Caixas de ovos, legumes e vigas mudam espaços de Viseu durante Jardins Efémeros

Partindo do tema do corpo, artistas locais, nacionais e internacionais vão levar para o centro histórico as suas criações artísticas na área da arquitectura, das artes visuais, do som, do cinema, da polis, das oficinas, dos mercados, do teatro e da dança.

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Uma instalação num edifício devoluto no Largo de Santa Cristina de "± maismenos ±" [P.O.], numa das edições passadas dos Jardins Efémeros LM MIGUEL MANSO

A oitava edição dos Jardins Efémeros, de Viseu, permitirá aos participantes sentarem-se em peças de mobiliário feitas com embalagens de ovos, numa construção escultórica com longas vigas de madeira ou em caixas onde estão plantados legumes.

Tendo como tema o corpo, a edição deste ano dos Jardins Efémeros realiza-se de 6 a 10 de Julho, e volta a transformar o centro histórico de Viseu pela mão de artistas locais, nacionais e internacionais, com um orçamento global de 170 mil euros.

"Tentamos, sempre que podemos, fazer intervenções em espaço público para melhorar o número de pessoas a utilizarem-no para a sociabilidade e para a utilização da cidade", justificou Sandra Oliveira, da organização, durante a apresentação do programa.

A apresentação foi feita no Mercado 2 de Maio, junto a pés de salsa, alfaces e repolhos plantados em caixas de madeira, onde as pessoas se podem sentar, um espaço que será o corolário do projecto O meu corpo é o meu jardim, cujo objectivo é a sensibilização para o direito a uma alimentação e nutrição adequadas.

Este projecto transdisciplinar resultou da parceria entre os Jardins Efémeros, a FIAN (FoodFirst Information and Action Network), os arquitectos Nuno Vasconcelos e Luís Pedro Seixas, o Agrupamento de Escolas Grão Vasco, a Ordem dos Nutricionistas e a técnica de origami Cristina Baccari.

"Trabalhámos com professores sobre alimentação e nutrição adequadas, ouvimos as suas queixas e sabemos a dificuldade de fazer a alimentação das escolas por causa do tipo de contratação que se faz, em que prevalece o preço", disse Sandra Oliveira.

Segundo a responsável, o jardim "simultaneamente é um palco: toda a gente o pode ocupar para poder dizer ou mostrar artisticamente o que quer".

Em articulação com a Câmara, a instalação será mantida até 15 de Setembro, voltando depois as caixas para as escolas, "para os meninos e os professores poderem novamente fazer os ciclos de plantação".

No largo Pintor Gata, estará mobiliário urbano feito com 22 mil embalagens de ovos, no âmbito do projecto Choca-me, da artista plástica Liliana Velho e do arquitecto Rafael Gomes.

"Vamos fazer uma sala de estar no largo Pintor Gata com todo este material", nomeadamente mesas, cadeiras e sofás, explicou, acrescentando que o objectivo é que as pessoas "possam estar no espaço público e nas praças".

Na Praça D. Duarte, será Fernanda Fragateiro a responsável por uma construção escultórica composta por longas vigas sobrepostas entre si, uma instalação intitulada Toda a paisagem não está em parte nenhuma.

Segundo Sandra Oliveira, trata-se de "uma peça muito performativa, toda ela é um banco", com mais de 200 lugares sentados, que permitirá fazer "uma reflexão sobre a paisagem".

"Tentamos sempre inovar e repensar o espaço público através da natureza", afirmou, frisando que, no entanto, "a natureza não são flores, são também flores".

O vereador da Cultura na Câmara de Viseu, Jorge Sobrado, disse que "esta ocupação, que traz nova arquitectura às praças do centro histórico, traz uma nova experiência, traz também questionamento, [e] é muito bem-vinda".

Partindo do tema do corpo, artistas locais, nacionais e internacionais vão levar para o centro histórico as suas criações artísticas na área da arquitectura, das artes visuais, do som, do cinema, da polis, das oficinas, dos mercados, do teatro e da dança.

Sandra Oliveira destacou "dois momentos muito importantes com a comunidade", um dos quais na rua Direita, na sequência de um trabalho desenvolvido com alunos de várias escolas.

"Vamos conseguir ter na rua Direita 25 trabalhos feitos por alunos de Viseu, 25 potenciais artistas a reflectir sobre este tema difícil", referiu.

Um outro projecto colocará representações de órgãos humanos em tamanho natural expostos nas montras de ourivesaria, no meio de peças de ouro. O seu preço será o que têm no tráfico de órgãos humanos.

O som é uma das componentes fortes dos Jardins Efémeros, sendo este ano o objectivo "tentar mostrar o que a música avançada no mundo está a fazer".

"Viseu tem o direito de saber o que é que o mundo está a fazer e que o mundo venha a Viseu, porque muitas vezes os viseenses não podem ir ao mundo", considerou, exemplificando que estarão presentes cinco músicos do Irão, que nunca saíram do seu país.

O 7 de Julho será um dia no feminino, com artistas de todos os continentes, sendo Nídia a representante de Portugal, enquanto no dia seguinte actuarão cinco bandas de Viseu, nomeadamente The Dirty Coal Train, Volcano Skin, Basalto e Galo Cant'às Duas, na praça D. Duarte.

O programa dos Jardins Efémeros deste ano integra ainda vários mercados, 128 oficinas com 3.500 vagas para crianças e adultos e cinco sessões de cinema, entre outras propostas.

"O município sente-se recompensado com o desenho da programação", disse Jorge Sobrado, lembrando que a autarquia apoiou este ano os Jardins Efémeros com 100 mil euros.

A organização da oitava edição dos Jardins Efémeros envolve 40 instituições sociais e culturais e 380 pessoas, entre artistas nacionais e internacionais, criadores, técnicos e mecenas.

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