“A minha vizinha era a Conceição. Agora é a solidão”

Residentes no Porto voltaram a manifestar-se pelo direito à habitação, desta vez à porta da câmara municipal.

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Imagem de um protesto em Maio deste ano no Porto Nelson garrido

Os deputados municipais que, na noite desta segunda-feira, se dirigiram à Câmara do Porto para uma sessão extraordinária, convocada pelo Bloco de Esquerda, para discutir os problemas de habitação na cidade, depararam-se com uma manifestação de cerca de 30 pessoas, em protesto pela perda de casa. Cartazes, colados em malas de cabine ou expostas em papelão, levavam o problema aos portugueses que passavam, mas também aos turistas, com frases como “Housing is a right” espalhadas pelas traseiras do edifício.

São poucos, quase sempre os mesmos, apesar de o problema ser grande - até o presidente da câmara já o reconheceu. Tocam bombos e têm cartazes em que se lê “A minha vizinha era a Conceição. Agora é a solidão” ou “Casa vazia, vizinhança desfeita”. Ana Barbosa, moradora com aviso para sair no fim do contrato, daqui a dois anos, e membro da plataforma O Porto Não se Vende, diz que isso se explica bem. “Quem tem mais rendimentos está a ser aliciado a comprar casa, resolvendo assim o seu problema. Os outros são os mais frágeis, às vezes nem conseguem sair de casa por questões de mobilidade, ou têm filhos e não conseguem vir”, diz.

Entre os que vieram está Marta Dias, de 27 anos, que desde 6 de Junho vive com a filha e os pais, de favor, na casa de uma tia. Dorme no chão. Os quatro tiveram de sair dos dois apartamentos em que viviam, na Rua de Miragaia, depois de o senhorio ter dito que o contrato não seria renovado. Veio também Paula Magalhães, da Rua dos Caldeireiros, que depois da venda do prédio e de lhe dizerem que tinha de sair até ao final de Abril, continua lá, sem nunca mais ter conseguido pagar renda, porque o dinheiro vem devolvido.

E veio Raul Morgado, 70 anos, da Rua da Arménia. Viveu sempre em Miragaia, tinha contrato antigo, mas quis trocar de casa, porque a anterior não tinha janelas. Já recebeu carta a dizer que o prédio foi vendido. O contrato termina daqui a dois anos. Adivinha que a seguir virá a ordem para sair. “Quis trocar de casa para ter vistas da Alfândega e matei-me”, diz.

Alguns dos manifestantes estavam inscritos para participar na sessão da Assembleia Municipal que começava às 21h.

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