políticas do próprio Governo. “O aumento da despesa privada em I&D reflecte o crescimento do emprego qualificado nas empresas e o esforço do sector privado em acompanhar o desenvolvimento científico e a capacidade tecnológica instalada em Portugal”, lê-se no documento, que nota ainda que “o aumento global do investimento em I&D reflecte também a prioridade política ao desenvolvimento científico e tecnológico”. Entre outras medidas, destaca-se o “Compromisso com a Ciência e o Conhecimento”, assim como a “Estratégia de Inovação Tecnológica” do Governo.

No capítulo dos recursos humanos, considerado um “elemento fundamental da estratégia seguida para o desenvolvimento científico e tecnológico em Portugal”, segundo o comunicado, a tendência também é de crescimento. Há mais investigadores no ensino superior e nas empresas. “O número de investigadores cresce sobretudo nas empresas, registando um aumento de cerca de 11% entre 2016 e 2017, enquanto o aumento no ensino superior foi cerca de 5% entre 2015 e 2016.”

No total, o ensino superior público continua a ser o sector que mais emprega investigadores, incluindo 27.435 (62% do total) em 2017, enquanto no sector privado trabalham 14.948 investigadores (34% do total). Em 2017, segundo estes dados provisórios do IPCTN, existiam em Portugal um total de 44.322 investigadores, incluindo ainda as instituições privadas sem fins lucrativos.

O número de cientistas na população activa também continua a crescer, representando, em 2017, 8,5 investigadores por cada mil habitantes (em 2016 era 8).

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