Por que não dorme de noite? Porque ouve muito barulho de dia

Estar exposto a um local de trabalho barulhento prejudica a qualidade do sono, sugere estudo.

Foto
Hernan Sanchez/Unsplash

Se trabalha num local com muito barulho poderá ter mais dificuldade em dormir durante a noite. Esta é a conclusão de um estudo feito com cerca de meia centena de pessoas, em Taiwan, e publicado na Sleep Medicine.

Os investigadores descobriram que as pessoas que estavam mais expostas ao ruído tinham a pressão arterial mais alta, assim como níveis mais elevados de cortisol, a hormona associada ao stress, depois do trabalho. Estas também dormiam menos à noite em comparação com os dias em que estavam menos expostos ao barulho diurno. 

"As pessoas não vão trabalhar com a expectativa de ter alterações fisiológicas", começa por dizer, à Reuters, a médica canadiana Seema Sharma, do Centro de Saúde Mental Comunitária SickKids, em Toronto. "O que esperamos é que o descanso nos leve a ter um funcionamento normal, mas antes de isso acontecer voltamos ao trabalho", acrescenta.

A equipa de investigação da Universidade Nacional de Cheng Kung, em Taiwan, reuniu dados sobre 40 trabalhadores em refeitórios hospitalares, que foram observados em dois momentos: num turno de oito horas numa área com muito ruído (por exemplo, a cozinha); e num turno igual numa área mais silenciosa (na sala de refeições ou no escritório).

Além de medir a exposição diária ao ruído, os investigadores testaram, algumas horas depois de o turno ter terminado, as respostas do sistema nervoso e os níveis de cortisol no sangue, assim como a qualidade do sono naquela noite.

Foi assim que a equipa observou que, quando os trabalhadores tinham maior exposição ao ruído durante o dia, dormiam pior e menos tempo durante a noite, em comparação com os dias em que estavam menos expostos ao barulho. Para Seema Sharma, os próximos estudos devem analisar não só um grupo maior de indivíduos, mas também maiores períodos de exposição ao ruído, durante a semana e durante um período mais longo da carreira dos trabalhadores.

É que, continua a especialista canadiana que não participou neste estudo, trabalhar oito horas diárias tem subjacente a ideia de que a pessoa tem 16 horas de descanso, o que parece ser "bom o suficiente para se recuperar e voltar ao trabalho". Contudo, "não é suficiente porque os níveis de cortisol continuam elevados", alerta a médica, lembrando que a exposição prolongada ao ruído e o sono precário podem levar a um estado mental mais frágil que pode prejudicar as capacidades cognitivas necessárias para se trabalhar.

"Para ter uma boa saúde é necessário ter um bom sono", declara Ravindra Khaiwal, do Instituto de Pós-Graduação em Educação e Pesquisa Médica, em Chandigarh, na Índia, que não participou neste estudo. "O sono ruim afecta o nosso ritmo biológico diário normal, o que, a longo prazo, pode ter impacto na nossa saúde", escreve à Reuters, por e-mail.

"É preciso que as pessoas estejam cientes de que o ruído tem consequências negativas para a saúde, não apenas para a audição", refere, por seu lado, Mathias Basner, da Universidade Perelman, na Filadélfia, e que também não esteve envolvido no estudo. “As pessoas devem valorizar ambientes silenciosos não só evitando a exposição a ruídos, mas também tentando não produzir ruído desnecessário que possa afectar negativamente os outros”, conclui. A Reuters tentou falar com os autores do estudo, mas não teve sucesso.

Sugerir correcção
Comentar