Sem técnicos de saúde não há SNS

Estes profissionais são mais uma daquelas peças indispensáveis na grande engrenagem da prestação de cuidados de saúde no nosso país e não têm merecido da nossa parte a devida consideração — e muito menos o nosso respeito.

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Marcelo Leal/Unsplash

Por estes dias, os técnicos de terapêutica e diagnóstico estão em luta. Estão marcadas greves e manifestações, mas provavelmente somos poucos atentos à sua realidade. Talvez porque não vemos estes técnicos todos os dias àentrada das urgências ou porque não nos lembramos logo deles quando falamos em SNS, como acontece com os médicos ou enfermeiros, porventura porque não são profissões sexy o suficiente para os meios de comunicação perderem tempo em destacar os seus problemas. Certo é que todos os dias estes técnicos dão um contributo inigualável ao Serviço Nacional de Saúde, que não conseguiria fazer face aos problemas dos portugueses se estes profissionais não deixassem tudo o que têm nos hospitais ou nos centros de saúde. Estamos a falar de cardiopneumologistas ou radiologistas, por exemplo. Estes profissionais são mais uma daquelas peças indispensáveis na grande engrenagem da prestação de cuidados de saúde no nosso país e não têm merecido da nossa parte a devida consideração — e muito menos o nosso respeito.

Apesar de serem licenciados, as tabelas salariais não fazem jus à sua condição e não retribuem justamente o esforço que todos os dias fazem em conseguir os melhores resultados com as piores condições. Falta material de diagnóstico, faltam profissionais e sobretudo falta o reconhecimento que lhes é devido. Não há carreira profissional para estes técnicos e há 18 anos que é assim. É por isso que, neste momento, saem dos seus serviços para gritar o mais alto possível para que todos oiçam que eles estão presentes, existem e querem ser ouvidos.

Muito temos falado, enquanto país, da grande conquista que foi o SNS e de como nos incumbe a todos nós melhorá-lo e defendê-lo, mas não o podemos fazer de forma consequente se não o olharmos como um todo e continuarmos a sectorizar as profissões que o compõem. Não podemos ter mais e melhor SNS se continuam a existir técnicos que, trabalhando há mais de uma década, ainda não conseguiu qualquer tipo de progressão na carreira nem aumento salarial. Não podemos falar de querer continuar a construir um SNS justo e para todos quando muitos daqueles que nele trabalham não sentem, da parte de ninguém, o devido reconhecimento pela nobre missão que levam a cabo, a maior parte das vezes desinteressada — porque se não é para progredir na carreira nem ver o seu salário aumentado, só a dedicação que estes empregam no seu serviço pode explicar o cumprimento de metas e a excelência dos resultados que nos apresentam. Já sabemos que os enfermeiros emigram aos milhares, mas ainda não reparamos na fuga licenciosa protagonizada pelos técnicos de terapêutica e diagnóstico que emigraram e continuam a emigrar para sítios onde pelo menos possam ter perspectivas de progredir na carreira e crescer como profissionais. Eles são bons e estão a sair.

Como utente do Serviço Nacional de Saúde, assumo a luta deles como minha, assim como todos os portugueses que têm brio e orgulho no SNS que construímos. Se não lutamos hoje por eles, porque raio deverão eles lutar por melhores condições para nos acudir?

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