Portugal-Irão à lupa: Mais circulação, precisão e velocidade

O Laboratório de Perícia no Desporto da Faculdade de Motricidade Humana analisou o jogo Portugal-Irão com base nos dados fornecidos pela InStat. Esta informação permite calcular a rede de acções que liga os jogadores de cada equipa.

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A equipa portuguesa iniciou o jogo posicionada no habitual 1-4-4-2, ao passo que a equipa do Irão estava posicionada em 1-4-1-4-1, com a primeira linha de pressão próxima do meio-campo. A rede de acções de Portugal diferenciou-se daquelas dos jogos anteriores, nomeadamente por fazer alinhar desde o início Adrien, Quaresma e André Silva, em vez de João Moutinho, Bernardo Silva e Gonçalo Guedes.

No jogo com o Irão, Portugal circulou muito mais a bola (620 passes) e com mais precisão (89%) e maior velocidade (número de passes por minuto = 15,7) que nos jogos anteriores. Já a equipa treinada por Queiroz realizou muito menos passes (226) e com menos precisão (68%) que a portuguesa, criando muito pouca intensidade na circulação da bola. Portugal conquistou 14 oportunidades para marcar golo, ao passo que o Irão conseguiu apenas 8. Portugal teve a posse de bola 67% do tempo e foi o jogo em que percorreu menor distância (89km, para 93km dos iranianos). Todavia, nos últimos 15 minutos de jogo o tempo de posse de bola da equipa portuguesa desceu para 57%.

A rede de Portugal apresentou uma centralização maior (64%, sobretudo devido a Adrien), uma densidade de passes duas vezes maior (26%) e uma reciprocidade maior (76%) que nos jogos anteriores. Já a heterogeneidade foi muito menor que nos jogos anteriores (28%) indicando que a bola circulou mais por toda a equipa. Apesar das diferenças com os jogos anteriores, manteve-se o padrão de maior densidade de circulação de bola no lado esquerdo de Portugal e com maior sucesso (14%), apesar de haver mais ataques pelo corredor direito. Manteve-se também o papel proeminente de Raphaël Guerreiro, William e de Adrien (em substituição do habitual João Moutinho). Adrien foi mesmo o jogador que mais fez circular a bola e com uma precisão quase perfeita de 97%. José Fonte teve um papel importante no início de construção ofensiva da equipa portuguesa ao conseguir combinar de forma frequente com Adrien Silva. Todavia a circulação de bola portuguesa apresentou um maior número de toques por cada jogador, o que contribui para aumentar a sua previsibilidade.

A rede de acções do Irão apresentou uma densidade muito reduzida (2%) (e mesmo assim apresentamos ligações na rede apenas com 4 passes ou mais, em vez de 5 como na rede portuguesa. A centralização da equipa iraniana foi de 47%, e a reciprocidade de 57%, portanto menores que as de Portugal. A heterogeneidade foi bem superior (54%). O jogador que mais passes realizou foi Ramin Rezaeian (34) com uma precisão de 71%.

Nos momentos iniciais do jogo, o Irão apenas conseguiu atacar em contra-ataque, procurando passar primeiramente a Sardar Azmoun e envolvendo posteriormente outros jogadores tais como Amiri, Jahanbakhsh ou Mehdi. Do lado de Portugal, verificou-se uma tendência de ataque pelo lado esquerdo, com combinações frequentes entre Cristiano Ronaldo, João Mário e Raphaël Guerreiro. Do lado direito, Cédric Soares assistiu frequentemente a Ricardo Quaresma, que conseguia ganhar espaço nas costas de Haji Safi. Foi de uma destas combinações que surgiu o golo português, após um remate de trivela de Quaresma, aos 45’.

Aos 52’ é assinalado um penálti a favor da equipa portuguesa, o qual é marcado por Ronaldo e defendido por Beiranvand. O Irão foi assumindo um posicionamento mais avançado no terreno e com maior intensidade, o que provocou maior divisão entre as equipas no controlo do jogo. A equipa iraniana chega ao empate quase no final do jogo, através de um lance de grande penalidade. O jogo termina com o Irão a explorar um ataque mais direto, através da colocação de vários jogadores em zonas próximas da área portuguesa.

Portugal dominou o jogo, estabeleceu padrões de interacção entre jogadores, mas empatou. Este resultado permitiu atingir o objectivo prioritário que era passar aos oitavos-de-final. Este jogo possibilitou também mostrar flexibilidade, com a troca de Adrien por Moutinho, mantendo a eficácia e o padrão de jogo da equipa portuguesa. Além disso, Adrien foi determinante para a organização ofensiva, foi para quem os outros jogadores mais passavam a bola, originando a maior centralização da equipa portuguesa neste jogo. Todavia, esta centralização não incluiu de forma tão intensa como nos jogos anteriores, os dois avançados, em particular Cristiano Ronaldo. Por outro lado, foi pela combinação com Adrien, que Quaresma criou a oportunidade para o remate de trivela que deu o golo português e que permite a Portugal jogar com o Uruguai no próximo sábado.

Duarte Araújo, José Maria Pratas, Rui Freitas, Rui J. Lopes

Laboratório de Perícia no Desporto da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa; e ISCTE-IUL. Dados fornecidos por InStat.

Informação técnica:

Na rede de acções, o “tamanho” que ilustra cada jogador é definido pelo número de interações (tais como passes, lançamentos, cruzamentos) com outros jogadores. A cor vermelha é a que indica maior precisão nas acções, diminuindo a escala para laranja, amarelo, e verde (menor precisão). A “largura” de cada ligação (seta), que só aparece se for igual ou superior a 5, aumenta em função do número de acções realizadas entre os jogadores dessa ligação. A análise da rede de cada equipa implica que se incluam todos os jogadores, incluindo os substituídos. Porém, jogadores que não tenham realizado ou recebido um mínimo de 5 passes (4 no caso do Irão) aparecem sem ligações, para que a rede apresente apenas as ligações mais estáveis na dinâmica da equipa neste jogo.

A rede de acções permite calcular indicadores de desempenho colectivo da equipa: a centralização apresenta o quanto as acções são distribuídas pelos jogadores (0% de centralização), ou acumuladas por um só jogador (100%, de 0 a 1); a reciprocidade é uma medida que sintetiza o quanto cada jogador passa e recebe a bola de outro jogador (e.g., se um jogador só passa a bola a um jogador e não a recebe desse jogador tem pouca reciprocidade); a heterogeneidade indica como a “largura” das ligações foi distribuída entre jogadores, portanto se há uns muito ativos e outros pouco participativos então há maior heterogeneidade; e a densidade mostra a quantidade de cooperação entre jogadores.

 

 

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