Estudo revela que irmãos unidos protegem-se quando há conflitos em casa

Laços fortes entre irmãos ajudam os adolescentes a proteger-se do stress de assistir às discussões dos pais.

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Kelly Sikkema/Unsplash

Os irmãos que têm laços fortes entre si resistem melhor quando testemunham os pais a discutir, sugere um estudo de psicologia da Universidade de Rochester, nos EUA. Quando as crianças estão expostas a quadros familiares violentos revelam problemas psicólogicos e sentimentos de insegurança. Contudo, estes aumentam quando os irmãos têm vínculos mais frágeis entre si. 

“O relacionamento próximo e caloroso entre irmãos pode ajudar a compensar a angústia que muitas crianças experimentam após a exposição repetida ao conflito interparental", considera Patrick T. Davies, investigador de psicologia na Universidade de Rochester, em Nova Iorque, citado pela Reuters. “Esse vínculo pode ajudar a compensar os problemas psicológicos e a melhorar a reacção ao stress", acrescenta.

Davies observou que nem todas as crianças expostas a altos níveis de conflito parental desenvolvem problemas. A maioria tem “trajectórias normais”, diz. Por isso, a pesquisa começa agora a centrar-se nos factores que dão capacidade às crianças de resistirem a situações traumáticas.

A equipa da universidade reuniu dados de 2007 a 2011, junto de 236 famílias de estudantes do ensino básico, que tinham pelo menos um irmão. As famílias eram de classe média, três quartos identificadas como brancas, e a maioria era constituída pelos pais biológicos, só uma pequena percentagem incluia um padrasto ou um tutor. 

A investigação centrou-se na observação do relacionamento dos adolescentes que frequentavam o 7.º ano com o irmão com idade mais próxima. Os jovens foram observados por volta dos 12,5 anos, depois aos 13 e aos 14 anos.

Em laboratório e a partir de entrevistas, a equipa avaliou ainda o relacionamento dos pais e a natureza das relações entre irmãos. Foi feito um questionário pormenorizado aos adolescentes, assim como foram avaliados problemas comportamentais ou psicológicos que tivessem sido relatados pela família ou pelos professores.

Assim, a equipa descobriu que os adolescentes que testemunham conflitos entre os pais, de ano para ano, ficavam mais frágeis e com problemas de saúde mental. Já os que viviam situações semelhantes mas tinham laços com o irmão mais próximo não revelaram problemas de saúde mental nos anos seguintes. 

O que se passa é que os dois irmãos testemunham os conflitos juntos, logo, podem animar-se ou distrair-se um ao outro, interpreta Jonathan Caspi, terapeita familiar e professor universitário, que não esteve envolvido no estudo, mas foi ouvido pela Reuters sobre o mesmo. “No momento, aquele apoio pode ser fundamental”, acrescenta, considerando que este estudo pode ajudar os terapeutas familiares a lidar com esta questão – os conflitos entre os pais ou o subsequente divórcio: “Construir relacionamentos entre irmãos pode ser uma estratégia melhor do que dar-lhes apoio emocional quando passam por crises familiares.”

Kiaundra Jackson, terapeuta familiar em Los Angeles que também não esteve envolvida no estudo, é da mesma opinião e defende que é preciso prestar mais atenção à dinâmica entre irmãos. 

Contudo, o estudo é visto com alguma precaução pelo próprio investigador que considera que não se pode generalizar as suas conclusões, acrescentando que não considera que um filho único corra maiores riscos de desenvolver problemas emocionais se presenciar o conflito entre os pais. “Provavelmente, um filho único tem outras formas de resiliência e factores de proteção para compensar a falta de um irmão", conclui.

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