Adversário silencioso coloca o Brasil em “alerta amarelo”

Brasileiros garantiram o apuramento para os oitavos-de-final com uma vitória convincente frente à Sérvia, mas as sucessivas lesões fazem aumentar a pressão sobre Tite.

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Marcelo a sair do relvado do jogo com a Sérvia, lesionado nas costas LUSA/PETER POWELL

Poucos minutos depois de o Brasil derrotar a Sérvia e garantir o apuramento para os oitavos-de-final do Mundial 2018, o trajecto para a estação de metro Spartak ficou pintado de amarelo. Sob apertada e imponente vigilância de centenas de militares russos, os brasileiros deixaram um cheirinho de Carnaval no Noroeste de Moscovo. Ouviam-se referências depreciativas à Argentina e a Messi em quase todos os cânticos, ouvia-se também o hit que está a marcar a passagem da “canarinha” pela Rússia com uma letra que relembra todos os títulos mundiais do Brasil: “58 foi Pelé/em meia dois foi pró Mané/em sete zero pró esquadrão/primeiro a ser tricampeão/94 Romário/2002 fenómeno/primeiro tetracampeão/único pentacampeão.”

A euforia pelo apuramento e boa exibição era quase generalizada. Quase. Imunes à festa que decorria à sua volta, dois brasileiros com a camisola do Palmeiras analisavam o jogo enquanto caminhavam para a estação. “O Philippe Coutinho deu show, mas o segundo golo foi na altura exacta. A Sérvia estava apertando. O Firmino devia jogar”, dizia um. “O Tite sabe o que faz e o Gabriel Jesus é melhor. O problema são tantas lesões”, retorquia o amigo.

Se no relvado Philippe Coutinho tem sido a estrela do Brasil – o médio do Barcelona igualou um feito de Pelé com 60 anos ao fazer golos ou assistências em três jogos consecutivos de um Mundial –, nos bastidores o protagonismo tem sido de Rodrigo Lasmar. Filho de Neylor Lasmar, médico da selecção brasileira nos Mundiais de 82 e 86, o ortopedista, de 45 anos, foi no final do Brasil-Sérvia um dos elementos da comitiva da CBF mais requisitados na “zona mista” do Spartak Stadium. Motivo? Depois de Danilo e Douglas Costa sofrerem lesões nos primeiros jogos, a terceira partida da “canarinha” na Rússia fez a terceira baixa: Marcelo.

“É muito cedo para fazer qualquer previsão. A resposta [de Marcelo] aos primeiros tratamentos foi boa. Está medicado e teremos que esperar 24 a 48 horas para ter uma resposta mais concreta”, começou por explicar o médico mineiro que três meses antes do início do Mundial foi responsável pela cirurgia ao quinto metatarso do pé direito de Neymar. Se Danilo e Douglas Costa “ficaram a recuperar em Sochi” de lesões musculares e “ainda terão que ser reavaliados”, a lesão de Marcelo, segundo Rodrigo Lasmar, deveu-se a “uma contractura muscular, um mau jeito na coluna”. “Acontece. Pode ter a ver com o colchão do hotel, que é um pouco mais macio.”

Na dureza dos colchões do luxuoso Swissotel Resort, em Sochi, pode estar a explicação para o problema que aflige o último paciente de Lasmar, mas desde que o Brasil iniciou a 21 de Maio no novo Centro de Excelência do Futebol Brasileiro, em Teresópolis, o estágio para o Mundial 2018, as lesões têm sido sucessivas. Para além de Marcelo, Douglas Costa e Danilo, que estão em dúvida para o jogo na próxima segunda-feira contra o México, Neymar, Fagner, Renato Augusto e Fred também já tiveram problemas físicos. Com a CBF em “alerta amarelo” pelas sucessivas lesões, a pressão sobre Tite, assumidamente defensor de cargas de treino intensas, aumenta.

Renato Augusto, o primeiro a sofrer uma lesão e um dos líderes do balneário brasileiro, admitiu que o “excesso de carga” na primeira semana de preparação foi responsável pela inflamação no seu joelho direito. Porém, o principal ataque à metodologia de Tite surgiu de fora. Depois do músculo adutor da coxa direita de Douglas Costa ceder nos últimos minutos do Brasil-Costa Rica, a mulher do jogador da Juventus colocou a responsabilidade no técnico da “canarinha”. “Ele [Douglas Costa] disse-me que sente essas lesões porque os treinos são muito intensos. Sentiu porque os treinos na Juventus eram mais leves e nos jogos é que se esforçava mais. O Douglas tem uma explosão, uma velocidade. É um dos poucos. Sempre se esforça ao máximo”, afirmou Louise Ramos ao Jornal Extra.

Já sem o “fantasma Alemanha” no horizonte, o trajecto brasileiro até à final de Moscovo parece estar agora, após três lesões em três jogos, assombrado por um adversário novo e silencioso. É que na longa e rica história do Brasil em Campeonatos do Mundo, apenas cinco jogadores se tinham lesionado durante a competição: Pelé (1962), Leivinha (1974), Ricardo Rocha (1994), Elano (2010) e Neymar (2014).

 

 

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