Recorde de invencibilidade europeu não chega para Portugal?

Com o empate frente ao Irão, a selecção superou pela quarta vez a fase de grupos de um Mundial e não perde em fases finais há 17 jogos, números que não afastam o pessimismo para o jogo com o Uruguai.

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Jogadores de Portugal festejam o apuramento para os oitavos-de-final do Mundial 2018 Reuters/MATTHEW CHILDS

Poucos minutos depois de uma grande penalidade muito questionável assinalada com recurso ao videoárbitro ter empurrado Portugal para o lado do Mundial onde, em teoria, vão estar os principais favoritos à vitória na competição, e onde, na prática, haverá menos um dia de descanso e mais 1500km de viagem, quatro jogadores portugueses pararam no zona mista do Arena Mordovia para falar com os jornalistas. João Mário disse que a partir de agora será “passo a passo, o mata-mata é diferente”; Adrien garantiu que apesar de Cristiano Ronaldo ter falhado a grande penalidade, a confiança do capitão “é inabalável”; José Fonte salientou que o “mais importante foi conseguido, que é passar”. Ricardo Quaresma respondeu como joga e foi directo. Podia ter sido melhor? “Vocês nunca estão contentes com nada!”

Há dois anos, em França, Portugal iniciou a fase de grupos com um empate a um golo e garantiu o apuramento para os oitavos-de-final do Euro 2016 no último jogo com nova igualdade, desta vez a três. Sem vencer Islândia, Áustria e Hungria, a equipa portuguesa foi duramente criticada. O adversário seguinte era a talentosa Croácia, que tinha feito gato-sapato da Espanha uns dias antes. O destino português estava traçado, vaticinou a maioria. Mas com um golo de Quaresma, em Lens, Portugal mandou os croatas para casa. Na Rússia, a sequência foi ao contrário: 3-3 a abrir, 1-1 a fechar. A diferença é que pelo meio houve uma vitória contra Marrocos. A censura às exibições repete-se. Com o temido Uruguai de Suárez e Cavani pela frente, o pessimismo para o jogo de sábado, em Sochi, regressa. 

Num grupo em que também estava a Espanha, Portugal só não garantiu o primeiro lugar, que seria vantajoso logística e desportivamente, pela diferença de menos um golo marcado. As dificuldades sentidas pelos portugueses contra marroquinos e iranianos foram as mesmas com que os espanhóis se depararam nos seus duelos com as selecções comandadas pelo elogiado Hervé Renard e pelo idolatrado (no Irão) Carlos Queiroz. Mais: o empate contra o Irão coloca a equipa portuguesa num patamar que Alemanha, França, Espanha, Inglaterra ou Itália nunca atingiram. Excluindo desempates por grandes penalidades, a última vez que a selecção nacional foi derrotada numa fase final foi a 16 de Junho de 2014, no Mundial do Brasil. Há quatro anos e 12 dias. O adversário foi a Alemanha, que umas semanas mais tarde tornar-se-ia campeã do mundo. Depois disso, seguiram-se 17 jogos consecutivos sem perder, 15 deles com Fernando Santos no comando de Portugal. Um recorde a nível europeu. Ser invencível não chega. Afinal, dizem os críticos, dez desses jogos terminaram empatados.

Ora, então, puxemos o filme atrás. Olhando para as 15 partidas consecutivas sem derrotas de Fernando Santos em fases finais, quem foi realmente melhor do que Portugal? No Euro 2016, no percurso até à final, apenas contra a Croácia, em que existiu respeito mútuo em excesso, e num descontrolado jogo com a Hungria o empate ajustou-se ao que se passou nos 90 minutos. Na Taça das Confederações, somente nas meias-finais, com o Chile, se viu Portugal subjugado pelo adversário, mas o jogo acabou a zero. A vitória chilena no desempate por penáltis colocou justiça no resultado. Excluindo a final do Stade de France contra a França, um jogo especial pelas incidências que teve, em todas as outras partidas a estatística comprova que Portugal, jogando melhor ou pior, dominou, foi mais forte e esteve mais perto de vencer.

Na Rússia, sim. A história tem sido diferente. Contra Espanha e Marrocos, os (bons) resultados foram melhores do que as (más) exibições. Fernando Santos não o negou e anunciou mudanças que se cumpriram em Saransk. De regresso à fórmula utilizada nos últimos dois anos (4x4x2, com Ronaldo e André Silva no ataque), o que se viu durante 53 minutos na Arena Mordovia foi uma selecção portuguesa dominadora, que chegou a asfixiar os iranianos e a calar as insuportáveis vuvuzelas. Só que, desta vez, faltou Ronaldo. Decisivo contra a Espanha e Marrocos, o capitão português falhou pela sexta vez um penálti com a camisola de Portugal. De uma possível vantagem de dois golos que anularia qualquer resistência persa, passou-se para uma parte final em que o jogo descontrolou-se para Portugal e para o árbitro paraguaio, sob enorme pressão dos adeptos, jogadores e do banco do Irão, com Queiroz à cabeça.

Com o 1.º lugar no Grupo B virtualmente garantido no minuto 90, Portugal viu-se, assim, ultrapassado pela Espanha, após a marcação do polémico penálti. De qualquer maneira, a selecção portuguesa, que apenas tinha ultrapassado a fase de grupos de um Mundial em três das seis participações, tremeu, mas não caiu. Nada de novo para Fernando Santos. O seleccionador nacional ultrapassou todas as fases de grupos em todas as fases finais que disputou: 2012 e 2014 com a Grécia; 2016, 2017 e 2018, com Portugal. Sábado, em Sochi, há mais.

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