The Legendary Tigerman e o cinema maldito

Em Videoclipe.pt estabelece-se a “nacionalidade” de um vídeo em função da banda. Logo, não conta que um português realize um internacional. Mas, por outro lado, esta semana destaca-se aqui, dessa plataforma, uma grande produção internacional para The Legendary Tigerman, que é a única banda lusa atual da área da pop (vertente rock, atenção!) com uma multinacional a projetar a edição lá fora. No caso, a Sony Music em França, país onde Paulo Furtado merece páginas inteiras em jornais de referência e atua regularmente (e não para a comunidade lusa). Daí que a produção deste Motorcycle Boy chega a ter, em parte, dinheiro público francês de apoio ao cinema — esta mera hipótese cá seria uma heresia! Emprestar a matéria artística do cinema — uma curta documental (oito minutos!) sobre uma cultura transgressiva: os gangues “Bosozoku” japoneses — à forma videoclipe (que é digital), visa obviamente posicionar este rock no mercado internacional alternativo, mas de prestígio. Não por acaso, ele está presente também em vários outros importantes mercados europeus (alemão, austríaco, suíço ou holandês, só para mencionar alguns). Porém, além de Paulo Furtado sempre ter usado o cinema, não só como inspiração musical — o álbum Misfit germinou nessas aventuras —, ele assume que o nome deste tema veio da personagem principal de um icónico filme a preto e branco de Francis Ford Coppola, o Rumble Fish, protagonizado por Mickey Rourke. Mas convenhamos: se à anterior carburação de guitarra e bateria se juntar uma máquina elevada a “quatro velocidades” (acrescida do braseiro fervilhante de baixo e saxofone barítono), este rock’n’roll trepidante ganha um potente alcance imaginário com a rugosidade deste cinema e, sobretudo, com a marginalidade destas personagens malditas

Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.

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