"A memória não prescreve", diz Presidente sobre assalto a Tancos

No aniversário dos 100 anos da Ogma, o Presidente justificou a nota da véspera por ter dito “em voz alta o que os portugueses pensam em voz baixa”.

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Marcelo visitou as OGMA LUSA/Inácio Rosa

Um dia depois de se completar um ano sobre o conhecimento do assalto a Tancos, o Presidente da República insistiu na necessidade de esclarecer o que aconteceu naquele caso, dizendo que “a memória não prescreve”. À margem das comemorações do centenário das Ogma - Indústria Aeronáutica de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa vincou que “o Presidente da República continua interessado em saber o que se passou”.

Questionado sobre o caso e a nota publicada na véspera no site da Presidência, em que insistia no apuramento integral dos factos e considerava essencial o papel do Ministério Público, o chefe de Estado garantiu que não pretende dar nenhum tipo de recado à Procuradoria-Geral da República.

“O Presidente da República não se envolve no tempo da justiça, limita-se a dizer em voz alta aquilo que os portugueses pensam em voz baixa. Os portugueses, um ano depois, continuam interessados em saber o que se passou. E o Presidente também continua interessado em saber”, salientou.

Sublinhando que há uma investigação em curso há um ano, declarou que a sua nota visou “lembrar que a memória não prescreve e que, qualquer que seja o resultado dessa investigação, importa que os portugueses conheçam qual é o resultado da investigação”, acrescentou. No texto publicado recordava que estão em causa, entre outras, suspeitas da prática dos crimes de associação criminosa, tráfico de armas internacional e terrorismo internacional.

Nas OGMA, o chefe de Estado condecorou um dos mais antigos funcionários da maior empresa portuguesa do sector aeronáutico, considerando que desta forma presta homenagem a todos os trabalhadores. Marcelo Rebelo de Sousa explicou que normalmente as condecorações distinguem responsáveis políticos, empresariais ou culturais, mas que, neste caso, achou por bem realçar a contribuição das mais de 10 mil pessoas que, nestes 100 anos, ali trabalharam ou ainda trabalham.

O Presidente explicou que, na noite anterior, enquanto viajava dos Açores para Lisboa, depois da visita aos Estados Unidos da América, foi pensando numa forma diferente de prestar homenagem à Ogma. “Antes de, daqui a meses, condecorar a Ogma, entendi que primeiro devia condecorar um trabalhador, por uma vez havia um trabalhador condecorado pelo Presidente da República”, vincou, arrancando uma enorme salva de palmas das centenas de funcionários que assistiam à cerimónia num dos dez hangares da empresa.

José Cêra, actualmente com 87 anos, entrou para as antigas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico em 1941 e manteve-se na empresa durante várias décadas. Agora foi escolhido para receber um galardão da Ogma, em representação de todos os trabalhadores da casa. E acabou por voltar ao palco da cerimónia para receber a condecoração atribuída por Marcelo Rebelo de Sousa. Depois, juntou-se aos restantes funcionários, frisando que a medalha pertence a todos: “Isto não é meu, é de todos”.

Antes já os presidentes da Ogma e da Embraer (grupo brasileiro que detém 65 por cento do capital da empresa de Alverca) haviam realçado a confiança que tem existido nas relações com o Estado português e as boas perspectivas de crescimento num mercado internacional cada vez mais competitivo. Marcelo disse aos jornalistas que a privatização da Ogma (2005) tem sido “uma experiência de sucesso”, em que “acertámos em cheio na parceria Brasil-Portugal, na parceria Embraer-Força Aérea Portuguesa, acertámos em cheio nas parcerias com universidades e centros científicos e acertámos em cheio na inovação e no trabalho de trabalhadores portugueses”, concluiu.   

As cerimónias comemorativas do centenário da empresa incluíram também a inauguração do Centro Histórico (museu) da empresa. Já no sábado haverá uma jornada de portas abertas para os seus mais de 1700 funcionários e famílias. A empresa sedeada em Alverca é o maior empregador do concelho de Vila Franca de Xira e registou, em 2017, um volume de negócios de 197 milhões de euros.

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