Fotografias e azulejos Lost and Found deram uma exposição do Estúdio Pedrita

Exposição Lost and Found é inaugurada esta sexta-feira e está patente na galeria Underdogs, em Lisboa, até 28 de Julho.

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Underdogs

Fotografias perdidas e slides descartados por outros serviram de ponto de partida a Lost and Found, exposição inaugurada esta sexta-feira, 29 de Junho, em Lisboa, na qual Rita João e Pedro Ferreira, do Estúdio Pedrita, mostram trabalhos novos feitos com aparas de azulejos descontinuados.

Lost and Found, patente na galeria Underdogs até 28 de Julho, surge no seguimento do trabalho que a dupla tem feito nos últimos anos de composição de imagens com recortes de azulejo, que criam recorrendo ao espólio de azulejos industriais descontinuados deixado pelo avô de Pedro, Joaquim Cortiço.

Desta vez, a dupla trabalhou "em cima de fotografias que, de alguma maneira, eram descartadas e perdidas" e que iam ter com eles. "Ou porque as encontrávamos, literalmente, no chão, ou pessoas que encontravam na rua e nos davam, outras são achados da Feira da Ladra", explicou Rita João à agência Lusa, na galeria, enquanto estava a ser montada a exposição.

Para a designer, é "impressionante ver que há caixotes e caixotes de fotografias descartadas". "Basta estar ali [na Feira da Ladra] um bocado e vê-se vidas inteiras a passarem-nos à frente, conseguimos imaginar histórias e quase conhecer as personagens".

A dupla sentiu que "havia uma equivalência" entre o material que usam — "azulejos descontinuados, fora de moda, que foram postos de parte e armazenados, um bocado esquecidos" — e as fotografias, "também um bocado esquecidas, perdidas, que já não serviam". "As duas são recursos visuais super analógicos, muito ricos", defendeu Rita. Já no processo de escolha das fotografias acabaram por optar por "silhuetas, retratos ou coisas que fossem fáceis de representar e plasticamente interessantes", referiu Pedro.

Caco a caco

Nas oito peças que compõem a mostra, além do retrato, aventuraram-se a trabalhar imagens de corpo inteiro, algo que nunca tinham experimentado. Os dois pegam na imagem original, trabalham-na, "de uma maneira gráfica e plástica, para depois fazer a conversão para a peça".

Depois de escolhida, a fotografia, ou parte dela, "é trabalhada no computador para anular sombras e trabalhar cromaticamente". "Depois fazemos com que a imagem fique com muito pouca resolução, até ficarem quadrados também", disse Pedro.

Na fase seguinte, os designers imprimem "cinco variações da imagem", feitas com recurso com a ajuda de um programa de computador de imagens com imagens, que usa uma base de dados que criaram, onde estão os quadradinhos de azulejos que têm disponíveis. "Como isto são aparas, podemos até não ter a apara que está na base de dados ou podemos ter só duas e precisamos de dez", explicaram.

O painel em si é depois construído "a olho", tendo como guia as variações da imagem que imprimiram. Depois de feita uma primeira disposição dos azulejos, que conseguem ver através do ecrã de um tablet, recorrendo a uma câmara instalada no tecto do estúdio, percebem o que funciona ou não, substituindo algumas peças se for caso disso. Quando é necessário fazem "equivalências". Se determinado quadrado que surge na imagem já não existe na base de dados, acabam por substitui-lo por outro "que tem o mesmo valor cromático ou funciona da mesma maneira".

Na primeira exposição que fizeram na Underdogs, em 2015, as peças foram construídas sem recurso a novas tecnologias. "Subíamos a um escadote, espreitávamos por um óculo, como os que há nas portas de casa, descíamos. E também já fizemos uma [peça] de um primeiro andar para um terraço. A peça estava no chão de um terraço e íamos à janela do primeiro andar para ver como estava a ficar", contaram, rematando que, com a câmara no tecto do estúdio, "é mais rápido".

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Inicialmente, neste tipo de peças trabalhavam exclusivamente com azulejos do formato 15 por 15 centímetros. "Mas há cacos de outros formatos e começámos a introduzir 7,5 por 7,5 [centímetros], e de repente abre-se um espectro novo de cores e texturas", afirmou Rita.

Os dois não conhecem nenhum dos retratados nas peças. "E é giro, porque depois começamos a inventar", partilhou Pedro. Nessas narrativas que constroem, são ajudados pelos escritos nas costas das fotos, como aquele que identifica um dos retratados como "meu avô" ou outro que permite saber que a fotografia foi tirada na barragem de Picote (em Miranda do Douro).

Rita João e Pedro Ferreira, nascidos em 1978, fundaram o estúdio de design Pedrita em 2005. Entre os vários trabalhos que têm desenvolvido desde então, estão o livro Fabrico Próprio - o design da pastelaria semi-industrial portuguesa (em co-autoria com o também designer Frederico Duarte), o painel de azulejos Pato Mudo, feito para o projecto Travessa da Ermida, e vários objectos para a Fabrica, plataforma de experimentação na área do design, da marca italiana Benetton.

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