Matemática A: Iave diz a professores para corrigirem de forma diferente da prevista no exame

Critérios de correcção foram alterados pelo Instituto de Avaliação Educativa três dias depois da realização do exame e quando os professores já estavam a corrigir as provas.

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Alunos também se queixaram do exame Paulo Pimenta

O Instituto de Avaliação Educativa (Iave), responsável pela elaboração e classificação dos exames nacionais, decidiu nesta quinta-feira alterar os critérios de correcção de três perguntas do exame de Matemática A do 12.º ano, realizado na segunda-feira, de modo a que sejam validadas respostas que contrariam o que estava expressamente indicado na prova.

Segundo o PÚBLICO apurou, os professores que estão a corrigir os exames de Matemática A receberam nesta quinta-feira um “esclarecimento” do Iave relativo à classificação dos três itens, todos eles de escolha múltipla, em que eram feitas perguntas em alternativa: uma dirigida aos alunos que estudaram pelo programa que esteve em vigor até 2015; outra para os estudantes que já seguiram o novo programa.

Os três itens valem 24 pontos em 200 de cotação total da prova. As perguntas em causa são: o bloco 1, no 1º caderno, onde eram dadas indicações expressas para que o item 1.1. fosse respondido pelos alunos do programa antigo e o item 1.2 pelos alunos do programa novo; o bloco 8, no 2.º caderno, onde o item 8.1. se dirigia aos alunos do programa antigo e o 8.2 aos do novo; e o bloco 10, no 2.º caderno, onde o item 10.1. era para os alunos do programa antigo e o 10.2 para os do novo.

Em qualquer bloco é dada a informação sobre a que programa respeita cada item, com a seguinte formulação: “Os dois itens que se apresentam a seguir são itens em alternativa (…). Responda apenas a um dos dois itens. Na sua folha de respostas identifique claramente o item seleccionado."

Ora, no esclarecimento enviado nesta quinta-feira aos professores, a que o PÚBLICO teve acesso, o Iave dá instruções opostas ao que estava expresso na prova e também nas informações que publicou antes da realização do exame. Estipula agora o Iave que se o aluno, ao contrário do que era pedido no exame, tiver acabado por responder aos dois itens e uma das respostas estiver correcta, “esta deve ser considerada” para efeitos de cotação.

Indica também que se o aluno “não identificar o item pelo qual optou, isto é, se o examinando se limitar a escrever, por exemplo 1. [em vez de 1.1 ou 1.2], a resposta do examinando deve ser considerada”.

Professores ouvidos pelo PÚBLICO, e que pediram o anonimato, frisam que com esta alteração dos critérios de correcção, o Iave está a colocar em “desvantagem os alunos que cumpriram as instruções e apenas responderam a uma das opções”, porque se tiverem errado na sua escolha única não lhes é atribuída cotação. Nas redes sociais também já existem comentários indignados por parte de pais de estudantes que estão nesta última situação.

O PÚBLICO pediu esclarecimentos ao Iave, que adiou eventuais respostas para esta sexta-feira.

As questões que agora estão em causa são também as que geraram mais críticas por parte dos professores, nomeadamente da Sociedade Portuguesa Matemática (SPM). No seu parecer sobre o exame, a SPM considerou que não foi “salvaguardado o interesse dos alunos por não terem sido elaboradas as duas provas que se impunham: uma para os alunos do actual programa e uma outra para os alunos repetentes, versando sobre o programa anterior”.

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