Deputados socialistas que são professores mantêm-se prudentes quanto ao conflito com o Governo

Não é fácil vestir a pele de deputado do PS quando se é também docente. Os que falam usam o argumento da sustentabilidade das contas públicas.

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Nelson Garrido

O conflito entre os professores e o Governo por causa da contagem do tempo de serviço congelado não deixa indiferentes os deputados socialistas que antes fizeram do ensino a sua carreira. E também não os deixa muito à vontade. Dos oito deputados professores (do ensino básico ao secundário) do grupo parlamentar, o PÚBLICO pediu um comentário a cinco, mas apenas dois se dispuseram a abordar o assunto. Palmira Maciel, professora de Biologia, eleita por Braga não quis falar; Rosa Albernaz, professora de História (deputada por Aveiro desde 1991), e Santinho Pacheco (eleito pela Guarda) que está aposentado como professor, dizem estar longe da sala de aulas há décadas. “Não me meta por esse caminho…”, pediu Santinho Pacheco, resumindo numa gargalhada o incómodo de outros deputados.

Já João Azevedo Castro (eleito pelos Açores) e Maria Augusta Santos (eleita pelo círculo de Braga), ambos estreantes nesta legislatura, preferem vestir um casaco de moderação. O primeiro não dá aulas há 20 anos e, por isso, os cortes que sofreu no vencimento foram já em funções políticas nos Açores, mas assume-se “professor a sério”. “Não sou deputado; estou deputado e sou professor”, vinca, realçando ser também filho de professores. É por isso que diz que a sua classe deve recuperar o tempo congelado “na medida em que o país o consiga suportar e em igualdade de circunstâncias com os outros profissionais”.

É justo que todos os professores desejem recuperar esse tempo – “eu incluído” -, admite o açoriano, mas acrescenta ser preciso “ponderação e equilíbrio, a começar pelos professores”. Ou seja, a sua posição de princípio é que “todo o tempo” seja contabilizado, mas “tem que lhe estar inerente o equilíbrio das contas públicas”. As centenas de milhões de euros envolvidas “obrigam a um cuidado adicional”. Por isso, o professor João Castro, que não é sindicalizado, pede que os restantes professores “se sentem à mesa das negociações e lutem pelo que acreditam”, mas com uma “visão de cidadania”.

Por seu lado, a deputada Maria Augusta Santos também podia pôr ao peito o crachá a dizer “9 anos, 4 meses, 2 dias”. O seu tempo de serviço esteve congelado e o relógio só “voltou a contar a 1 de Janeiro”.  Mas nem isso a faz hesitar na defesa incondicional da política educativa deste Governo e diz que a equipa de António Costa tem tentado “resolver de uma forma responsável” alguns “problemas que se arrastam há anos”. Mas que é preciso arranjar soluções “sustentáveis”, para que daqui a pouco tempo não seja preciso “repetir soluções” drásticas.

Apesar de ter sentido na carteira o congelamento da carreira e os cortes de ordenado até 2015, afirma que o descongelamento de Janeiro “veio já repor alguma justiça” e cumprir a “promessa do PS”, e muitos professores vão continuar a senti-lo progressivamente. “Sabem que agora o tempo está a contar. Não se pode fazer tudo ao mesmo tempo”, defende. Licenciada em Geografia, professora há 40 anos, diz “conhecer bem a realidade das escolas” e acredita que, apesar da posição de força dos sindicatos, estes “têm consciência do caminho que já foi feito até agora de valorização da escola pública, de professores, alunos e do resto comunidade”. “As negociações e as portas não estão fechadas”, insiste. “Sei que os sindicatos e o Governo vão chegar a afinar posições, porque não há outro remédio.”

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