A noite mais longa, a noite da guerra

No recanto da estrada um carro procurou abrigo na entrada de um eucaliptal. Ardeu. Na escuridão não tive coragem de me aproximar. Fotografei ao longe. Com medo. Sustendo a respiração para não tremer. Voltei lá. Já não existe eucaliptal.

Woodland
Fotogaleria
Adriano Miranda
,
Fotogaleria
Adriano Miranda
Afloramento, matagal, árvore, vegetação
Fotogaleria
Adriano Miranda
Pintura
Fotogaleria
Nádia Piazza Adriano Miranda
Janela, casa, arquitetura, fachada
Fotogaleria
Adriano Miranda
,
Fotogaleria
Adriano Miranda
Árvore, vegetação, floresta
Fotogaleria
Adriano Miranda
,
Fotogaleria
Adriano Miranda
Barba
Fotogaleria
Victor Neves Adriano Miranda
Carro, janela, galpão, casa
Fotogaleria
Adriano Miranda
Sinal de trânsito
Fotogaleria
Adriano Miranda
Carro familiar, Carro, Veículo utilitário esportivo, Minivan, Carro compacto, Veículo de luxo, Carro citadino, Veículo a motor
Fotogaleria
Adriano Miranda
,
Fotogaleria
Adriano Miranda
Estrada, asfalto
Fotogaleria
Adriano Miranda
Rapel, Quickdraw, escalada esportiva
Fotogaleria
Adriano Miranda
casa
Fotogaleria
Adriano Miranda
Carro, fotografia, árvore
Fotogaleria
Isilda e Aires Henriques Adriano Miranda
Carro, asfalto, superfície da estrada
Fotogaleria
Adriano Miranda
Natureza, deserto, vegetação
Fotogaleria
Adriano Miranda
Pedrógão Grande, junho de 2017 Incêndios florestais em Portugal, Castanheira de Pera, Chama
Fotogaleria
Adriano Miranda
Árvore, jardim
Fotogaleria
José Camilo Santos (Zeca) Adriano Miranda
Carro, asfalto
Fotogaleria
Adriano Miranda
Janela, casa, telhado, fachada
Fotogaleria
Adriano Miranda
Mamífero
Fotogaleria
Adriano Miranda
Solo, Paisagem, Natureza
Fotogaleria
João Viola Adriano Miranda
Pedrógão Grande
Fotogaleria
Adriano Miranda
Janela, fachada, trabalhador
Fotogaleria
Adriano Miranda
Andar, Arquitetura
Fotogaleria
Adriano Miranda
Árvore, carro, floresta
Fotogaleria
Adriano Miranda
Túnel, janela, ponte-túnel
Fotogaleria
Adriano Miranda
ombro
Fotogaleria
Zeca Adriano Miranda

A noite mais longa, a noite da guerra. A manhã mais cruel, a manhã da tristeza. Um ano. Pedrógão. Voltei a percorrer o que os meus olhos queriam esquecer. Agora o céu é azul. Sem fumo nem chamas. Mas o fogo continua lá. Os sinais estão sempre presentes. A mulher de lenço preto. A casa abandonada. O alcatrão negro. O nome da aldeia derretido. O alumínio fundido na valeta. A coroa de flores secas. A cruz no cemitério. Os riscos verticais dos eucaliptos desenhados a grafite. O verde rasteiro. As marcas profundas na pele. E a força de viver.

Uma parte de mim ficou lá. Nos escombros. Julgo que a parte menos boa. A vida tem outro valor, quando percebemos que somos pequenos, muito pequenos. Um ano a pensar todos os dias naquela gente, naquele território. E agora quis o acaso, que os olhasse olhos nos olhos e ouvisse as suas histórias. Histórias de verdade. Histórias de dor.

Quase todas as pessoas ao fugirem do monstro levaram consigo o seu ouro e as suas fotografias. Salvavam as recordações. As memórias. As fotografias arderam, algumas junto ao coração. Algum ouro fundiu-se. Outro, foi devolvido pela Polícia Judiciária às famílias. A memória. Essa palavra poderosa que agora nos cabe preservar.

No recanto da estrada um carro procurou abrigo na entrada de um eucaliptal. Ardeu. Na escuridão não tive coragem de me aproximar. Fotografei ao longe. Com medo. Sustendo a respiração para não tremer. Voltei lá. Já não existe eucaliptal. E a árvore gigante vestida de carvão, está agora toda verde. Fiquei ali. Como num local sagrado. E é. E espetada nas nervuras do tronco da gigante árvore, está uma chave de um automóvel. Senti calma. Senti paz.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários