Morreu José Manuel Tengarrinha, fundador do MDP/CDE

O antigo deputado constituinte era agora militante do Livre. Tinha 86 anos. O primeiro-ministro, António Costa, lamentou esta sexta-feita a morte do fundador do MDP/CDE, um "lutador antifascista", "exemplo de cidadão civicamente activo" e um "historiador ilustre".

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pedro cunha

O fundador do MDP/CDE, José Manuel Tengarrinha, morreu esta sexta-feira aos 86 anos. 

Historiador e professor, Tengarrinha foi um resistente antifascista, foi preso pela PIDE e esteve detido na Cadeia do Aljube. Depois do 25 de Abril foi deputado na Assembleia Constituinte. Há muito que deixou a política activa, mas nunca perdeu a militância. Actualmente era membro do partido Livre. 

O corpo vai no domingo, às 18h00, para a Basílica da Estrela, em Lisboa, de onde sairá na segunda-feira para cremação, numa cerimónia reservada à família.

Na semana em que fez 80 anos, disse ao PÚBLICO já não ter "apetite para a política, mas sim para os livros." Tinha então uma agenda preenchida de obras para editar.

José Manuel Tengarrinha nasceu no Algarve, em Portimão, em Abril de 1932. Em 1969, fundou o Movimento Democrático Português/Comissão Eleitoral Democrática para concorrer às eleições legislativas e que participou no célebre Congresso Democrático de Aveiro em 1973. Estava detido no forte de Caxias no 25 de Abril de 1974: foi um dos que reagiu à intenção de António de Spínola de libertar os presos políticos por fases com a célebre frase "ou saímos todos ou nenhum".

No ano seguinte, estava já sentado como eleito na Assembleia Constituinte pelo MDP/CDE já transformado em partido, mas que era visto como um apêndice do PCP, o que Tengarrinha via como uma estratégia para enfraquecer a intervenção política da formação. Em 1987, em dissidência com o PCP, já não participou na coligação eleitoral CDU, apresentando-se às eleições com listas próprias. Nessa altura, alguns militantes dissidentes formaram a Intervenção Democrática (ID), que continuou a integrar, como independente, as listas da CDU, junto com o PCP e o Partido Ecologista "Os Verdes".

Em 1994, um outro grupo interno fundiu-se com o conjunto editor da revista "Manifesto", dando lugar lugar ao movimento Política XXI que, em 1999, viria a ser um dos três vértices da formação do Bloco de Esquerda?, juntamente com o PSR e a UDP.  Tengarrinha não participou nessa fase, mas também não se opôs.

Nessa altura já tinha enveredado por outros caminhos, uma decisão tomada no final dos anos 80 do século passado: "Queria fazer o doutoramento e a vida académica era incompatível com os ritmos da política." Quem já fora deputado da Constituinte considerou que a exigência da vida parlamentar obrigava a uma escolha. Decide-se pela universidade, mas já antes investigara e publicara.

Autor da primeira "História da Imprensa Periódica Portuguesa", editada originalmente em 1965 e, depois, em 1989, retomou mais tarde o ramo que elegeu como alvo de estudo - a história oitocentista -, para dar o primeiro volume da "Nova história da imprensa portuguesa das origens a 1865", na qual reúne a investigação do historiador sobre o liberalismo oitocentista.

Tengarrinha fez a história censurada da imprensa e dos movimentos sociais. "Os seus trabalhos foram pioneiros, é uma historiografia de novo cunho, com ferramentas inovadoras e mais cosmopolitas, que se inicia nos anos 70, mais ligada ao social e menos benévola com a visão idílica da I República", nas palavras do historiador José Pacheco Pereira.

O primeiro-ministro, António Costa, lamentou esta sexta-feira a morte de José Manuel Tengarrinha, considerando-o um "lutador antifascista", tendo sido um "exemplo de cidadão civicamente activo" e um "historiador ilustre".

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