Abrir portas para deixar o público entrar e a arquitectura sair

Mais de 60 locais de interesse arquitectónico vão abrir portas nos dias 30 de Junho e 1 de Julho. O Open House está de regresso ao Porto e aponta o foco à arquitectura de utilização industrial.

Casas abertas para quem as quiser ver. É assim que vão estar Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos, nos dias 30 de Junho e 1 de Julho, quando a 4.ª edição do Open House Porto arrancar e as portas que habitualmente estão fechadas se abrirem de par em par. Celebrar a arquitectura é o mote do evento, criado há mais de 25 anos em Londres, e que hoje se estende a mais de 40 cidades por todo o mundo, entre as quais Porto e Lisboa. Este ano, a edição do Norte debruça-se sobre a arquitectura de utilização industrial e conta com uma selecção de 65 espaços escolhidos por Inês Moreira e João Rapagão, arquitectos e comissários desta edição.

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Casas abertas para quem as quiser ver. É assim que vão estar Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos, nos dias 30 de Junho e 1 de Julho, quando a 4.ª edição do Open House Porto arrancar e as portas que habitualmente estão fechadas se abrirem de par em par. Celebrar a arquitectura é o mote do evento, criado há mais de 25 anos em Londres, e que hoje se estende a mais de 40 cidades por todo o mundo, entre as quais Porto e Lisboa. Este ano, a edição do Norte debruça-se sobre a arquitectura de utilização industrial e conta com uma selecção de 65 espaços escolhidos por Inês Moreira e João Rapagão, arquitectos e comissários desta edição.

O tema, escolhido pela Casa da Arquitectura — entidade organizadora do evento —, pretende “quebrar a ideia de que os espaços industriais têm uma conotação pejorativa” e acabar com “uma espécie de má vontade” existente em relação a estes locais, até porque “as cidades como as conhecemos hoje devem muito à era industrial”, explica, em entrevista ao P3, João Rapagão. Para desmistificar preconceitos foi então seleccionado “um conjunto de edifícios extremamente importantes e estruturantes para as cidades, normalmente próximos das grandes infra-estruturas — como o rio, as estradas e o mar".

São disso exemplos a Fábrica de Chumbo e Caça, a fábrica de moagem Germen, o centro de engenharia e desenvolvimento CEiiA, a Tipografia Peninsular, o Reservatório de Água Nova Sintra e os Silos de Leixões.

Mas a arquitectura não se esgota em fábricas. O Teatro Anatómico da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto é uma das novidades desta edição. Porque, explica João Rapagão, “a morte também está incluída” nos processos de industrialização e transformação que tornam a cidade viável. “O Teatro Anatómico faz parte das questões de salubridade e higienização da cidade que, fruto da industrializaçãe, teve que se modernizar e actualizar. O tratamento dos mortos faz parte da lógica da cidade moderna e estabelece a ligação com o mundo científico”, conclui o arquitecto. Neste sentido, o programa inclui também a passagem pelo Cemitério de Agramonte, a única visita nocturna agendada.

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Cidades diferentes, mas interconectadas

O roteiro abrange diversos espaços de Porto, Gaia e Matosinhos, três cidades onde a indústria gerou mutações profundas e que, apesar das particularidades de cada uma, estão interconectadas.Inês Moreira explica que as grandes fábricas ainda se mantêm em Matosinhos e Gaia, enquanto que no Porto — que era o epicentro da industrialização — estão as oficinas de pequena escala, algumas ainda em funcionamento, outras reconvertidas em habitação, espaços culturais — caso do Museu Nacional Soares dos Reis — ou outros espaços de trabalhos, como o Atelier des Createurs

Em Matosinhos, por outro lado, estão as fábricas que “continuam a trabalhar, ou que vieram ocupar espaços industriais já numa segunda vida", ou seja, as "reconversões para usos industriais”. É o caso da sede da empresa KuantoKusta, que poderá também ser visitada.

Em Gaia, junto ao rio, existem vários armazéns “que se mantêm associados à indústria do vinho, mas que também foram reconvertidos profundamente, quer para habitação de uso temporário, de luxo ou para outras actividades". Como uma escola de dança, por exemplo: contemplada no programa está o Ginasiano, que coabita com o Armazém 22.

O que une então as três cidades? Porto, Matosinhos e Gaia possuem territórios “profundamente transformados pela indústria, vivendo já a sua segunda, terceira ou quarta vida", diz a curadora. "Alguns edifícios foram reconvertidos várias vezes ou mantêm-se à espera de um futuro.” E são precisamente estes espaços, onde a arquitectura assume um papel preponderante, que poderão ser visitados durante o evento.

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As visitas são gratuitas — embora algumas exijam pré-marcação — e dividem-se em três tipos: livres, acompanhadas por voluntários e comentadas por especialistas. Os comissários vão também guiar visitas, nomeadamente às Quatro Casas de Siza Vieira, ao Pestana Palácio do Freixo, ao edifício das Moagens Harmonia, actualmente transformado num hotel, e à Cooperativa dos Pedreiros e Edifício Miradouro, um “espaço expectante, que teve um período áureo no passado e mantém um edifício em funcionamento com diversas funções: hotel, restaurante, rádio, habitação, atelier de arquitectos e, brevemente, vai albergar uma nova galeria de arte contemporânea”, refere Inês Moreira.

Este ano, o Open House Porto conta com mais cinco locais do que na edição anterior, sendo que 70 por cento dos espaços são inéditos. Repetem-se, da edição anterior, as visitas à Casa de Chá da Boa Nova, à Piscina das Marés, à Casa de Serralves e ao Mosteiro da Serra do Pilar, entre outras.

O evento recebeu 30 mil visitantes em 2016 e 25 mil no ano passado. Os comissários esperam que os números aumentem nesta edição, onde a indústria é, mais uma vez, o motor de engrenagem.