Um violino virtuoso, muita música barroca e algum jazz: está aí o 44.º Festival Internacional de Música de Espinho

Dmitry Sinkovsky e La Voce Strumentale, Il Pomo d’Oro, a Real Filharmonía de Galicia, Lars Vogt, Pedro Burmester e Mário Laginha são alguns dos destaques da edição que se inicia esta noite.

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O violinista russo Dmitry Sinkovsky abre esta noite o 44.º Festival Internacional de Música de Espinho Marco Borggreve

O violinista russo Dmitry Sinkovsky e o agrupamento La Voce Strumentale serão os protagonistas da abertura da 44.ª edição do Festival Internacional de Música de Espinho (FIME), que propõe até ao próximo dia 21 de Julho um total de 11 concertos no âmbito da música erudita e do jazz. Esta noite, às 22h, no Auditório de Espinho, interpretam uma das obras mais famosas da história da música ocidental, As Quatro Estações, de Vivaldi, em conjunto com outras notáveis partituras do compositor veneziano, nomeadamente o Concerto para Alaúde, em Ré menor, RV 93 (com Luca Pianca como solista) e a cantata Cessate omai cessate, RV 684, que integram o álbum Sinkovsky Plays and Sings Vivaldi (Naïve, 2015). Como o título indica, o jovem intérprete virtuoso graduado pelo Conservatório de Moscovo, que decidiu dedicar-se ao violino barroco após um encontro com Marie Leonhardt em 2005, não se limita a mostrar a sua destreza como violinista: também canta efectivamente com a sua própria voz. Desde 2007, Sinkovsky tem feito igualmente carreira como contratenor e irá interpretar nessa qualidade a já referida cantata de Vivaldi.

A qualidade e a diversidade marcam como é habitual a programação do FIME, tanto ao nível das escolhas dos intérpretes como dos repertórios e dos espaços dos concertos, que abrangem a Igreja Matriz, a Capela de Nossa Senhora d’Ajuda, a Praça do Município, a Praça da Piscina Solário Atlântico e o Auditório de Espinho. E isto porque, diz o coordenador da programação, Alexandre Santos, o festival pretende ir ao encontro de “uma grande diversidade de públicos, desde os mais familiarizados com a música clássica e o jazz” aos que “chegarão pela primeira vez a um concerto”. Os mais jovens também não foram esquecidos: a pensar neles, a Orquestra Clássica de Espinho, dirigida por Pedro Neves, dedicará um concerto a obras como Pedro e o Lobo, de Prokofiev (com narração de Mário João Alves) e Sinfonia dos Brinquedos (cuja autoria, possivelmente de Leopold Mozart, Haydn ou Engerer, não reúne consenso entre os musicólogos). E para os melómanos que pretendem aprofundar os seus conhecimentos, o FIME contará este ano com um ciclo de palestras pré-concerto, intitulado Palestrina’s, a cargo do musicólogo João Silva.

Depois da abertura, a música barroca voltará a estar em destaque no festival através de intérpretes especializados com grande projecção no panorama internacional, como é o caso do agrupamento Il Pomo d’Oro, que se apresenta com o jovem violoncelista Edgar Moreau num programa dedicado à música para violoncelo e cordas do século XVIII, incluindo obras de Hasse, Platti, Durante, Vivaldi, Telemann e Boccherini (6 de Julho), e do grande alaudista Edin Karamazov, com um recital inteiramente dedicado a J. S. Bach (20 de Julho). As Suites para violoncelo solo BWV 1010 e 1007 e a Ciaccona da Partita para violino solo BWV 1004 serão interpretadas no alaúde, seguindo a prática habitual no barroco de transcrever e adaptar obras de uns instrumentos para outros que Karamazov tem adoptado para diversos repertórios.

A música de câmara estará representada por uma das mais emblemáticas obras do século XX — o Quarteto para o fim do tempo, de Olivier Messiaen, inspirado pelo Capítulo X do Livro do Apocalipse e estreado durante a Segunda Guerra Mundial — na interpretação de Pedro Burmester (piano) e dos irmãos José Pereira (violino), Marco Pereira (violoncelo) e Márcio Pereira (clarinete), oriundos de uma família que acumula talento musical. A temática religiosa do quarteto entra em diálogo com a Benção de Deus na solidão, de Liszt, interpretada ao piano por Burmester no mesmo programa (29 de Junho).

Outros acontecimentos a merecer atenção incluem a participação do oboísta Lucas Macías Navarro, que actua como solista e maestro com a Camerata da Orquestra Sinfónica de Castilla y León num programa dedicado a Grieg, J. S. Bach e Schoenberg (30 de Junho), e do conceituado pianista e maestro alemão Lars Vogt, que se apresenta com Real Filharmonía de Galicia num programa preenchido pelos Concertos para Piano nºs 2 e 3, de Beethoven, e pela Sinfonia nº1, “Clássica”, de Prokofiev (7 de Julho). A combinação piano e orquestra, contando com um músico multifacetado como Mário Laginha, estará em evidência também no encerramento, a 21 de Julho: Laginha será solista num concerto ao ar livre, com a Orquestra Clássica de Espinho, dirigida por Jan Wierzba, com a qual irá interpretar o seu próprio Concerto para piano e orquestra e a Raphsody in Blue, de Gershwin.

Na história do FIME o jazz tem de resto marcado presença em sucessivas edições através de figuras de referência. Este ano não é excepção, contando com a participação do Émile Parisien Quinteto e de Michel Portal (13 de Julho) e do multi-instrumentista e compositor Hermeto Pascoal, que actua com o seu sexteto e com a Orquestra de Jazz de Espinho a 14 e 15 de Julho. O concerto de 14 de Julho já se encontra esgotado.

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