Historiadores alarmados após destruição de arquivo de vítima do Gulag

Eliminação de registo de uma vítima do regime de Estaline, ao abrigo de uma directiva governamental oculta, adensa receios de que Moscovo estará a tentar apagar uma parte da história russa.

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O mosteiro de Solovetski, na costa do Mar Branco – um dos primeiros campos para presos políticos do sistema Gulag. O número total de vítimas das purgas de Estaline permanece incerto. Reuters

Historiadores russos estão a acusar as autoridades de Moscovo de desvalorizar os crimes da era de Estaline depois de ter sido revelado que a polícia destruiu o registo documental relativo a uma vítima das purgas do ditador soviético ao abrigo de uma directiva governamental até aqui desconhecida.

O ministro-adjunto do Interior nega as acusações de eliminação sistemática de ficheiros. No entanto, o incidente deu novo gás às alegações de que o Presidente Vladimir Putin está a relativizar os capítulos mais negros da história russa, ao passo que feitos como o triunfo na II Guerra Mundial são glorificados.

Segundo correspondência a que a Reuters teve acesso, uma força policial regional russa informou o investigador Sergei Prudovski que o ficheiro referente a Fiodor Chazov, sentenciado em 1938 a uma pena de trabalhos forçados na região mineira de Magadan, foi destruído.

A polícia de Magadan, região que abrigou alguns dos mais brutais campos de trabalho forçados do sistema Gulag da era Estaline, justificou a destruição do documento com uma directiva governamental de Setembro de 2014 que implicava a eliminação de registos com mais de 80 anos.

A revelação levou o responsável pelo Museu de História do Gulag, uma instituição estatal sediada em Moscovo, a apelar ao comissário do Kremlin para os direitos humanos para abrir uma investigação oficial.

Milhões de pessoas foram enviadas para campos de trabalhos forçados ou executadas durante o regime de Estaline, e os registos relativos às vítimas foram mantidos em arquivos que, originalmente, teriam carácter perpétuo.

“Não podemos ignorar o que aconteceu. É alarmante e por isso apelámos ao assessor do Presidente para os direitos humanos”, disse o director do museu, Roman Romanov, citado pela Reuters.

Nos últimos meses, centenas de russos têm pedido ajuda ao Museu de História do Gulag para obter informações oficiais sobre familiares vítimas das purgas, disse Romanov.

“Se dizem a uma pessoa que o registo foi destruído e que já não existe mais informação, então é claro que é uma tragédia pessoal e uma perda de uma enorme quantidade de informação”, disse.

Romanov sublinhou que o caso de Magadan é o primeiro do género a ser conhecido e que, até ao momento, todos os pedidos de consulta de informação foram bem-sucedidos.

Na sexta-feira, o ministro-adjunto do Interior, Igor Zubov, disse que não existe qualquer directiva relativa à destruição de arquivos do sistema Gulag e que o incidente de Magadan deve ser tratado como um caso isolado.

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