Petição para revisão da Lei de Bases da Saúde só deve ir a plenário na próxima sessão legislativa

Atraso pode ser “legitimamente confundido com uma falta de vontade política de que este assunto seja decidido nesta legislatura”, dizem promotores da iniciativa. Relator da petição diz que está a finalizar o relatório mas duvida que seja apresentada aos deputados ainda nesta sessão legislativa.

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Num documento com data de 28 de Maio, o grupo que promoveu a petição que pede a revisão da Lei de Bases da Saúde critica a “demora” em apresentá-la em plenário aos deputados da Assembleia da República.

“Tendo sido [a petição] presente à Assembleia da República vai para cinco meses, e tendo reunido à volta de cinco mil assinaturas, começa a estranhar-se que o processo de gestão interna da petição esteja parado, sem indícios de que seja apresentado no plenário, como é obrigatório e expectável”, pode ler-se no documento.

“Esta demora justifica todas as suspeitas, entre as quais a escolha do momento político mais favorável à tutela do sector, contrariando a separação de poderes constitucionalmente consagrada”, acrescentam os 54 signatários — como Marisa Matias, Helena Roseta e Ricardo Sá Fernandes. Este “atraso”, dizem, pode ser “legitimamente confundido com uma falta de vontade política de que este assunto seja decidido nesta legislatura”.

O relator encarregue da petição e deputado do partido socialista, António Sales, garante ao PÚBLICO que o relatório sobre o documento está “praticamente terminado” e que será apresentado à Comissão de Saúde, no máximo, dentro de três semanas. Aí, será votado e só depois apresentado ao plenário. “Duvido que suba a plenário ainda nesta sessão legislativa”, avança António Sales.

O deputado socialista sublinha que o processo está a decorrer “dentro dos prazos” habituais. E defende que “não deve haver pressa” na preparação da lei.

Cipriano Justo, responsável pela apresentação da petição e um dos signatários do documento que os próprios intitulam como um tributo a António Arnaut, sublinha que depois de uma audição na Comissão de Saúde a 22 de Março, há um “silêncio absoluto sobre a petição”.

O médico e professor explica que o documento é uma homenagem ao "pai" do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em que os signatários adoptam “uma posição política”. António Arnaut, que faleceu recentemente, foi um dos primeiros a assinar a petição. Juntamente com João Semedo, escreveu Salvar o SNS livro no qual defendem a criação de uma nova Lei de Bases da Saúde que permita mudar o actual paradigma e acabar com a “promiscuidade” entre o interesse público e o privado: fim das taxas moderadoras no SNS e das parcerias público-privadas.

BE apressa discussão 

Esta segunda-feira, o Bloco de Esquerda anunciou o agendamento do debate sobre a nova Lei de Bases da Saúde para o dia 22 de Junho, avisando que tem de ser aprovada agora na generalidade para poder avançar nesta legislatura. A iniciativa do BE não “invalida a apresentação da petição” aos deputados, sublinha Cipriano Justo.

O anteprojecto que dará agora entrada no Parlamento tem algumas alterações em relação à proposta inicial que tinha sido apresentada publicamente em Abril. Nesta nova versão é reforçada a responsabilidade do Estado na formação especializada dos médicos, assim como o direito dos profissionais que trabalham no SNS têm à carreira e à consequente progressão nesta, tal como a petição propõe.

O BE acrescenta ainda um novo ponto do artigo dedicado às convenções, referindo que estas “apenas podem ter lugar quando e enquanto o SNS não tiver comprovadamente capacidade para prestar um determinado cuidado de saúde em tempo útil, sendo a actividade do convencionado meramente supletiva".

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