Cecchinato lutou, rezou, ganhou e continua a sonhar

Primeira meia-final feminina 100% americana em Roland Garros desde 2002.

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EPA/GUILLAUME HORCAJUELO

Se alguém previsse que um tenista italiano iria estar nas meias-finais do torneio de Roland Garros pela primeira vez em 40 anos, a aposta mais segura seria em Fabio Fognini, eliminado na segunda-feira nos oitavos-de-final, ou talvez, no ainda mais veterano Andreas Seppi. Mas ninguém ousaria pensar em Marco Cecchinato, 72.º no ranking e sem uma única vitória em torneios do Grand Slam até há 10 dias. O italiano de 25 anos tem confirmado que o nível dos jogadores que frequentam o circuito secundário é elevado e que a determinação e querer são qualidades ainda maiores em alta competição. E depois de eliminar Pablo Carreño Busta (11.º) e David Goffin (9.º), teve força, física e mental, para derrotar, nesta terça-feira, Novak Djokovic (22.º), cujos 12 títulos no Grand Slam valem bem mais do que o ranking actual.

“Penso que vai mudar a minha vida. É muito especial, não sei porquê agora; trabalho muito com a minha equipa, estou muito focado em cada encontro, preparo-me todos os dias… penso que é essa a chave”, disse Cecchinato, que estabeleceu novos marcos em Grand Slams: é o jogador com o ranking mais baixo numa meia-final desde 2008 e o primeiro a chegar tão longe sem uma única vitória antes em majors desde 2003.

Talvez por já conhecer Djokovic, com quem já se treinou várias vezes, o italiano não acusou em demasia a importância do momento e ganhou o set inicial, por 6-3, após ceder somente cinco pontos nos jogos de serviço.

Djokovic recebeu assistência médica no pescoço, mas não conseguiu desbloquear o seu melhor ténis, embora tenha equilibrado o encontro. Depois de o árbitro português Carlos Ramos ter dado ao sérvio uma advertência por estar a receber instruções do treinador, Cecchinato anulou três set-points e forçou o tie-break, no qual liderou por 3/1, perdeu quatro pontos seguidos, antes de ganhar os quatro seguintes e vencer, por 7/4.

No terceiro set, tudo mudou e, quando pulou para 4-1, Djokovic assumiu o controlo do encontro. “Vamos deixar de falar, apenas rezar em silêncio”, soltou Cecchinato na direcção da sua equipa técnica, quando parecia dar indicações de estar a ficar sem energias.

Quando, no quarto set, Djokovic chegou a 5-2, muitos pensaram que o encontro tinha virado totalmente. Só que, quando o ex-número um mundial serviu a 5-3, cedeu o serviço e o italiano ressuscitou e forçou novo tie-break. No 24.º ponto e após salvar três set-points e desperdiçar três match-points, Cecchinato respondeu com uma esquerda ao longo que sobrevoou Djokovic e aterrou bem dentro. Estava consumada uma das maiores surpresas do torneio, traduzida nos parciais de 6-3, 7-6 (7/4), 1-6 e 7-6 (13/11).

Em contraste, o duelo entre Alexander Zverev (3.º) e Dominic Thiem (8.º) ficou-se pelas expectativas. Zverev magoou-se na coxa esquerda a meio do segundo set e o austríaco venceu, por 6-4, 6-2 e 6-1, em menos de duas horas. Para Cecchinato, o sonho ainda não acabou: “Quero acreditar que também posso vencer Dominic Thiem.”

Stephens contra Keys, confronto de amigas

No torneio feminino, é preciso recuar a 2002 para se rever duas norte-americanas a discutir entre si um lugar na final. Na altura, Serena Williams venceu Jennifer Capriati; na quinta-feira, Sloane Stephens defronta a amiga Madison Keys, numa reedição da final do último Open dos EUA. Um feito enorme para ambas que, há um ano, não puderam competir em Paris devido a lesões: Stephens magoada num pé, Keys submetida a uma segunda cirurgia ao pulso.

Keys (13.ª) sentiu dificuldades no set inicial, quando Yulia Putintseva (98.ª) serviu a 5-4, mas, após ganhar o tie-break, a norte-americana controlou até vencer, por 7-6 (7/5), 6-4.

Daria Kasatkina (14.ª) ainda conseguiu equilibrar o encontro com Stephens (10.ª) no início, quando recuperou de 1-4, mas falhou seis ocasiões para fazer o 4-4. E, a partir desse break, a campeã do Open dos EUA comandou até fechar, por 6-3, 6-1.

Independentemente do resultado da meia-final, já é certo que Stephens irá aparecer como número um dos EUA no próximo ranking WTA; desde 2007, só três norte-americanas tiveram esse estatuto: Serena (519 semanas), Venus Williams (67) e Bethanie Mattek-Sands (6).

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