Uma lança barroca na China

Orquestra Barroca Casa da Música faz dois concertos, esta quarta e quinta-feira, em Pequim com um programa centrado na música portuguesa da época.

Foto
Orquestra Barroca Casa da Música Casa da Música

É mais um passo – um passo grande – no caminho de afirmação internacional de uma das estruturas residentes da Casa da Música: a Orquestra Barroca (OBCM) apresenta-se esta quarta e quinta-feira em Pequim para dois concertos no Conservatório da capital chinesa.

Dirigida pelo maestro e violinista italiano Federico Guglielmo, a orquestra vai apresentar junto de uma audiência que se prevê maioritariamente académica um programa centrado na música portuguesa da época, em que avulta a presença dos compositores Carlos Seixas (Concerto para cravo em Lá maior), Francisco António de Almeida (cantata A quel leggiadro volto) e Pedro Jorge Avondano (Sinfonia em Fa maior).

“São grandes compositores da história da música portuguesa, aos quais acrescentamos dois italianos, David Perez e Giacomo Facco, que foram convidados para Lisboa pelo rei D. José I, que foi um grande melómano e cuja corte era sempre animada com música”, explica António Jorge Pacheco, lembrando que o primeiro destes compositores foi o autor da ópera – Alessandro nell’Indie – que inaugurou a Ópera do Tejo em Março de 1755, que poucos meses depois seria totalmente destruída pelo terramoto de 1 de Novembro.

Já o concerto para violino de Giacomo Facco foi uma escolha do maestro e violinista Federico Guglielmo, que aqui faz a sua estreia a trabalhar com uma formação da Casa da Música.

O britânico William Corbett, com o concerto Alla Portoghese, completa o programa com que a OBCM leva a Pequim um género histórico-musical que, segundo o director artístico da instituição portuense, é muito apreciado pelos melómanos chineses desde o tempo do imperador Kangxi (século XVII). Coube ao músico jesuíta português Tomás Pereira (1645-1708), também astrónomo e geógrafo, fazer chegar ao imperador os sons do barroco, e ajudar à sua difusão junto da sua corte.

A visita da Orquestra Barroca a Pequim realiza-se a convite da Embaixada Portuguesa, depois de o actual embaixador, José Augusto Duarte, ter assistido à prestação da formação nas comemorações do 10 de Junho, em 2017, no Luxemburgo. O Dia de Portugal volta a ser o pretexto para a nova viagem da OBCM, neste caso também num contexto de abertura da China à grande tradição da música erudita ocidental. António Jorge Pacheco refere, a propósito, que o país “está a investir em grande na música, construindo teatros e escolas, onde actualmente há milhões de alunos a estudar, com especial atenção ao piano”.

Este ano, a OBCM actuou já, em Janeiro, em Dijon (França) e em Ludwigshafen am Rhein (Alemanha), e tem nova deslocação agendada para o mês de Novembro no mítico Konzerthaus de Viena, onde irá levar também obras de Carlos Seixas – será, nessa ocasião, dirigida pelo maestro e cravista alemão Andreas Staier, com quem a formação portuense gravou recentemente um disco para a etiqueta Harmonia Mundi com os Concertos para cravo daquele compositor português.

“Este é o ano em que a Orquestra Barroca está a ter um grande impulso na sua carreira internacional”, nota o director artístico, salientando que, depois da experiência chinesa, a viagem a Viena, que continua a ser “a capital da música”, se revestirá de uma importância particular neste percurso.

Notícia corrigida: ambos os concertos realizaram-se no Conservatório de Música da China, em Pequim.

Sugerir correcção
Comentar