Salvem os homens!

Quando, há poucas semanas, foi revelado um estudo que mostra que as mulheres em Portugal ganham menos do que os homens e estão sub-representadas nos postos de chefia, havia também aí uma informação implícita: a de que é grande a força da inércia, mantendo assim uma situação que irá chegar ao fim em pouco tempo porque já não há nada que a legitime e mantenha viva essa força; quando, na semana passada, foi anunciada a composição do novo governo espanhol, com mais ministras do que ministros, não havia razão nenhuma para percebermos essa novidade como demagógica inflação ideológica, mas como uma correspondência com a verdade do mundo em que vivemos. A dominação masculina chegou ao seu fim, sem o estrondo de uma revolução, muito embora seja uma verdadeira revolução que veio interromper, no nosso tempo, o curso do mundo. Sociólogos e historiadores falarão, a propósito deste declínio surpreendente, na extinção da família em que se baseava o patriarcado e no esvanecimento da “lei do Pai” ou, literalmente, da própria figura do pai (quem não conhece hoje mulheres solteiras, com um filho ou mais, que abdicaram de atribuir uma função e pedir responsabilidades ao pai da criança?). Eu preferia falar, aqui, de um outro fenómeno que é, desde há algum tempo, objecto de estudo: o falhanço dos rapazes, na escola, em comparação com o sucesso das raparigas (nesse estudo sobre o défice salarial das mulheres em Portugal, era também revelado este novo dado: as mulheres têm mais habilitações escolares e académicas do que os homens), o que já levou alguns governos a estudar a hipótese de criar quotas masculinas para alguns cursos. Nos países ocidentais, a situação é esta: os rapazes atingem um nível de formação menos elevado, preferem fazer estudos mais breves e abandonam com mais frequência o percurso escolar. Segundo dados oficiais, em França, 43% dos alunos masculinos chumbam nas provas do final do ensino secundário (o baccalauréat), contra 20% das alunas; dois terços dos jovens que saem sem qualificação do sistema escolar são rapazes; nos Estados-Unidos, na Inglaterra, na América do Sul e mesmo na

Ásia Central, as mulheres são maioritárias na Universidade. Na Austrália, tal como na maior parte dos países europeus, a diferença entre o número de homens e o número de mulheres que obtêm um diploma é de 10%  a favor das mulheres; e, na Noruega, essa diferença é de 18% . Estes números são fornecidos num artigo assinado por Martin Dekeiser no último número (Maio-Agosto), da revista francesa Le débat. Nesse artigo, que faz parte de um dossier sobre Le maculin en révolution, somos ainda informados de que nos países mais desenvolvidos os homens começam a ter mais dificuldade em arranjar empego do que as mulheres e de que nos Estados-Unidos, de 1970 até hoje, a contribuição das mulheres americanas para a economia doméstica passou de 7% para 43%. Porquê este desinvestimento escolar dos rapazes e a cadeia de consequências que dele advém? Porque é que há uma tal diferença de atitude em relação à escola e à sociedade? Porque é que as raparigas com origem nos meios pobres são muito mais bem sucedidas do que os seus congénere masculinos na elevação social? As respostas a estas perguntas são ainda muito hesitantes, mas o que é de ciência certa é que a imaturidade prolongada é hoje uma marca muito mais saliente nos homens do que nas mulheres. Eles tendem a ser incapazes de assumir a plena responsabilidade sobre o seu modo de vida. Não se trata daquela cultura “jovem”, que depois da Segunda Guerra inventou a adolescência como categoria sociológica e cultural. Trata-se antes de uma juventude retardada, só representável enquanto patologia social.  

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