Transmontano – e com muito gosto. É o Mercado dos Zés

Tanto se come, como se bebe, como se leva um pedaço de Trás-os-Montes para casa. Em Março, dois filhos da terra abriram o Mercado dos Zés. Porque querem preservar a “génese” da região.

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Um dos Zés já andava a namorá-la há algum tempo — à ideia e à loja. O outro Zé de bom grado acatou o romance; a bem dizer até o inflamou. Aberto a 1 de Março, bem no centro de Mirandela, o Mercado dos Zés é uma loja, com espaço para provas, onde quem chega encontra sobretudo produtos transmontanos, da gastronomia ao artesanato. E é uma carta de amor deles, dos dois Josés, à terra que os viu nascer, à região que os lavrou e talhou. “Porque tudo está cada vez mais industrializado”, diz José Tiago, e é preciso preservar a “génese” do território. Porque está “a perder-se a identidade”, afiança José Beça, e é preciso oferecer a quem chega “produtos diferenciados”.

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Um dos Zés já andava a namorá-la há algum tempo — à ideia e à loja. O outro Zé de bom grado acatou o romance; a bem dizer até o inflamou. Aberto a 1 de Março, bem no centro de Mirandela, o Mercado dos Zés é uma loja, com espaço para provas, onde quem chega encontra sobretudo produtos transmontanos, da gastronomia ao artesanato. E é uma carta de amor deles, dos dois Josés, à terra que os viu nascer, à região que os lavrou e talhou. “Porque tudo está cada vez mais industrializado”, diz José Tiago, e é preciso preservar a “génese” do território. Porque está “a perder-se a identidade”, afiança José Beça, e é preciso oferecer a quem chega “produtos diferenciados”.

O exterior do edifício já prepara o mais incauto. Há cortiça a revestir a fachada, oriunda do vizinho sobreiral do Romeu. Um painel de ilustrações de Sónia Borges dá conta de algumas expressões populares. “Vai a carocha do pão?”, pergunta-se numa; “Já larpaste!”, remata-se noutra, como quem diz, já comeste. Pois é, estamos em território transmontano — e com muito orgulho. Lá dentro, há tanto para ver, tanto para provar.

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O espaço é amplo, a decoração moderna, mas o aroma não engana. Por detrás do balcão, pendem alheiras (ou não estivéssemos nós em Mirandela), presuntos, chouriços, enfim, fumeiros para todos os gostos. Na vitrina, à la mercearia, vemos o genuíno folar de carnes, a bola sovada, o doce económico, queijos e enchidos de vários feitios. No centro da loja, grandes arcas de madeira expõem frutos secos a granel, como nozes e amêndoas. Há azeites mais e menos ácidos, azeitonas (mais ou menos) curtidas, compotas mais ou menos gourmet.

E, claro, muitas garrafas de vinho à escolha. Atenção, porém, que não se conquista apenas o estômago. Os revivalistas podem levar para casa peneiras e colheres de pau, botas e cestas, tapetes e as típicas mantas da região, tudo obra e graça de artesãos locais. Não há ímanes ou porta-chaves, há pequenos (e adoráveis) pés de oliveira, de três variedades autóctones, a nascer de vasos embrulhados em serapilheira. “É um mimo, que não é nada caro”, afiança José Tiago. “Uma lembrança, em vez de ser um prato a dizer Mirandela, que entendemos que não marca a identidade.”

Rejuvenescer, sem perder as raízes

Há já muito tempo que José Beça, de 39 anos, queria criar um espaço como este na sua cidade. E aquele edifício defronte para o rio Tua, abandonado há cerca de um ano, caía como uma luva nos seus planos. Arquitecto de formação, empresário de profissão, lá convenceu a proprietária a arrendá-lo. Depois, lá tratou de fazer o mesmo com o amigo José Tiago, de 33 anos, que na altura se encontrava desempregado, depois de ter deixado o seu trabalho na autarquia. Juntos perceberam que já existiam muitas lojas em Mirandela neste ramo, mas nenhuma com o conceito que idealizavam.

Um espaço de comercialização de produtos locais, onde também se bebe um copo de vinho (de 1 a 3€) enquanto se “pica” uma tábua de queijos e enchidos ou se experimenta uma tapa. Um local onde artesãos locais mostram e vendem as suas peças. Um sítio em que as pessoas podem “fazer coisas” — já houve provas de vinhos e em breve uma artesã estará a tear um tapete in loco. Sempre num diálogo descontraído entre o passado e o futuro, entre o rústico e a sofisticação.

“A ideia”, admite o primeiro José, o autor do projecto de arquitectura, “também é rejuvenescer”. Mas sem perder as raízes. “Temos muitas relíquias que já não se encontravam há muito tempo e as pessoas levam”, diz José Tiago, aludindo às socas tradicionais ou às peças de latoaria. E que clientes são esses? Habitantes locais, sim, que já vão aparecendo para uns aperitivos antes do jantar, mas também turistas, que chegam em cada vez maior número — na época alta, por exemplo, vão estender a hora de abertura ao fim-de-semana a pensar neles. “Isto pode ser uma alavancagem para que outros negócios possam existir.”