Itália vai propor “mudança radical de paradigma” às regras da UE sobre imigrações

Novo primeiro-ministro foi recebido por Macron na ressaca da polémica aberta pela recusa italiana em deixar aportar um navio com 629 resgatados no Mediterrâneo.

O encontro que esteve quase a não acontecer foi descrito como "amistoso"
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O encontro que esteve quase a não acontecer foi descrito como "amistoso" Philippe Wojazer/Reuters
Alguns dos resgatados a bordo do navio que chegará domingo a Valência
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Alguns dos resgatados a bordo do navio que chegará domingo a Valência Reuters

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, disse esta sexta-feira em Paris que está a trabalhar numa proposta para uma “mudança radical de paradigma” na gestão dos fluxos migratórios pela União Europeia focada nos países de origem e de trânsito dos imigrantes e requerentes de asilo.

Conte, que falava ao lado do Presidente francês, Emmanuel Macron, precisou que o seu Governo prevê apresentar a proposta quando a Áustria assumir a presidência rotativa da UE, a 1 de Julho – logo a seguir à cimeira de 28 e 29 de Junho, quando os Estados-membros deveriam tentar chegar a um entendimento comum sobre o tema.

Conte e Macron defenderam uma “reforma profunda” da relação com os países de origem dos imigrantes, através da abertura de centros europeus nesses países que facilitem a regulação das chegadas.

“Devemos criar centros europeus nos países de origem” e enviar “missões das nossas agências encarregadas do asilo à outra margem” do Mediterrâneo, disse Conte. “À Europa tem faltado eficácia e solidariedade. É chegada a altura de uma reforma profunda para dar resposta a este desafio”, declarou Macron.

“A resposta correcta tem de ser europeia, mas a actual resposta europeia é desadequada”, acrescentou o Presidente francês, defendendo uma maior protecção das fronteiras europeias.

O encontro entre Macron e Conte esteve quase a ser cancelado devido ao desagrado do chefe do novo Governo italiano, populista, com as críticas do chefe de Estado francês à recusa de Itália de autorizar o Aquarius, um navio de uma organização não-governamental franco-alemão com 629 pessoas resgatadas do mar, a aportar na costa italiana. Três navios dirigem-se agora para Valência, depois da oferta do novo Governo socialista espanhol para acolher os requere

O caso voltou a colocar na ordem do dia a gestão europeia das chegadas, que, assente no chamado Protocolo de Dublin segundo um qual os pedidos de asilo devem ser analisados no Estado pelo qual o refugiado entrou no espaço europeu, penaliza especialmente Itália e a Grécia, principais países de chegada de quem atravessa o Mediterrâneo com destino à UE.

A crise alemã

O caso Aquarius está também na origem de uma crise na coligação de Governo na Alemanha, dadas as divergências em matéria de imigração entre a chanceler, Angela Merkel, e o ministro do Interior, Horst Seehöfer, líder dos democratas-cristãos bávaros, tradicional aliado da CDU.

Seehöfer reuniu-se na quarta-feira com o chanceler austríaco, Sebastien Kürz, que anunciou, após o encontro, “um eixo Berlim-Viena-Roma” entre os ministros do Interior dos três países, todos partidários de uma linha dura anti-imigração.

Na conferência de imprensa, Macron quis apoiar a chanceler neste conflito interno, afirmando: “Itália tem um chefe de governo, França tem um chefe de Estado e a Alemanha tem uma chefe de governo. Se os países chegarem a acordo para decidir qualquer coisa, é a esse nível que isso acontece porque são eles e ela que são responsáveis perante os seus povos e os seus parlamentos”.

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