Salah fora da selecção egípcia? Uma foto está a causar polémica

O mal-estar entre o jogador e a federação iniciou-se quando Salah foi fotografado ao lado de Ramzan Kadirov, governador da Tchetchénia. Kadirov é acusado de perseguir minorias sexuais e de crimes como assassinato, tortura e rapto.

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Reuters/DYLAN MARTINEZ

Mohamed Salah pondera abandonar a selecção do Egipto. Em causa está o facto de o avançado do Liverpool não querer ser utilizado como um símbolo político. Na origem do diferendo estará uma eventual "colagem" política da sua imagem ao governador tchetcheno, Ramzan Kadirov. O jogador terá partilhado o seu desagrado a pessoas próximas, noticia a CNN.

O mal-estar entre o avançado do Liverpool e a federação iniciou-se quando Salah foi fotografado ao lado de Ramzan Kadirov. As fotografias foram tiradas durante uma visita do governador tchetcheno a uma sessão de treinos da seelcção egípcia, no passado dia 10 de Junho. A divulgação das imagens nas redes sociais terá caído mal ao jogador egípcio.

Contudo, a gota de água aconteceu quando Kadirov atribuiu a cidadania honorífica tchetchena ao avançado egípcio. A atribuição aconteceu durante um banquete, que serviria para assinalar a despedida da selecção norte-africana da Tchetchénia. A região russa foi a “base” da selecção norte-africana durante a participação no Mundial 2018. 

Ramzan Kadirov, líder da Tchetchénia desde 2007, é acusado pela comunidade internacional de perseguições a minorias sexuais, repressão às mulheres, crimes de guerra e repressão política. Kadirov é acusado, ainda, do assassinato de Boris Nemtov, um dos principais opositores de Putin, em 2015. A Thetchénia vive mergulhada em profundos conflitos internos entre separatistas e forças apoiantes de Moscovo desde a dissolução da União Soviética. Ramzan Kadirov, durante a sua juventude, liderou um grupo rebelde que lutava contra o poder do Kremlin na região. Na década de 1990, tornou-se leal a Moscovo, tendo sido nomeado governador da Tchetchénia, em 2007, por Vladmir Putin. Várias ONG acusam o grupo rebelde comandado por Kadirov de múltiplos crimes, entre os quais tortura, assassinato e rapto. 

No passado domingo, na iminência de o jogador não entrar em campo frente à Arabia Saudita, muitas foram as manifestações de apoio ao avançado egípcio. Centenas de adeptos apoiaram o jogador, publicando mensagens de solidariedade nas redes sociais com a hashtag I'm With Salah.

Os adeptos não foram os únicos a manifestar-se. A directora da organização humanitária Human Rights Watch, Minky Worden, declarou o seu apoio ao atleta através do Twitter, relembrando à FIFA que já havia alertado para uma situação de potencial aproveitamento político por parte Kadirov. No tweet de Minky Worden pode ler-se: "A Human Rights Watch avisou a FIFA que Kadirov iria usar a bandeira da FIFA para trazer ignomínia ao Mundial 2018".

Federação egípcia nega intenção de Salah abandonar a selecção

A federação egípcia veio afastar a possibilidade de Salah abandonar a selecção. Numa carta enviada no passado domingo à CNN, a federação garante desconhecer a intenção de o jogador deixar de representar a selecção. "Nós estivemos durante o dia inteiro com ele [Salah] e ele nunca discutiu esta questão com nenhum membro da comitiva". A organização que tutela o futebol egípcio diz que não deve nem tem a função de discutir questões políticas. "Estamos num evento desportivo e seguimos os procedimentos da FIFA, não discutimos política, e se existir algum debate desta natureza, deve ser direccionado à FIFA", escreveu a federação de futebol egípcio na mensagem enviada à CNN.

Apesar da polémica, o jogador apresentou-se no derradeiro jogo do conjunto egípcio, e até marcou um golo na derrota do Egipto por 2-1 frente à Arábia Saudita. Os egípcios já se encontravam afastados dos  oitavos-de-final do Mundial 2018 antes da última jornada do Grupo A, depois das derrotas registadas frente  ao Uruguai e a Rússia.

Texto editado por Hugo Daniel Sousa

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