Acesso a dados por telemóveis põe novo escrutínio a pairar sobre o Facebook

Permissão de fabricantes para acederem a informação dos utilizadores está a granjear críticas na Europa e nos EUA.

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A empresa liderada por Mark Zuckerberg regressou rapidamente ao centro das atenções Reuters/FRANCOIS LENOIR

A notícia de que o Facebook deu a dezenas de fabricantes de telemóveis acesso privilegiado a dados dos utilizadores está a motivar comentários críticos por parte de legisladores e autoridades dos dois lados do Atlântico. As declarações deixam antecipar novas acções de escrutínio sobre a empresa, num caso que pode vir a tornar-se numa sequela do escândalo da consultora Cambridge Analytica.

Na Europa, a presidente do Comité Europeu para a Protecção de Dados, Andrea Jelinekm, adiantou que este organismo tem intenção de analisar a informação que foi avançada neste fim-de-semana pelo jornal The New York Times. O comité é responsável por assegurar a aplicação do novo regulamento de protecção de dados da União Europeia, que traz regras apertadas de privacidade. Por seu lado, o responsável pela autoridade de protecção de dados alemã, Johannes Caspar, classificou a notícia como “absolutamente alarmante” e “uma violação sem precedentes das leis de privacidade e da confiança dos utilizadores”, de acordo com declarações citadas pela imprensa internacional.

Este novo caso tem paralelos com a descoberta, em Março, de que a consultora Cambridge Analytica tinha tido acesso indevido a informação de 87 milhões de utilizadores, através de uma aplicação para o Facebook criada por um académico. A revelação foi um dos principais motivos por que Zuckerberg foi ouvido em Abril no Congresso americano e, em Maio, numa curta sessão no Parlamento Europeu.

Do outro lado do Atlântico, vários congressistas americanos – alguns dos quais questionaram Mark Zuckerberg em Abril – também fizeram declarações nas quais mostraram preocupação com as práticas da rede social.

“Parece mesmo que Zuckerberg mentiu ao Congresso sobre os utilizadores terem ‘controlo completo’ sobre quem vê os dados no Facebook. Isto tem de ser investigado”, escreveu, no Twitter, o congressista David Cicilline. “As novas revelações de que o Facebook deu acesso à informação pessoal dos utilizadores, incluindo religião, preferências políticas e estado civil, a dezenas de fabricantes de dispositivos móveis, sem o consentimento explícito dos utilizadores, são profundamente preocupantes”, afirmaram, numa carta, outros dois congressistas, Edward Markey e Richard Blumenthal. Já um senador do Comité do Comércio, John Thune, adiantou que vai escrever à empresa a pedir esclarecimentos.

O New York Times revelou esta semana que o Facebook teve, ao longo de uma década, parcerias com pelo menos 60 fabricantes de telemóveis e outros dispositivos, entre os quais empresas como a Apple, Samsung, Amazon, BlackBerry e Microsoft. O objectivo era dar a estas empresas uma forma directa de acesso aos dados, para que pudessem incorporar funcionalidades do Facebook nos seus aparelhos, numa altura em que a aplicação da rede social ainda não se tinha massificado. O Facebook permitia que acedessem a dados dos utilizadores mesmo quando estes tinham dito que não pretendiam que esta informação fosse partilhada com aplicações de terceiros – a questão é que a rede social tratava estes parceiros de forma diferente de criadores de aplicações como jogos ou questionários, dando-lhes uma maior capacidade de acesso.

O Facebook reconheceu as parcerias (muitas das quais já foram canceladas), mas disse discordar das conclusões do jornal. Garantiu que foram cumpridas regras apertadas e afirmou não ter conhecimento de que nenhuma daquelas empresas tenha cometido abusos.

Quem também aproveitou o caso foi o presidente da Apple, Tim Cook, que há dois meses se tinha envolvido numa discussão com Mark Zuckerberg sobre privacidade. Numa entrevista à estação televisiva CNN, Cook afirmou agora que a privacidade "é um direito humano fundamental" e lembrou que a Apple não precisa de criar perfis detalhados dos utilizadores.

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