Disputa diplomática pode deixar Arábia Saudita sem jogos na TV

Direitos de transmissão do torneio no Médio Oriente são detidos por cadeia televisiva do Qatar. A poucas horas do início da competição, ainda não há acordo.

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Selecção saudita jogará contra a Rússia, na partida inaugural do Mundial LUSA/SASCHA STEINBACH

Quando a Arábia Saudita cortou relações diplomáticas com o Qatar, há precisamente um ano, não imaginaria o cenário que agora se verifica: os jogos da selecção — que se estreará esta quinta-feira, no jogo inaugural do Mundial frente à Rússia — estão em risco de não serem transmitidos no país. Isto porque os direitos de transmissão da prova no Médio Oriente são detidos, exclusivamente, pela empresa televisiva catari beIN Media Group, que não chegou a acordo com o Governo saudita em relação ao preço por partida.

O Executivo saudita acusa a empresa de recuar no cumprimento de um acordo de 30 milhões de euros, que teria sido estabelecido entre ambas as partes, mas a empresa recusa essa imputação. Certo é que os canais da beIN Media foram desactivados na Arábia Saudita, aquando do boicote diplomático ao Qatar. E nas conversas que tiveram lugar nos últimos dias, a FIFA mediou as negociações entre o país saudita e a cadeia televisiva que detém, em exclusivo, os direitos de transmissão do Mundial para o Médio Oriente e África.

Numa reunião da passada semana, a beIN Media Group afirmou que foi impossível chegar a um acordo com o reino saudita, mas mantém uma atitude positiva para futuras negociações: “Temos feito tudo o que está ao nosso alcance nos últimos dias e semanas para garantir um acordo de sublicenciamento na Arábia Saudita”, garantiu um porta-voz da beIN após o desfecho negativo das conversas. “Apesar de terem existido discussões preliminares, não houve qualquer acordo em relação ao preço ou às condições de uma licença [de transmissão]”, reforçou o porta-voz da cadeia televisiva.  

Em entrevista à Bloomberg, Turki al-Sheikh, responsável pelo gabinete do desporto na Arábia Saudita, acusou a empresa do Qatar de recuar de um acordo negociado pela FIFA, que permitiria ao reino saudita transmitir 22 encontros da competição por 30 milhões de euros. “A Arábia Saudita mostrou boa-fé. A reunião tinha como objectivo a discussão de detalhes técnicos, não financeiros”, lamentou o governante saudita.

A beIN Media Group tem-se mostrado disponível para as negociações, especialmente depois de terem circulado rumores que garantiam que a Arábia Saudita se preparava para transmitir todos os 64 jogos do Mundial através de uma plataforma pirata. Apesar dessas intenções serem desmentidas pelo país, a beIN fez pressão junto da FIFA para supervisionar as acções sauditas, com receio de uma perda de vários milhões de euros no lucrativo mercado saudita.

O relógio está em contagem decrescente e milhões de fãs do desporto-rei já demonstraram o seu desagrado com a hipótese de não conseguirem assistir aos jogos da sua selecção nacional de forma legal e no conforto de suas casas. Se o acordo não for assinado, os adeptos terão de arranjar uma forma de conseguirem aceder às partidas, quer seja via stream, quer seja através de outros meios incorrectos do ponto de vista legal. Essa situação seria inédita no país do Médio Oriente, que tem por tradição transmitir todas as partidas da sua selecção em sinal aberto.

Texto editado por Jorge Miguel Matias

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