Autarquias devem dar fruta ao lanche às crianças todos os dias, defendem os nutricionistas

Bastonária da Ordem dos Nutricionistas considera "lamentável" que Portugal desperdice fundo europeu para distribuição de fruta e hortícolas, por causa da burocracia, e apela a uma maior participação dos municípios.

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Enric Vives Rubio

As câmaras municipais deviam distribuir fruta e hortícolas às crianças do 1.º ciclo do ensino básico ao lanche, cinco vezes por semana, aproveitando não só a totalidade dos fundos europeus disponíveis para este efeito, mas indo mais além e investindo algum do seu orçamento nesta tarefa, defende a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento.

Comentando a notícia do PÚBLICO, que revelou que, desde há quase uma década, Portugal tem aproveitado apenas cerca de um quarto da verba disponibilizada pela União Europeia para o programa Regime de Fruta Escolar (RFE), que visa incentivar as crianças a comer fruta e hortícolas nas escolas públicas (duas vezes por semana), Alexandra Bento considera “lamentável” que o país desperdice este apoio por causa da burocracia, mas considera que as autarquias devem ter um papel mais activo a este nível.

“É verdade que este programa é muito burocrático e pesado, mas as autarquias devem, em conjunto, levar o Governo a desburocratizar todo o processo”, advoga a bastonária.  

Alexandra Bento considera mesmo que os municípios deviam fazer um esforço para aderir ao programa (as autarquias que participam no RFE passaram de 154, no ano lectivo 2019/2010, para apenas 114, em 2016/2017) e, além disso, podiam usar verbas próprias para o alargar, dando às crianças fruta ao lanche cinco vezes por semana, “como alguns municípios já fazem”.

Alexandra Bento recorda que há pelo menos um município, o de Vila Nova de Gaia, que já distribui fruta ao lanche cinco vezes por semana, porque as duas nutricionistas que trabalham na autarquia fizeram esta proposta e o executivo aceitou.

“É uma medida para a diminuição de desigualdades sociais e para a redução do problema da obesidade infantil”, enfatiza. “Ainda há muitas câmaras que olham para a promoção da alimentação saudável como um custo e não com um proveito”, lamenta a bastonária, que nota que só cerca de 10% das câmaras em Portugal têm nutricionistas.

“Num país que está num dos piores lugares, em termos europeus, no que toca à obesidade infantil, é um contrasenso que não se aproveitem verbas europeias para estimular o consumo de fruta e hortícolas, que são tão importantes para uma alimentação saudável”, acentua.

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