A polémica do hino regressa ao campo da NFL e Trump cancela encontro com os Philadelphia Eagles

Grande parte dos membros da equipa de futebol americano recusou ir à Casa Branca em protesto contra o Presidente dos EUA. Mas Trump considerou que jogadores o fizeram por causa do hino, reavivando a polémica de Setembro passado.

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O Presidente dos EUA, Donald Trump OLIVIER DOULIERY/LUSA

A menos de 24 horas do encontro marcado entre Donald Trump, e os jogadores da equipa Philadelphia Eagles, consagrados campeões da NFL (liga desportiva profissional de futebol americano) deste ano, o Presidente norte-americano cancelou o evento, face ao reduzido número de jogadores que mostrou intenções de aparecer. Para Trump, isso mostra que os jogadores discordam dele porque “insiste que eles se devem manter em pé durante o hino nacional”.

Na semana passada estava previsto que cerca de 70 membros da equipa fossem visitar Donald Trump, mas esse número baixou para menos de dez na segunda-feira, refere o New York Times. Alguns dos jogadores mais conhecidos dos Eagles, como Chris Long e Malcolm Jenkins, já tinham anunciado que não participariam no evento em protesto contra o Presidente.

Os protestos durante o hino nacional em partidas de futebol americano começaram com o jogador Colin Kaepernick, ainda em 2016, com o intuito de denunciar a violência policial contra cidadãos afro-americanos e a injustiça racial: “Não me vou levantar para mostrar orgulho por uma bandeira de um país que oprime negros e pessoas de cor”, afirmava o jogador que era quarterback dos San Francisco 49ers.

polémica viria a estalar em Setembro do ano passado quando vários jogadores se ajoelhavam durante o hino, o que levou Trump a insultá-los, chamando-lhes “filhos da mãe”, ameaçando que seriam “despedidos” dos seus clubes. A disputa parecia já ir longe, mas foi reavivada no mês passado, a 23 de Maio, quando a NFL anunciou que iria multar os atletas que se ajoelhassem durante o hino, obrigando-os a permanecer de pé enquanto toca o Star-Spangled Banner — em alternativa, podem permanecer no balneário. Agora, o tema volta à baila com as declarações de Trump.

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Jogadores dos Philadelphia Eagles no jogo da Super Bowl CRAIG LASSIG/LUSA

Ainda que nenhum dos jogadores dos Philadelphia Eagles se tenha ajoelhado durante o campeonato Super Bowl, os jogadores Malcolm Jenkins e Rodney McLeod ergueram por várias vezes o punho cerrado durante o hino, num gesto contra as injustiças sociais.

“Eles discordam do Presidente porque ele insiste que eles devem manter-se em pé durante o hino nacional, com a mão ao peito, em honra dos grandes homens e mulheres do nosso serviço militar e das pessoas deste país”, afirma Trump num comunicado divulgado pela Casa Branca nesta segunda-feira. O antigo jogador dos Eagles, Torrey Smith, afirmou no Twitter que Trump “continua a espalhar a falsa narrativa de que os jogadores são contra as forças militares”.

Uma celebração patriótica

“Ficar no balneário enquanto toca o hino nacional é tão desrespeitoso quanto ajoelhar-se”, comentou ainda Trump. A intenção do líder norte-americano era fazer uma celebração “patriótica” que realçasse a importância do hino e de permanecer de pé enquanto é tocado, “com orgulho”.

Ainda que o evento tenha sido cancelado – o pequeno grupo de jogadores era insatisfatório para Trump, diz o Washington Post –, o Presidente dos EUA referiu em comunicado que os adeptos da equipa seriam bem-vindos à Casa Branca para “um tipo de cerimónia diferente”. Isto é, “uma [cerimónia] que honre o nosso grande país, que preste tributo aos heróis que lutam para o proteger, e que tocam o hino nacional de forma orgulhosa, em alto e bom som”.

Com cada vez mais gente a mostrar-se contra os protestos e com a queda da popularidade dos jogos do campeonato de futebol americano, Trump apercebeu-se que poderia utilizar a discussão em torno do hino a seu favor, como propaganda política. A NFL começou por apoiar os jogadores, referindo que tinham direito a manifestar-se, mas acabou por vir a proibir os protestos – num acto de “submissão”, considera o antigo assistente do Presidente norte-americano, Sam Nunberg, ouvido pelo Washington Post. “É uma jogada esperta da sua parte [de Trump] porque abre as portas da Casa Branca aos fãs enquanto a discussão continua a ser sobre o hino nacional”.

Já os opositores de Trump acreditam que faz sentido que os jogadores negros não queiram visitar a Casa Branca quando o Presidente for um homem com um historial de comentários polémicos tingidos de racismo, como a designação de “países merdosos” que usou para o Haiti e países africanos, ou os seus comentários recorrentes contra  imigrantes sem documentos.

“Não é difícil perceber a razão pela qual os jogadores negros não querem ir e apertar a mão ou passar o dia com alguém que apresentou desculpas para os supremacistas brancos de Charlottesville e que atacou os seus colegas de equipa”, explica o director da associação Color of Change, Rashad Robinson, que se tem mostrado a favor dos jogadores em protesto.

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O jogador Colin Kaepernick (ao centro), ajoelhado em sinal de protesto JOHN G MABANGLO/LUSA

Depois da decisão de Trump, a equipa limitou-se a publicar uma mensagem no Twitter em que diz ser uma “inspiração” ver a comunidade de adeptos reunida, agradecendo-lhes todo o apoio recebido ao longo da temporada.

Já no ano passado – ainda antes dos episódios relacionados com o hino – a visita dos campeões da NFL à Casa Branca foi boicotada por alguns elementos dos New England Patriots, vencedores do campeonato em 2017, havendo quem alegasse motivações políticas. Mais tarde, em Setembro, Trump viria a retirar o convite para visitar a Casa Branca aos campeões da NBA (liga norte-americana de basquetebol), os Golden State Warriors: “Ir à Casa Branca é considerado uma grande honra para a equipa campeã. Stephen Curry [uma das estrelas da equipa] está a hesitar, portanto o convite está anulado”, dizia Trump no Twitter. A equipa disse que era “claro” que não eram bem-vindos na Casa Branca e lamentou que não tivessem tido a oportunidade de se expressarem livremente e de debater assuntos que consideravam ser relevantes.

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