A diversidade na tecnologia "não é só sobre mulheres"

Karen Chupka, a estratega por detrás da CES, uma das maiores feiras de tecnologia do mundo, diz que a prioridade é pôr especialistas a falar. E frisa que são precisas “pessoas com diferentes percursos e de diferentes locais, pessoas de outras etnias, pessoas com deficiências”.

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Em 2019, a CES quer garantir que os painéis são diversificados Steve Marcus

Pensar só nas mulheres não resolve o problema da diversidade no sector da tecnologia – o argumento é da vice-presidente executiva da Consumer Electronic Show, ou CES, uma das maiores e mais antigas feiras de tecnologia do mundo que acontece anualmente em Los Angeles, EUA.

O evento que Karen Chupka ajuda a organizar há mais de 25 anos foi alvo de fortes críticas durante a sua última edição, em Janeiro, pela ausência total de mulheres a falar nas grandes apresentações sobre o futuro da indústria. Os oradores – da Intel, Huawei, Ford, Baidu, Hulu e da Turner, um conglomerado de media – eram todos homens.

Em conversa com o PÚBLICO durante o CEO Summit, um evento de pré-preparação para a CES, Karen Chupka diz que os esforços para promover diversidade não se podem limitar às mulheres. “Não é só sobre mulheres”, argumenta a vice-presidente. “Temos de garantir que damos espaço a um leque diversificado de vozes. Somos uma feira internacional. Também é preciso ter pessoas a falar de diferentes partes do mundo, porque há formas diferentes de ver a tecnologia e de fazer as coisas. A dificuldade, para nós, é perceber como é que atacamos todos estes pontos.”

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Karen Chupka, vice-presidente executiva da CES Consumer Electronic Show

Sobre a falta de diversidade de género, lembra que, apesar da falta de mulheres como cabeças de cartaz na CES, mais de 64% das sessões e debates no evento de 2018 contaram com elementos do sexo feminino, e 300 das oradoras eram mulheres, o que representou cerca de 30% do total. É algo que a CES aponta como um problema global no sector tecnológico. Dados do portal de estatísticas Statista mostram que há menos de 25% de mulheres a trabalhar as áreas tecnológicas de grandes empresas como a Microsoft, Google, Apple, Amazon e Facebook.

Embora Chupka admita que motivar mais mulheres a entrar no sector seja fundamental, diz também que é importante não esquecer outras áreas. Em 2019, a feira tem regras novas para promover a diversidade. “Uma das estratégias que estamos a experimentar é exigir que todos os membros dos painéis de discussão com mais de três pessoas tenham o que chamamos um membro ‘diverso’. Ou seja, alguém de uma comunidade ou área pouco representada."

Além das mulheres, é preciso trazer “pessoas com diferentes percursos e de diferentes locais, pessoas de outras etnias, pessoas com deficiências”. Na área da tecnologia associada à saúde, que Chupka considera uma das grandes tendências para os próximos anos, diz que também é importante dar voz às pessoas que vão utilizar os produtos, às associações de consumidores, e aos profissionais da área.

Contacto com a Ásia

Incluir mais profissionais da Ásia é outra das grandes metas. A possibilidade de o presidente norte-americano Donald Trump dificultar o investimento de empresas chinesas em tecnologia nos EUA é algo que preocupa a organização. Em Maio, a Administração de Trump anunciou que ia implementar restrições específicas nos investimentos e exportação de tecnologia “industrialmente significativa” de alguns países, como a China. “Enquanto organização focada em tecnologias de consumo, estamos convencidos de que ninguém vai beneficiar de um mercado assim”, disse Gary Shapiro, o presidente da CTA, a associação responsável pela CES, durante o CEO Summit. A lista de restrições será conhecida no final do mês.

"As políticas em vigor na China apoiam fortemente novas tecnologias a emergir e a inovação em drones e em veículos autónomos", explicou Karen Chupka. "A legislação na China torna mais fácil que amadores explorem a utilização de drones voadores." Em Abril, o Ministério do Transporte da China anunciou que os governos de todas as cidades e províncias teriam o poder para autorizar testes com carros autónomos.

Manter boas relações com as regiões da Ásia é fundamental. Mesmo com críticas, a CES insiste que o lema da feira continua a ser "diversidade como a chave da inovação".

Questionada, no entanto, sobre o maior foco, Chupka diz que o primeiro passo é garantir diversidade ao nível da tecnologia. "Não queremos ter especialistas de um só tema. Precisamos de especialistas de inteligência artificial, de robótica, de redes 5G”, enumera. “Queremos garantir que as pessoas que pomos a falar são especialistas em tecnologia.”

O PÚBLICO viajou a convite da CTA

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