Miguel Silva Gouveia: o presidente que se segue

Caberá ao actual número dois do Funchal, Miguel Silva Gouveia, assumir o lugar de Paulo Cafôfo, quando este sair para se dedicar em exclusivo às regionais de 2019.

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O actual vice-presidente está atrás de António Costa, na foto,O actual vice-presidente está atrás de António Costa, na foto LUSA/HOMEM DE GOUVEIA,LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

Foi no meio de uma crise política que Miguel Silva Gouveia, um engenheiro electrotécnico de 41 anos, chegou à Câmara do Funchal. Estávamos em Maio de 2014 e a coligação ‘Mudança’, que meses antes tinha roubado a autarquia ao PSD, passava por convulsões internas.

Nessa altura, três vereadores, um dos quais a vice-presidente Filipa Jardim Fernandes, bateram com a porta em protesto com a redistribuição de pelouros que Paulo Cafôfo quis fazer. Perante a renúncia, o autarca fez subir os nomes que se seguiam na lista: Domingos Rodrigues (Urbanismo e Protecção Civil), Madalena Nunes (Social, Juventude, Habitação) e Miguel Silva Gouveia (Finanças, Obras Públicas e Recursos Humanos).

O homem das Finanças depressa se fez notar. A narrativa da autarquia assentou muito na pesada dívida herdada do anterior executivo do social-democrata Miguel Albuquerque, agora na presidência do governo do arquipélago. E Miguel Silva Gouveia foi colhendo os louros dos milhões de dívida que iam desaparecendo. Em Agosto de 2017, o passivo já era, nas contas da câmara, metade dos 101,2 milhões de euros que encontram quando chegaram.

O PSD, e também o CDS, contestaram sempre essas contas, mas a importância política do engenheiro que trocou a Empresa de Electricidade da Madeira pela autarquia foi crescendo, tal como a cumplicidade com Paulo Cafôfo. Tanto que, na coligação que em 2018 voltou a ganhar o Funchal, agora rebaptizada de ‘Confiança’, Miguel Silva Gouveia surgiu como número dois da lista, assumindo a vice-presidência após a vitória.

É, assim, o sucessor natural de Cafôfo quando este renunciar (ou suspender) o mandato para fazer companha nas regionais de 2019. Para já, ressalvou recentemente o autarca, “é extremamente cedo” para avançar com uma data para essa saída. Cafôfo diz que não sabe.

Fazendo um paralelo com António Costa, de quem Cafôfo gosta de se dizer próximo, o primeiro-ministro venceu as primárias do PS em Setembro de 2014, e manteve-se na presidência da Câmara de Lisboa até Abril do ano seguinte.  

“Neste momento isso não é um assunto. O presidente está concentrado e focado na gestão da Câmara”, diz Miguel Silva Gouveia ao PÚBLICO, sublinhando que o timing da saída será definido por Paulo Cafôfo. “Quando chegar o momento, de certo falaremos.”

O número dois do Funchal, também não tem, tal como Cafôfo, militância partidária, embora seja próximo do PS. Os adversários elogiam-lhe a cordialidade do trato, enquanto os companheiros lhe gabam o sucesso nas finanças do município e a capacidade de trabalho. Entusiasta das caminhadas, preside à Associação de Caminhos Reais da Madeira, que promove com regularidade passeios pela ilha. Aí, vai construindo amizades e coleccionando apoios.

Na câmara, diz-se preparado para assumir a presidência, quando chegar a altura. “Quando aceitei ser vice-presidente já sabia que nas ausências do presidente teria que assumir não só os meus pelouros como a responsabilidade de toda a câmara”, nota o antigo presidente da Associação de Universitários Madeirenses de Lisboa. Está, por isso, “confortável” com a sucessão de Cafôfo. “Não será uma novidade, porque nas ausências do presidente tenho assumido esse papel de forma natural.”

Para já, os principais parceiros do PS na coligação ainda não se manifestaram. O JPP, através do secretário-geral Élvio Sousa, diz ser “prematuro” falar desse cenário, e o Bloco nada disse sobre dia seguinte à saída de Cafôfo.

O certo é que Miguel Silva Gouveia, que chegou à câmara para substituir um vereador demissionário, vai chegar a presidente da mesma forma.

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