Será com Hierro que a Espanha vai enfrentar Portugal

O técnico basco pagou caro a sua contratação pelo Real Madrid e foi substituído pelo seu interino

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Fernando Hierro Reuters/STRINGER

Julen Lopetegui estava confirmado nos ingleses do Wolverhampton no momento em que surgiu o convite da “roja”, em Julho de 2016. “Quando aparece a selecção não há nada mais”, justificou, então, o treinador basco. Menos de dois anos depois não resistiu ao aparentemente ainda mais irresistível apelo do Real Madrid e saiu pela porta pequena do Mundial 2018. Destituído esta quarta-feira por Luis Rubiales, presidente da federação, será substituído interinamente por Fernando Hierro.

O anúncio do Real Madrid caiu como uma bomba na terça-feira, em Espanha e em Krosnodar, onde a selecção montou o seu quartel-general. Menos de 24 horas depois, Rubiales convocou uma conferência de imprensa no estádio onde treina a equipa na Rússia. Quando compareceu perante um batalhão de jornalistas acompanhado apenas por dois elementos do seu staff tornou-se evidente ao que vinha. Lopetegui acabava de ser sumariamente destituído.

“Ganhar é muito importante, mas há coisas mais importantes ainda, como as formas de trabalhar. Por isso, apesar de Lopetegui ser um treinador ‘top’, vimo-nos obrigados a tomar esta decisão”, explicou o dirigente, ex-presidente do sindicato dos jogadores, de 40 anos, que assumiu a federação em Maio.

Uma decisão tão audaz quanto arriscada para as ambições de uma Espanha que é das principais candidatas ao título mundial na Rússia. Rubiales não aceita ter sido apenas informado da contratação de Lopetegui pelo Real Madrid instantes antes de o clube o anunciar oficialmente como técnico, considerando essa atitude um desrespeito para o organismo que dirige.

“Não se podem fazer as coisas assim e menos de cinco minutos antes do anúncio. Vemo-nos obrigados a tomar a decisão porque a selecção é a equipa de todos os espanhóis”, salientou o responsável federativo, que teve como primeira medida no cargo renovar o contrato de Lopetegui até 2020.

Pouco tempo após a conferência de imprensa, a federação espanhola confirmou que será Fernando Hierro, ex-glória do Real Madrid, que desempenhava até agora funções de director desportivo na selecção, a orientar a Espanha durante a competição.

Um novo seleccionador interino que não tem um currículo como técnico minimamente comparável ao de futebolista. Na realidade, este resume-se a ter sido treinador-adjunto do italiano Carlo Ancelotti no Real Madrid na temporada 2014-15, para além de uma experiência mais recente como técnico principal do Real Oviedo (2016-17), na II Liga.

“Foco em Portugal”

Será ele quem estará sentado no banco na partida frente a Portugal, nesta sexta-feira (RTP1, 19h), na estreia das duas selecções no Grupo B. Uma opção de circunstância que pretende acima de tudo prosseguir com o trabalho feito por Lopetegui na promissora campanha para este Mundial. A ideia é mudar o menos possível, segundo admitiu o próprio Rubiales.

Por isso Hierro foi a primeira opção, já que tem acompanhado de muito perto todo o trabalho de Lopetegui, como salientou o dirigente ao final da tarde, quando voltou à sala de imprensa agora acompanhado do novo técnico: “Em todo o processo ele defendeu sempre o melhor para a selecção, com uma atitude positiva e valentia.”

Para o ex-director desportivo este será um dia que não irá esquecer tão depressa. Prometeu fazer tudo para levar a selecção ao sucesso. “Temos de passar a página, pensar nos jogadores, no que representamos e no que significa o futebol espanhol”, reforçou. “Não podemos falar continuamente do que se passou porque iríamos perder a concentração e o foco, o foco está em Portugal.”

Um excelente legado

Do seu antecessor, que partiu invicto enquanto seleccionador espanhol, Hierro herda um excelente legado. Em 20 partidas disputadas somou 14 triunfos e seis empates (nove vitórias nas dez partidas da qualificação para o Mundial), 61 golos marcados (mais de três por partida) e apenas 13 sofridos. Conseguiu acima de tudo recuperar uma “roja” destroçada após os insucessos no Mundial de 2014 (ficou-se pela fase de grupos) e Euro 2016 (eliminada nos oitavos-de-final pela Itália).

Mas que efeito terá esta inusitada crise nos jogadores? A primeira resposta à questão levantada pelos jornalistas em Krasnodar (e por todos os adeptos do futebol) chegará já na sexta-feira, mas Rubiales garante que os futebolistas farão tudo para corresponder às ambições, apesar de reconhecer que este foi “um duro golpe” para um grupo que Lopetegui conseguira renovar e unir com mestria.

Parte dos jogadores ainda tentou convencer Rubiales a recuar, mas o líder da federação mostrou-se inflexível. A questão é tão mais sensível dentro do grupo pelo facto dos jogadores do Real Madrid terem sido sondados e informados das negociações entre o técnico e o clube, em particular o capitão (da selecção e dos “merengues”) Sérgio Ramos, que terá tido um papel determinante no processo. De fora ficaram os restantes atletas, em especial os do Barcelona.

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