Revolta no PSD com estratégia de Rio

A admissão por parte de um dos ministros-sombra do PSD de que seria melhor viabilizar OE de Costa do que haver eleições antecipadas originou onda de indignação nos sectores anti-Rio.

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Foto de arquivo: 37º Congresso do PSD Miguel Manso

"Peço a Rui Rio para esclarecer a sua posição o quanto antes. Caso contrário, os eleitores do PSD podem pensar que é ele mesmo que está a falar através dos seus ventríloquos." O pedido, urgente, foi partilhado esta quinta-feira pelo deputado social-democrata Carlos Abreu Amorim, no Facebook.

O apelo foi motivado pela entrevista que Silva Peneda, ministro-sombra do partido para a área da Solidariedade e Sociedade de Bem-Estar, deu ao PÚBLICO e à Renascença, na qual assumia que, se a "geringonça" não garantir o Orçamento, o PSD não deve fazer cair o Governo.

"Alguém tão próximo da liderança do PSD oferecer uma mensagem pública destas a cinco meses da votação do OE é um erro político crasso: dá conforto renovado a Costa (reforçando o seu pretendido papel de 'alfa e ómega' do sistema político português) e dilata o seu poder negocial dentro da 'geringonça', confunde perigosamente os militantes e simpatizantes do PSD", acrescentou, defendendo que o "pior de tudo" é que "enfraquece as hipóteses de o PSD se afirmar como alternativa" de governo, "preferindo ser uma muleta oferecida, uma ajuda descartável para um Governo que não a merece".

Carlos Abreu Amorim não foi o único a manifestar publicamente a sua incompreensão quanto à estratégia adoptada pela direcção. Arménio Santos, ex-líder dos Trabalhadores Sociais-Democratas, reagiu à entrevista, considerando "impensável" a hipótese de o PSD funcionar como plano B, em matéria de aprovação do OE 2019.

"Nem pensar", escreveu o antigo deputado na sua página do Facebook. "Tenho muito respeito pelo meu caro amigo Dr. Silva Peneda mas, na hipótese do PS/PCP/BE não se entenderem e não aprovarem o OE 2019, acho impensável o PSD viabilizar esse documento". 

“Atendendo à minha experiência, o melhor é aguardar por desenvolvimentos, nomeadamente, pelas propostas para o OE que serão apresentadas pelo PSD”, afirmou ao PÚBLICO o ex-vice-presidente do PSD, Marco António Costa. No fundo, este antigo dirigente e actual deputado espera que Rio se pronuncie, ou seja, diga se dá cobertura às declarações de Silva Peneda, já que no passado o presidente do PSD corrigiu afirmações dos seus vices sobre a contagem do tempo de serviço dos professores ou pedidos de demissão de ministros feitos por deputados sociais-democratas.

"A estabilidade dos mandatos?... tenho muita dificuldade em perceber a estratégia destes jovens turcos do PSD", comentou no Facebook José Eduardo Martins com ironia, recusando tecer mais considerações sobre o assunto.

Um ex-dirigente do PSD comentou ao PÚBLICO que se trata de uma "estratégia kamikaze" por parte da actual direcção. Admitir que se pode viabilizar um OE do PS, "é estar a dar mais força a Costa nas negociações do OE" com a esquerda. "O que Rio devia estar a fazer era encostar o PS às esquerdas radicais", prossegue a mesma fonte, denunciando "desorientação" na direcção e nos órgãos de apoio da liderança do PSD.

As declarações de Silva Peneda provocaram também reacções no CDS, tradicional parceiro de Governo do PSD. "Que fique claro. Nós, não. Cada um escolhe o seu caminho. O do CDS não é salvar este Governo. É isso que nos afirma como oposição e, sobretudo, nos qualifica como alternativa", escreveu o deputado João Almeida, nas redes sociais.

Na entrevista, Silva Peneda começa por dizer que vai haver um entendimento à esquerda. "Isto é fumaça que faz parte da encenação porque daqui a pouco há eleições. No final, o BE e o PCP vão viabilizar o OE19. É este o meu feeling." Mas, a seguir, remata: "Se o BE e o PCP não viabilizam o OE, está na mão do PSD fazer cair o Governo ou não. Está a decidir se quer eleições antecipadas ou não quer. (...) Sou a favor da estabilidade política e acho que os mandatos devem ser cumpridos. É esta a minha leitura".

Também as declarações de Silva Peneda a exortar os deputados do PSD a aprovarem as alterações legislativas resultantes do acordo de concertação social não caíram bem na bancada parlamentar. “Algumas medidas são reversões do Código de Trabalho de Passos Coelho”, notou ao PÚBLICO um deputado passista. Com Sónia Sapage

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