Moreira admite fechar centro histórico a autocarros de turismo

Autarca aceitou críticas da oposição e retirou proposta para eliminar 90 lugares de carros no parque da Alfândega para criação de 18 espaços para autocarros.

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Os autocarros deixam turistas em pontos de interesse e circulam pela cidade durante a visita NEG

São cada vez mais, maiores e não têm onde parar. A Câmara do Porto está preocupada com os autocarros de serviços ocasionais que deixam os turistas no centro histórico e deambulam meia hora ou mais por ruas congestionadas, vazios, à espera do momento para os apanhar de novo. Na reunião de Câmara desta terça-feira foi discutida uma proposta, do executivo, para a criação de 18 lugares no parque da Alfândega para estes veículos, mas o próprio Rui Moreira aceitou retirá-la perante as dúvidas e críticas da oposição, chegando a admitir que “mais cedo do que tarde”, a autarquia vai ter de impedir estes veículos de circularem nas zonas mais sensíveis.

As reacções foram muito negativas, passando das “muitas dúvidas” assumidas pela comunista Ilda Figueiredo, à sentença do socialista Manuel Pizarro, que considerou a proposta “absurda" e "péssima". O socialista chegou mesmo a lamentar que "entre o turismo e as pessoas, a Câmara [do Porto] escolha sempre o turismo". "Não podemos ter dezenas de veículos pesados no centro histórico, eliminando 90 lugares de estacionamento de veículos ligeiros", criticou, também, o social-democrata Álvaro Almeida.

A vereadora da mobilidade, Cristina Pimentel, bem tentou convencer a oposição de que a proposta de transformação de uma parte significativa do parque da Alfandega num estacionamento para autocarros turísticos – garantindo 50% dos lugares destinados a ligeiros para avenças de comerciantes e moradores – era uma forma de “mitigar” um problema diário, a que urge dar solução antes do pico de mais um Verão. Mas a autarca não contaria que, para além da oposição em bloco, a medida acabaria por merecer reservas do próprio presidente da Câmara.

Moreira sabe que o assunto é sensível e deu a entender que a estratégia a seguir para resolver o problema da pressão destes veículos na mobilidade do centro deve contar com um “consenso alargado” na câmara. O autarca admitiu mesmo que “há um conjunto de agentes que vão pôr as mãos à cabeça” perante as restrições que o município terá de fazer, neste campo, mostrando-se surpreendido quando uma técnica dos serviços de trânsito chamada a explicar a medida em apreço clarificou que a criação destes lugares na Alfândega não tinha como contrapartida o corte da marginal a estes autopullmans.

Ou seja, quer Moreira, quer a oposição, mostraram-se pouco confiantes nos efeitos da proposta da maioria. Além de retirar 90 lugares de estacionamento numa zona onde moradores e comerciantes o consideram já escasso, nada impediria as empresas de continuar a deambular pela cidade, em marcha lenta, ou a arriscarem multas, como hoje arriscam, ao pararem em segunda fila. Na própria reunião ainda se discutiu uma solução de circulação alternativa, mas que aparentemente está inviabilizada do ponto de vista técnico porque o arruamento em causa já não comporta autocarros que são cada vez maiores.

Moreira considera que o município não deve procurar aumentar a capacidade de estacionamento naquela zona da cidade, defende que, no caso destes autocarros, as empresas devem proceder a transbordos para veículos mais pequenos – como Álvaro Almeida propunha –, mas também respondeu ao social-democrata, que se queixou de não conseguir muitas vezes estacionar o seu carro nas imediações do palácio da bolsa. A opção dos particulares deve ser pelo transporte público, autocarro ou táxi, insistiu o autarca independente.

Nesta reunião de Câmara o vereador do urbanismo apresentou, no período da ordem do dia, um ambicioso pacote de reabilitação de arruamentos secundários, no valor de 21 milhões de euros.  O programa Rua Direita deverá ter obra no terreno a partir do próximo ano, depois de lançados os concursos para aquisição de serviços e projectistas, a realização dos projectos e o concurso para as intervenções. Segundo Pedro Baganha, que ouviu elogios da oposição a esta iniciativa – as empreitadas serão organizadas em seis grupos, e incidirão, ao todo, em 88 ruas e caminhos da chamada malha fina da cidade, há muito necessitada de intervenção.

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